Como reagiriam Ibovespa, dólar e juros em cenários com e sem Guedes e uma nova onda de Covid-19

Saída de Mansueto pegou o mercado de surpresa, e aumentou as incertezas sobre se Guedes pode também deixar o cargo em algum momento

Anderson Figo

O ministro da Economia, Paulo Guedes (Andressa Anholete/Getty Images)

SÃO PAULO — A notícia de que o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, deixará o governo nas próximas semanas pegou o mercado de surpresa. Ele é um dos nomes mais fortes na equipe de Paulo Guedes e sua saída aumentou as incertezas sobre se o próprio ministro da Economia pode também deixar o cargo em algum momento.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

“O secretário Mansueto é um dos principais especialistas na área fiscal do país, tem sido uma voz consistente e confiável sobre a necessidade de acelerar e aprofundar o ajuste fiscal, além de ter um bom relacionamento e reputação com as principais partes interessadas no Congresso, na mídia e entre os investidores”, destacou Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs.

“Em nossa avaliação, a saída do secretário Mansueto é uma grande perda para o governo Bolsonaro e a equipe econômica. O momento de sua partida também é inoportuno, dada a deterioração do quadro fiscal e a necessidade de pressionar por reformas e outras medidas para ancorar novamente a dinâmica da dívida”, completou.

Para Ramos, o lado positivo é que a saída de Mansueto “provavelmente não é um sinal de opiniões divergentes sobre políticas dentro da equipe econômica e, como tal, provavelmente não levará a uma grande mudança na orientação macroeconômica”.

Ele destacou que Guedes continuará sendo o principal formulador de políticas econômicas do governo Bolsonaro e deverá continuar a perseguir uma agenda liberal/reformista. Embora o ministro da Economia tenha afastado a hipótese de deixar o governo neste momento, essa é uma possibilidade que está nas projeções de cenários mais drásticos das instituições financeiras para os próximos meses.

A pedido do InfoMoney, estrategistas de quatro casas fizeram estimativas para o principal índice da Bolsa brasileira, o Ibovespa, para o dólar e para a taxa básica de juros, a Selic, até o fim de 2020. Elas levaram em consideração quatro cenários. No primeiro, Paulo Guedes fica no governo e não há uma segunda onda global de contaminação pela Covid-19.

No segundo, Guedes fica no governo, mas há uma segunda onda de contaminação global pela Covid-19. Já o terceiro e o quarto cenários consideram a saída do ministro da Economia do governo, com e sem uma segunda onda de contágio do coronavírus no mundo.

As instituições financeiras que enviaram suas projeções foram a XP Investimentos, a Warren, a Genial Investimentos e a Gauss Capital. As projeções individuais de cada casa não serão divulgadas, mas sim um intervalo que aponta a menor e a maior estimativa entre todas as que foram enviadas pelos participantes para cada cenário. Veja o resultado abaixo.

CENÁRIO 01 Guedes fica, e não há uma segunda onda de contaminação do coronavírus
O que acontece com o Ibovespa? Pontuação oscila de 85.000 pontos a 120.000 pontos
O que acontece com o dólar? Moeda oscila de R$ 4,50 a R$ 5,20
O que acontece com os juros? Selic entre 2% ao ano e 2,25% ao ano
CENÁRIO 02 Guedes fica, mas há uma segunda onda de contaminação do coronavírus
O que acontece com o Ibovespa? Pontuação oscila de 70.000 pontos a 105.000 pontos
O que acontece com o dólar? Moeda oscila de R$ 5,00 a R$ 6,00
O que acontece com os juros? Selic entre 1% ao ano e 2,25% ao ano
CENÁRIO 03 Guedes sai, mas não há uma segunda onda de contaminação do coronavírus
O que acontece com o Ibovespa? Pontuação oscila de 60.000 pontos a 110.000 pontos
O que acontece com o dólar? Moeda oscila de R$ 5,30 a R$ 6,50
O que acontece com os juros? Selic entre 2% ao ano e 3,50% ao ano
CENÁRIO 04 Guedes sai, e há uma segunda onda de contaminação do coronavírus
O que acontece com o Ibovespa? Pontuação oscila de 54.000 pontos a 90.000 pontos
O que acontece com o dólar? Moeda oscila de R$ 5,50 a R$ 7,00
O que acontece com os juros? Selic entre zero e 2,50% ao ano

No cenário um, com Guedes no governo e sem uma segunda onda de Covid-19, o Ibovespa pode chegar aos 120.000 pontos até dezembro. “A questão principal do Ibovespa vai ser determinada pelos resultados financeiros das empresas no segundo trimestre. No momento a expectativa está positiva com relação às perdas e solidez das empresas. No entanto, só teremos de fato maior informação a partir dos resultados do segundo semestre, período de maior impacto da pandemia”, disse a Warren.

Para o dólar, as projeções apontam uma taxa de câmbio entre R$ 4,50 e R$ 5,20 no primeiro cenário. Já para a Selic, ela deve ficar entre 2% e 2,25% ao ano, segundo as avaliações. Atualmente, a taxa está em 3% ao ano e o Banco Central vai decidir amanhã se ela continua nesse patamar ou se cai novamente.

No cenário dois, com Guedes no governo e uma segunda onda global de Covid-19, as projeções para o Ibovespa caem para uma máxima de 105.000 pontos em 2020. “Com Paulo Guedes, há maior probabilidade de sustentabilidade fiscal ao longo dos próximos anos. Menor incerteza e maior crescimento potencial”, disse a equipe de macro da Genial. “Uma segunda onda deve interromper a volta do crescimento econômico no segundo semestre.”

As projeções do cenário dois para o dólar apontam uma taxa de câmbio entre R$ 5,00 e R$ 6,00 até dezembro, enquanto a Selic pode terminar 2020 entre 1% e 1,25% ao ano. “Neste caso, a nova desaceleração global vai pesar sobre o Ibovespa e o câmbio, forçando o Banco Central a cortar mais os juros para estimular a economia”, destacou a XP.

Já no cenário três, que considera a saída de Guedes, mas sem uma segunda onda de Covid-19, as projeções para o Ibovespa chegam a 60.000 pontos em dezembro — bem abaixo do atual patamar, na casa dos 93.800 pontos. Para o dólar, as estimativas sob essas condições sugerem uma taxa de câmbio entre R$ 5,30 e R$ 6,50, enquanto que a Selic poderia terminar 2020 entre 2% e 3,50% ao ano.

“Nesse cenário, um fator importante será o novo ministro da Economia. Diante de uma maior expansão das políticas fiscais, nesse momento, o Ibovespa pode vir a subir mais. Isso está ligado a que tipo de política econômica será feita pelo novo ministro. Caso não seja um ministro aceito pelo mercado, o efeito pode ser bem negativo”, destacou a Warren.

“A instabilidade política seria ampliada, podendo causar saída de capital externo na expectativa de uma piora da economia brasileira”, completou. Sobre os juros, a explicação de ele continuar dentro do patamar atual seria a “pressão sobre a taxa de juros estrutural”.

No cenário mais drástico, e o que tem a menor probabilidade de acontecer segundo todos os participantes, o Ibovespa poderia terminar dezembro entre 54.000 pontos e 90.000 pontos. Mesmo a maior projeção é menor do que o atual patamar do índice. Este cenário considera tanto a saída de Guedes quanto a existência de uma segunda onda global de Covid-19.

“O mercado voltaria a testar mínimas e o câmbio renovaria suas máximas, enquanto o Banco Central teria que cortar os juros ainda mais para estimular a economia”, destacou a XP. As projeções para o câmbio no cenário quatro, o mais drástico, é de uma taxa entre R$ 5,50 e R$ 7,00 em dezembro, enquanto a Selic poderia ficar entre zero e 2,50% ao ano, de acordo com os estrategistas.

“Esse seria o pior cenário no momento. Instabilidade política associada a mais choques decorrentes da pandemia. Nesse cenário, existe a possibilidade ainda maior de saída de capital estrangeiro, ampliando o efeito dos choques de oferta e demanda. O preço dos ativos cairia, tanto decorrente dos efeitos sobre a saúde financeira das empresas, quanto da saída de capital estrangeiro do Ibovespa. O índice poderia retornar às baixas de 23 de março”, disse a Warren.

“O aumento da incerteza ampliaria a saída de capital externo por dois fatores, exercendo uma forte pressão sobre a taxa de câmbio. Nesse cenário, e com efeitos mais persistentes da pandemia, é possível a busca de uma taxa de juros ainda menor”, concluiu.

Invista na carreira mais promissora dos próximos 10 anos: aprenda a trabalhar no mercado financeiro em um curso gratuito do InfoMoney!

Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.