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Em um ambiente global marcado por incertezas econômicas, conflitos geopolíticos persistentes e mudanças relevantes na política monetária das principais economias, o ouro consolidou seu papel como ativo de proteção em 2025 e entregou um desempenho muito acima dos principais índices de ações globais.
Segundo Pablo Spyer, conselheiro da ANCORD, a forte valorização do ouro ao longo do ano foi impulsionada por fatores estruturais e bem definidos. “O ano de 2025 foi emblemático para o ouro, marcado por uma sequência de recordes históricos impulsionados por fatores bastante claros e combinados”, afirma.
Para ele, o principal vetor desse movimento foi a atuação dos bancos centrais, que intensificaram as compras do metal como forma de diversificar reservas e reduzir a dependência do dólar, em um cenário de crescente fragmentação geopolítica.
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Além disso, a demanda física permaneceu robusta, especialmente na Ásia, enquanto o ambiente macroeconômico global reforçou o papel do ouro como reserva de valor. “O início do ciclo de cortes de juros nas principais economias reduziu o custo de carrego do metal e aumentou a atratividade dos ativos reais em relação à renda fixa”, explica Spyer.
A combinação desses fatores levou o ouro a ser negociado próximo de US$ 4.220 por onça troy, cerca de 60% acima do nível observado no início de 2025. “Esse movimento reforçou o ouro como um dos ativos mais relevantes do ano no cenário internacional”, destaca o conselheiro da ANCORD.
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No mercado doméstico, o desempenho também foi expressivo. De acordo com Caio Mitsuo, especialista em investimentos e MBA em Finanças pela FBNF, a valorização do ouro no Brasil se aproximou de 65% até meados de dezembro. “Assim como em 2024, o ouro foi destaque em performance aqui dentro do mercado doméstico, além de figurar entre os melhores desempenhos globais dos últimos 30 anos”, afirma.
Mitsuo explica que, no primeiro trimestre, mesmo com o Federal Reserve mantendo os juros entre 4,25% e 4,50%, as expectativas de cortes e a redução dos juros reais favoreceram o metal. No segundo trimestre, o cenário geopolítico ganhou protagonismo. “Tivemos uma escalada relevante de conflitos, como Rússia e Ucrânia, Índia e Paquistão e Israel e Irã, o que pressionou o petróleo e aumentou o receio com a inflação global”, observa.
Já no terceiro trimestre, a alta ganhou força com a compra massiva de ouro pelos bancos centrais e o primeiro corte de juros pelo Fed. No último trimestre, ainda em andamento, a preocupação passou a ser fiscal. “Alguns países já têm dívidas consideradas praticamente impagáveis, e a inflação volta a ser o principal risco. O ouro, historicamente, é uma proteção contra esse cenário”, afirma Mitsuo, lembrando que o metal chegou a operar próximo de US$ 4.300.
Leonardo Santana, especialista em investimentos e sócio da casa de análise Top Gain, ressalta que o ciclo de valorização do ouro começou antes de 2025. “Esse movimento teve início ainda em 2022, coincidentemente ou não com o começo da guerra entre Rússia e Ucrânia”, afirma. Desde então, segundo ele, o mercado passou a adotar um posicionamento fortemente comprador, reforçado pelos conflitos no Oriente Médio e, mais recentemente, pelo avanço dos cortes de juros nos Estados Unidos, que enfraqueceram o dólar.
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Perspectivas para 2026
Para 2026, a avaliação dos especialistas segue majoritariamente positiva, embora com espaço para ajustes no curto prazo. Spyer acredita na continuidade do movimento. “O conjunto de incertezas globais, riscos fiscais elevados e atuação dos bancos centrais ainda sustenta a busca por ouro como preservação de capital”, afirma.
Mitsuo destaca que o comportamento dos juros americanos será decisivo. “Ainda vemos espaço para mais cortes de juros em 2026, mas a dificuldade do Fed em controlar a inflação pode manter os juros em patamares mais elevados”, avalia.
Segundo ele, esse cenário pode favorecer tanto o dólar quanto o ouro, dois dos principais ativos de proteção do mercado global. “Casas como o JPMorgan já falam em ouro a US$ 5.000, e eu concordo com esse patamar”, diz.
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Leonardo Santana, por sua vez, pondera que correções são naturais após uma valorização tão intensa. “Correções saudáveis devem acontecer, mas o ouro nunca decepcionou como commodity de proteção”, afirma. Ele ressalta ainda o papel da China. “Os dados mostram compras consistentes de ouro pelo governo chinês, mês após mês, o que dá sustentação à tendência para 2026”.
