Como ficarão as mineradoras de Bitcoin após ações afundarem até 99% em 2022?

Segundo especialista, mineradoras deverão rever estratégia de segurar a criptomoeda nos cofres

CoinDesk

Fazenda de mineração de criptomoedas na Rússia: os governos estão de olho em 2022 (Foto: Andrey Rudakov/Bloomberg via Getty Images)

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*Por George Kaloudis

As mineradoras de Bitcoin (BTC) passaram por uma tormenta em 2022. O aumento das taxas de juros elevou o custo do capital, a mineração de criptomoedas tornou-se menos lucrativa enquanto o poder computacional insistia em subir e o preço do BTC caía, e as estratégias de tesouraria das empresas do setor falharam.

O resultado de toda essa tempestade aparece nos preços das ações das cinco maiores mineradoras de capital aberto, termos em pode de processamento dedicado à verificação de dados da rede do BTC.

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Em 2022, o tombo foi feio para Core Scientific (CORZ), Riot Blockchain (RIOT), Bitfarms (BITF), Iris Energy (IREN) e CleanSpark (CLSK), cujos papeis desabaram 99%, 85%, 91%, 92% e 79%, respectivamente.

Mas calma, isso não significa que o Bitcoin está morto ou que a principal criptomoeda do mercado perderá todo seu valor. Nem significa que as mineradoras de capital aberto irão desaparecer.

O que isso significa, na verdade, é que estamos passando por um período de reestruturação e racionalização que deixará o setor de mineração melhor do que antes.

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Erros do passado

Nos últimos anos, algumas mineradoras preferiram guardar o Bitcoin minerado, optando por financiar operações com dívidas e outros capitais. Isso funciona muito bem quando duas coisas são verdadeiras:

  1. O preço do Bitcoin está subindo
  2. O custo de capital é barato

Desse modo, a quantidade de pessoas interessadas na criptomoeda se mantém alta e atrai investidores em busca de maximizar retornos.

Esses dois pontos  foram verdadeiros nos últimos dois anos. Tivemos uma situação muito estranha em que as empresas de mineração de BTC não estavam explicitamente ganhando dinheiro minerando o criptoativo. Em vez disso, elas estavam ganhando dinheiro financiando a atividade.

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Em teoria, uma empresa de mineração de BTC ganha dinheiro assim: usando máquinas especializadas que mineram BTC, ela vende uma parte das criptos obtidas como recompensa para pagar as despesas necessárias para administrar o negócio.

Mas, no excêntrico mundo cripto, uma companhia do setor ganha dinheiro assim: ela tem equipamentos que mineram BTC e obtém capital dos mercados de dívida ou ações para pagar as despesas necessárias para administrar o negócio – e, por isso, não precisa vender a criptomoeda obtida na operação.

Não estou dizendo que as empresas fazem exatamente isso, mas existem mineradoras que colocaram todo o Bitcoin extraído nos últimos 26 meses em seu balanço, em vez de vender qualquer parte dele para pagar pelas operações – a Marathon Digital é um dos exemplos.

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Para mim, isso não faz o menor sentido. Eu defendo a ideia de que as empresas devem se esforçar para funcionar com uma preocupação permanente de longo prazo – sem depender dos mercados de capitais – e ganhar dinheiro com a atividade. Caso contrário, esse negócio não deveria existir.

Então, quando o mundo chega ao ponto em que 1) o valor do Bitcoin está caindo, 2) o custo do capital está subindo e 3) a mineração de BTC está ficando mais competitiva; a matemática simplesmente não bate e o setor sente o baque.

Isso foi justamente o que aconteceu em 2022, gerando a falência da Core Scientific, uma reestruturação completa e infusão de capital para salvar a Argo da falência, além da renúncia do CEO da Bitfarms.

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Possíveis caminhos

E agora? Sabemos que as empresas de mineração de capital aberto estão lutando, mas em meio a todo o pessimismo há (é claro) razão para otimismo.

Em teoria, as mineradoras irão minerar quando for lucrativo e não irão minerar quando não for lucrativo. As máquinas que essas empresas operam podem ser desligadas e ligadas facilmente.

Mas, na prática, as mineradoras não estão fechando ou ajustando suas operações com base nos movimentos diários de preço do Bitcoin ou da eletricidade.

Em vez disso, elas mineram consistentemente em meio às oscilações do mercado. E, por causa disso, há a necessidade de praticar algum tipo de estratégia de gestão de tesouraria que vá além de guardar todo o Bitcoin minerado.

A estratégia envolveria algum tipo de troca consistente de uma parte do BTC extraído para financiar as operações. Porque, eventualmente, o preço da moeda digital pode começar a cair ou o preço da eletricidade pode começar a subir. Ou ambos.

Os investidores valorizam tanto a previsibilidade dos fluxos de caixa quanto o potencial de valorização ascendente. As empresas de capital aberto de mineração de Bitcoin têm o último em abundância, mas o primeiro está em falta. Uma solução adequada de gestão de tesouraria deve antecipar e mitigar a desigualdade de lucratividade associada aos mercados que governam a indústria de mineração.

Essa estratégia não permitiria que uma empresa de mineração guardasse o máximo de BTC possível para vender a um valor elevado durante uma alta de preços, mas permitiria que o negócio lidasse com mais facilidade com o estresse do mercado.

Portanto, aconteça o que acontecer agora, pelo menos devemos esperar que as empresas sobreviventes façam algum tipo de mudança.

Acho que as companhias de capital aberto do setor revisitarão sua estratégia de “guardar todo o Bitcoin extraído” e isso deve deixá-las em melhores condições para prosperar no futuro – supondo, é claro, que as mineradoras aprendam alguma coisa com a crise atual.

*George Kaloudis é analista da CoinDesk Research

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CoinDesk é a plataforma de conteúdos e informações sobre criptomoedas mais influente do mundo, e agora parceira exclusiva do InfoMoney no Brasil: twitter.com/CoinDeskBrasil