Como Carlos Ghosn conseguiu esconder US$ 70 milhões que recebeu?

Ex-CEO brasileiro da Renault-Nissan foi preso no último dia 19 por fraude fiscal

Bloomberg

Carlos Ghosn: ex-execuivo da Nissan (Shutterstock)

Publicidade

Como um dos funcionários com mais visibilidade do mundo conseguiu esconder US$ 70 milhões em salários e benefícios que recebeu de uma das maiores empresas do mundo, sem que a empresa soubesse disso?

Duas semanas após Carlos Ghosn ter sido preso pelos promotores de Tóquio por supostamente ter declarado uma remuneração inferior à que recebia, essa pergunta continua sem resposta. O que é certo é que as próprias regras de governança corporativa da Nissan Motor deram poderes incomuns ao seu ex-presidente, uma celebridade empresarial que recebia deferências extraordinárias por ter resgatado a montadora da ruína financeira. Essas faculdades incluíam um poder de decisão quase total sobre quanto — e como — ele recebia, de acordo com as próprias regras internas da Nissan.

Várias pessoas a par do trabalho dos promotores dizem agora que a investigação parece depender de um ponto relativamente obscuro da contabilidade — se os pagamentos de aposentadoria foram registrados corretamente. Independentemente de se Ghosn infringiu ou não a lei de valores mobiliários do Japão informando números inexatos ao conselho da Nissan e a seus contadores (sobre isso, as acusações não foram comprovadas), o especialista em governança corporativa Jamie Allen diz que a grande pergunta é como alguém pode ter conseguido fazer algo assim.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

“Tudo se remonta à falta de controles internos”, disse Allen, diretor da Asian Corporate Governance Association, com sede em Hong Kong. “Se o conselho realmente não sabia que a informação de sua remuneração era inexata, isso não fala muito bem da governança. E se eles sabiam, deveriam assumir a responsabilidade coletiva pelo erro.”

Brigas

As brigas sobre remunerações foram uma constante para Ghosn quase desde o momento em que ele assumiu o cargo de diretor operacional da montadora japonesa, então em crise, em 1999. Desde o começo ele foi criticado por recompensar os gerentes seniores da Nissan pelo desempenho e não pela antiguidade.

Mais tarde, em 2010, quando as novas regras do Japão sobre a divulgação de renumeração dos executivos revelaram que Ghosn era o chefe mais bem pago do país, ele voltou a receber críticas. Os US$ 10 milhões que, segundo o que foi informado, ele ganhou naquele ano podem estar dentro dos padrões ocidentais, mas causaram irritação no Japão, onde o audacioso executivo franco-brasileiro embolsou seis vezes o que o presidente da Toyota Motor ganhou.

Parece agora que até esses números foram subestimados. O salário de Ghosn havia sido muito maior antes que a divulgação pública fosse exigida; para minimizar as críticas, foi elaborado um plano para diferir cerca de metade de seu salário anual até depois da aposentadoria, o que manteve os números fora dos livros, segundo pessoas a par da investigação.

Ghosn negou que tenham sido infringidas regras sobre compensação diferida, disseram pessoas com conhecimento direto do caso. Sua defesa é que o montante desse pagamento não era seguro e que, portanto, era apropriado omiti-lo dos registros de valores mobiliários, disseram. Ghosn não teve a oportunidade de responder publicamente porque está preso e a lei japonesa permite manter as pessoas presas por semanas sem acusações.

Invista seu dinheiro com a melhor corretora do Brasil: abra sua conta com taxa ZERO na XP Investimentos!