Como as ações brasileiras reagem historicamente às medidas de estímulo da China?

Medidas de estímulo têm um histórico de gerar efeitos positivos no mercado brasileiro, mas outros fatores também influenciam ações do país

Murilo Melo

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A China anunciou, entre setembro e outubro deste ano, uma série de medidas de estímulo em resposta à desaceleração de seu crescimento, que, segundo analistas do Santander, resulta de uma transição em seu modelo econômico. Essa mudança está se afastando de um enfoque tradicional em investimentos em infraestrutura e exportações, direcionando-se para um maior consumo interno.

O impacto dessa transição é palpável em setores que, por muito tempo, foram motores da economia chinesa, como o mercado imobiliário, que tem enfrentado dificuldades e minado a confiança dos investidores, conforme os analistas. As medidas de estímulo anunciadas pelo governo chinês abrangem o mercado de ações, o setor imobiliário e ações monetárias destinadas a revitalizar a economia. O objetivo, diz o Santander, é criar um ambiente propício à recuperação do crescimento e oferece suporte a mercados emergentes, como o Brasil.

Os estrategistas apontam que essas medidas de estímulo têm um histórico de gerar efeitos positivos no mercado brasileiro. A análise dos dados do MSCI China – índice que mede o desempenho das ações de empresas chinesas listadas em bolsas de valores de Hong Kong e da China continental – desde 2005 revela que, em cinco momentos de rali no mercado acionário chinês, três foram impulsionados por estímulos fiscais relevantes.

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Em relatório, o Santander lembra que o primeiro exemplo ocorreu em 2008, quando o governo chinês anunciou um pacote fiscal de aproximadamente 4 trilhões de yuans (RMB), buscando mitigar os efeitos da crise financeira global na economia chinesa. Em 2020, durante a pandemia de covid-19, foi implementado um novo pacote de estímulo no valor de RMB 4,9 trilhões.

Os analistas observam que durante esses ralis, os índices do mercado brasileiro, como o Ibovespa e o MSCI Brasil, frequentemente apresentaram resultados positivos. No entanto, afirmam que o índice de Materiais Básicos do Ibovespa destacou-se, refletindo o aumento nos preços das commodities, especialmente o minério de ferro, que teve um impacto direto no desempenho das ações de empresas brasileiras ligadas ao setor.

Desempenho negativo

Apesar do histórico de reações positivas, entre 2014 e 2015, mesmo com um rali no índice MSCI China, o Brasil vivenciou uma queda nos preços do petróleo e do minério de ferro. Essa situação foi agravada por um aumento na produção de minério de ferro e pelo crescimento da produção de petróleo de xisto nos Estados Unidos, segundo os estrategistas.

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A recusa da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opec) em cortar a oferta de petróleo também contribuiu para a queda dos preços. Esses fatores, diz o banco, levaram a uma crise econômica no Brasil, marcada pela desvalorização de ativos e por desequilíbrios fiscais que refletiram a fragilidade da economia brasileira. Durante esse período, o aumento na produção de minério de ferro, que cresceu 40%, e a diminuição nos preços do petróleo resultaram em um cenário complicado para o país.

Para os especialistas, o olhar para o futuro sugere que, embora a China possa anunciar um pacote de medidas fiscais nas próximas semanas, a situação fiscal do Brasil e o atual ciclo de aperto na política monetária podem limitar o desempenho do mercado acionário brasileiro. A análise indica que, a curto prazo, o ambiente de oferta de commodities deve permanecer estável, o que pode ajudar o Brasil a evitar o subdesempenho observado anteriormente entre 2014 e 2015.

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