Como a decisão do BCE desta quinta pode afetar o câmbio

Reunião de política monetária impactará o euro e pode servir de base para a decisão de juros do Federal Reserve na semana que vem

Ricardo Bomfim

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SÃO PAULO – A economia global está dando sinais de desaceleração, principalmente na Europa, onde já se fala em recessão na Alemanha neste trimestre. Com isso, era natural que a reunião do Banco Central Europeu (BCE) nesta quinta-feira (12) chamasse a atenção. A decisão está marcada para 8h45 (horário de Brasília).

Há ainda outros fatores que elevam a ansiedade antes do encontro. Os estrategistas Shahab Jalinoos, Alvise Marino, Günter Grimm, Daniel Chodos e Nimrod Mevorach, do Credit Suisse, escreveram em relatório que a reunião será o principal catalisador do movimento do euro contra o dólar. 

O consenso das estimativas do mercado aponta para um corte de 10 pontos-base na taxa de depósitos e um compromisso mais forte de se encaminharem compras mensais de 30 bilhões de euros em ativos por nove a 12 meses. 

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“Na nossa visão, uma conclusão largamente em linha com as expectativas causaria um rali do euro/dólar às máximas do fim de agosto, perto de 1,1170 para refletir a falta de um resultado mais agressivo”, destacam os analistas.

Todavia, caso o presidente da autoridade monetária, Mario Draghi, mantiver sua postura e entregar mais estímulo do que os mercados esperam, poderia haver um teste das mínimas deste mês em busca dos 1,08, conforme destaca o Credit Suisse. 

Essa possibilidade ficou mais distante recentemente após membros do BCE colocarem em dúvida a eficácia de se fazer um relaxamento monetário mais amplo. 

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A opinião deles não é isolada. Grandes economistas do mundo todo manifestam temores de que os bancos centrais estão no limite das políticas de estímulo monetário e restam cada vez menos ferramentas capazes de destravar a economia para países que convivem com atividade desaquecida e juros negativos ou próximos de 0%. 

Hoje, as taxas negativas custam 7,5 bilhões de euros por ano aos bancos na zona de moeda única europeia. 

Os analistas do Credit Suisse avaliam que um corte na taxa de depósito parece provável, mas introduzir o sistema de tiering, em que os bancos seriam em parte isentos de pagar a taxa de 0,4% anual pelos excessos de reservas, poderia ajudar as instituições financeiras alemãs a economizar 1,5 bilhão de euros por ano. 

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As reações do mercado em cada caso variam, mas é provável um aumento nos rendimentos dos títulos da dívida alemã. 

Uma outra consequência possível seria que com mais dinheiro circulando na mão dos investidores europeus, esse capital viesse para ativos de países emergentes, na busca por maiores rentabilidades.

Tudo depende, contudo, do que fará o banco central dos Estados Unidos, que se não cortar juros, pode atrair mais capital para o país, o que significaria valorização do dólar sobre o real. 

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Contágio no Fed

Em relatório, os analistas Thiago Salomão e Matheus Soares, da Rico Investimentos, afirmam que as sinalizações de Mario Draghi sobre a possibilidade de novos estímulos ou não podem ser um indicativo do que pode vir na quarta-feira que vem (18) na reunião do Federal Reserve.

A Bloomberg destacou em análise que é provável que o Fed reduza as taxas de juros dos EUA em 25 pontos-base pela segunda vez em 2019 na semana que vem, mas a medida pode ser injustificada segundo os dados econômicos do país. O próprio presidente do banco central americano, Jerome Powell, tem se mostrado dividido sobre a possibilidade de cortar taxas. 

“Embora as decisões de aumentar as taxas nove vezes entre 2015 e 2018 e fazer uma pausa no início deste ano tenham sido unânimes, dois diretores com direito a voto discordaram do corte de julho”, ressaltou a publicação.

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Já os analistas Chetan Ahya, Derrick Y Kam, Nora Wassermann e Frank Zhao, do Morgan Stanley, escreveram que o relaxamento monetário está ganhando força nos bancos centrais do mundo todo, mas só desapertar as taxas não é o bastante para levar as economias a uma recuperação sustentável se as tensões comerciais continuarem a ser o plano de fundo do cenário internacional. 

“Nesse ciclo, a guerra comercial entre Estados Unidos e China emergiu como o mais importante elemento de turbulência para a confiança das empresas e para a perspectiva de crescimento econômico”, expressa o banco. 

Para o Morgan Stanley, a expansão econômica global deve se manter fraca entre 2,6% e 2,8% ao ano até o segundo trimestre de 2020 antes dos efeitos das políticas monetárias mais dovish (favorável à redução de juros) impulsionarem uma retomada no terceiro trimestre do ano que vem. 

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Ou seja, além de olhar para o dólar, que pode se desvalorizar ou valorizar em relação ao euro dependendo de quão agressivo for o movimento do BCE para estimular a economia europeia, os investidores ainda precisarão verificar de que modo a decisão poderá influenciar o Fed na próxima semana. 

Ao contrário da reunião do BCE, que tem impacto mais indireto no mercado financeiro do Brasil, tudo o que é feito pelo Fed repercute imediatamente na Bolsa e no câmbio por aqui.

Não dá para ficar alheio aos próximos passos de Mario Draghi, que deixará o comando do BCE depois de oito anos à frente da instituição no dia 31 de outubro deste ano. 

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.