Comentário Semanal: crise fiscal europeia traz mais uma semana de queda às bolsas

Europa e agenda econômica têm caráter majoritariamente negativo e colocam referências corporativas em segundo plano

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SÃO PAULO – Em uma semana mais curta tanto em Wall Street (que não contou com pregão na segunda-feira por conta do feriado de Memorial Day) como no mercado brasileiro (fechado na quinta-feira devido ao feriado de Corpus Christi), o viés negativo das referências econômicas e dos desdobramentos da crise fiscal na Europa tiveram maior relevância do que o noticiário corporativo, que no geral pesou para o lado positivo. Assim, nos pregões de 31 de maio a 4 de junho as principais bolsas globais amargaram novamente perdas.

Ainda que com queda inferior à vista lá fora, o Ibovespa acumulou na semana desvalorização de 0,44% e ficou nos 61.675 pontos. Entre as ações de maior peso no índice, enquanto as ações preferenciais e ordinárias da Petrobras fecharam a primeira semana de junho com valorização acumulada de mais de 4%, os papéis da Vale ficaram no vermelho.

Entre as 66 ações que compõem atualmente a carteira teórica do índice, MMX e Fibria tiveram o pior desempenho. No outro extremo, e em reação ao agitado noticiário do setor de telecomunicações, que envolve a disputa pelo controle da Vivo e a proximidade da assembleia dos acionistas minoritários da Brasil Telecom para decidir sobre a relação de troca com as ações da Telemar Norte Leste, as ações ON da Telemar despontam como maior alta do Ibovespa no período.

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Noticiário
O noticiário vindo da Europa continuou a preocupar. Não bastassem as intervenções públicas nos bancos espanhóis e o corte no rating de quatro instituições financeiras do país pela Fitch, a Hungria se juntou ao time de países com declarada situação fiscal frágil.

Lajos Kosa, líder do partido Fidesz (que atualmente ocupa o governo húngaro), comparou a situação do país com a da Grécia. O governo húngaro prevê um déficit fiscal de até 7,5% do PIB em 2010.

O Canadá foi o primeiro país do G7 a elevar seu juro básico, que passou de 0,25% a 0,5% por ano. E por falar em juro, nos EUA falas de oficiais deram a entender que a elevação da Fed Funds Rate pode vir mais cedo do que o esperado.

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As principais montadoras do mundo divulgam seus dados referentes às vendas de automóveis dentro do mercado norte-americano em maio. Assim como foi visto no mês anterior, os números mostraram crescimento em relação ao mesmo período de 2009. 

Destaques corporativos
Depois de ter seus negócios suspensos na abertura do pregão na terça-feira, 
CSN explicou o ocorrido via comunicado, esclarecendo notícia veiculada no Valor Econômico sobre o requerimento de falência apresentado à justiça. A CSN explicou que contratou a Dad Engenharia e Serviços para realizar manutenção de uma usina em Volta Redonda e que devido a descumprimentos contratuais por desempenho, a siderúrgica reteve pagamentos em valor aproximado de R$ 2,5 milhões. Como resposta, a solicitada realizou protesto de nove títulos de R$ 1,3 milhão, resultando no consequente requerimento de falência.

As ações da Cielo reagiram bem à celebração de parceria com o banco HSBC, que passará a utilizar a empresa como credenciadora preferencial de seus clientes. O acordo terá duração de cinco anos e as companhias oferecerão aos estabelecimentos comerciais captura de transações Visa, Mastercard e demais bandeiras de pagamento.

Já as ações da Cemig caíram forte por conta da revisão para baixo do guidance para o período entre 2010 e 2014. A empresa prevê um Ebitda (geração operacional de caixa) consolidado entre R$ 3,8 bilhões e R$ 4,4 bilhões para o final deste ano.

A BM&F Bovespa enviou ao mercado comunicado rebatendo as acusações de que a Receita Federal estaria cobrando R$ 5,5 bilhões da companhia pela suspeita de que benefícios fiscais fictícios teriam sido criados à época do processo de fusão entre a BM&F e a Bovespa Holding. “O referido ágio foi constituído em estrita conformidade com a legislação fiscal em vigor. A operação foi feita em bases de mercado e seguiu a tendência mundial de consolidação entre bolsas”.

A disputa pela fatia que a Portugal Telecom detém no capital da Vivo agitou as ações do setor. Após a Telefónica elevar para € 6,5 bilhões sua proposta, a empresa portuguesa convocou para o final deste mês assembleia para analisar a oferta.

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Além de anunciar nova descoberta no pré-sal, a Petrobras apareceu nas manchetes por informar a contratação dos bancos Bank of America Merrill Lynch, Bradesco BBI, Citi, Itaú BBA, Morgan Stanley e Santander para coordenarem a oferta pública de ações da estatal.

Indicadores econômicos
Entre os destaques da agenda econômica interna, 
a produção industrial brasileira recuou 0,7% na passagem de março para abril, segundo a Pesquisa Industrial de Produção Física, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). De acordo com a pesquisa, o indicador avançou 2,3% no acumulado em 12 meses – primeira variação positiva desde janeiro do ano passado. Em relação a abril de 2009, o setor cresceu 17,4%, refletindo os números desfavoráveis vistos no ano passado, quando a economia brasileira.

Já o Índice de Confiança da Indústria da Fundação Getulio Vargas registrou alta entre os meses de abril e maio, atingindo o maior nível da serie histórica iniciada em 1995. Em maio deste ano, o índice ajustado sazonalmente registrou um avanço de 0,7%, passando de 115,3 pontos para 116,1 pontos.

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Em tom mais otimista e menos preocupado, o relatório Focus elevou pela décima primeira vez consecutiva suas projeções para o crescimento da economia brasileira neste ano, ao mesmo tempo em que manteve suas estimativas para a inflação após 18 semanas consecutivas de alta. Agora o mercado espera que a atividade econômica brasileira avance 6,47% neste ano, frente à expectativa de alta de 6,46% vista na última edição do relatório. Já as perspectivas para a taxa Selic foram mantidas em 11,75% ao ano no final de 2010.

No âmbito inflacionário, o IPC-Fipe (Índice de Preços ao Consumidor) de maio apontou inflação de 0,22%, abaixo da variação de 0,34% projetada pelo mercado no último relatório Focus, enquanto o IPC-S  de 31 de maio marcou inflação de 0,21%, taxa 0,26 ponto percentual abaixo da apurada na medição anterior e também a menor variação já vista desde a segunda semana de novembro do ano passado.

Por fim, a balança comercial encerrou maio com um saldo positivo de US$ 3,443 bilhões, o maior visto desde o começo deste ano.

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A Europa teve agenda econômica carregada na semana. Os PIBs da Zona do Euro e da União Europeia aceleraram 0,2% entre o último trimestre de 2009 e o primeiro deste ano. Na comparação anual, o avanço foi de 0,6% na ZE e de 0,5 na UE. O índice que mede a confiança de consumidores e executivos nos 16 países pertencentes à Zona do Euro caiu para 98,4 pontos em maio, surpreendendo negativamente o mercado. Já confiança dos consumidores marcou 18 pontos negativos em maio, face aos 15 pontos negativos apontados em abril, enquanto os preços ao consumidor subiram 1,6% no mês, abaixo da inflação de 1,7% prevista por economistas.
Ainda no velho continente, o setor de serviços da Zona do Euro, responsável por cerca de 60% do PIB da região, subiu de 55,6 para 56,2 pontos na passagem mensal. Por outro lado, o indicador que mede a atividade do setor de manufaturados caiu de 57,6 para 55,8 pontos no período. Ademais, o volume de vendas ao varejo da Zona do Euro caiu 1,2% na passagem entre março e abril deste ano, ante um aumento de 0,5% na mediação anterior, conforme informações da Eurostat.

Passando aos EUA, o ADP Employment Report mostrou criação de 55 mil vagas de trabalho no setor privado dos Estados Unidos no mês passado, acima das 32 mil vagas geradas em abril, mas abaixo das 60 mil esperadas. Enquanto isso, o Initial Claims registrou queda no número de pedidos de auxílio-desemprego na passagem semanal, passando de 460 mil para 453 mil solicitações. Ainda em termos de mercado de trabalho, a produtividade do trabalhador avançou 2,8% no primeiro trimestre de 2010, conforme os números revisados, abaixo dos 3,6% apontados pelos dados preliminares.

Na agenda norte-americana, uma das divulgações mais aguardadas foi a do Employment Report. A taxa de desemprego nos EUA caiu para 9,7% em maio, ante 9,9% de abril. No quinto mês do ano, houve ainda a criação de postos de trabalho ficou em 431 mil, desempenho pior que o esperado pelo mercado (500 mil).

Passando para a Ásia, a produção industrial no Japão marcou crescimento de 1,3% em abril, abaixo do estimado por analistas, que previam avanço em torno de 2,5%. Já na Índia, o PIB (Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre relatou avanço de 8,6%, em linha com o previsto por analistas.

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A atividade manufatureira da China desacelerou em maio e ficou perto do esperado pelo mercado, mostrando que as medidas tomadas pelo governo chinês para frear a expansão econômica exagerada do país estão surtindo efeito. O índice de atividade manufatureira da China Federation of Logistics and Purchasing caiu para 53,9 em maio, ante 55,7 pontos no mês anterior. Analistas esperavam leitura de 54 pontos. O PMI (Purchasing Managers’ Index) chinês caiu de 55,7 para 53,9 pontos na passagem de março para abril, ficando abaixo das estimativas de analistas, de 54,5 pontos.

Câmbio e Renda Fixa
A moeda norte-americana fechou cotada na venda a R$ 1,859, acumulando nessa semana uma variação positiva de 2,71%.

No mercado de renda fixa, os juros futuros encerraram majoritariamente em queda, embora alguns contratos de vencimento mais próximo tenham apresentado alta. O contrato com vencimento em janeiro de 2011, que apresenta maior liquidez, encerrou apontando taxa de 10,92%, baixa de 0,07 pontos percentuais em relação a semana anterior.

No mercado de títulos da dívida externa brasileira, o Global 40, bônus mais líquido, encerrou cotado a 132,30% de seu valor de face, alta de 0,07% na semana. O risco-país fechou cotado a 239 pontos-base, com alta de 5 pontos na variação semanal.

Confira os destaques da agenda da próxima semana
Dentro da agenda para a segunda semana de junho, as atenções se voltam para a divulgação do orçamento do Tesouro norte-americano e às vendas do varejo durante o mês de maio.

No front doméstico, destaque para a reunião do Copom e para a divulgação do PIB referente ao primeiro trimestre deste ano.