Com Trump fortalecido, o que esperar para o dólar em um governo do republicano?

De um lado, o republicano promete reindustrializar economia, o que pediria um dólar mais fraco; do outro, fala em maiores gastos e tarifas

Vitor Azevedo

Publicidade

O atentado contra o candidato à presidência dos Estados Unidos Donald Trump mudou o jogo político na maior economia do mundo. O republicano, que já era visto como favorito a ocupar a Casa Branca a partir de 2025, ganhou ainda mais força, segundo analistas.

Mas as visões para como ficará o dólar, caso esse aparente favoritismo se confirme, continuam divididas. Apesar de a maioria enxergar a moeda americana mais forte em uma eventual vitória do ex-presidente e bilionário, há quem discorde disso.

Baixe uma lista de  10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de crescimento para os próximos meses e anos

Nesta semana, por exemplo, a Gavekal mencionou em relatório enxergar a moeda americana mais fraca no caso de uma possível vitória de Donald Trump. Para a casa de research, uma das maiores do mundo, o republicano é um “mercantilista” e claramente quer um “dólar mais fraco”. 

“Em justiça, um dólar mais fraco faria sentido em muitos níveis. Primeiro, o dólar dos EUA é muito caro. Segundo, se os EUA realmente querem se reindustrializar—e é difícil ser a hegemonia militar mundial sem uma base industrial — então um dólar mais fraco é quase uma necessidade”, fala a casa.

Donald Trump, sob esse olhar, poderia querer um dólar mais fraco para fortalecer a indústria nacional americana, facilitando as exportações e tornando os produtos dos EUA mais competitivos no mercado internacional. Um dólar mais fraco resulta em produtos importados mais caros e os produtos exportados mais baratos, o que pode ajudar a proteger e estimular a produção doméstica estadunidense.

Continua depois da publicidade

“A escolha do vice-presidente J.D. Vance vai nessa linha. Ele não fala em dólar fraco, mas Vance menciona com alguma frequência que os outros países não deveriam usar a moeda mais fraca como instrumento de exportação aos Estados Unidos”, acrescenta Jorge Dib, sócio e gestor da Galapagos Capital.

Mas consenso é de dólar mais forte

Dib, no entanto, menciona que essa visão de um dólar mais fraco bate em outras questões também prometidas por Trump. Segundo ele, há, por enquanto, duas narrativas — com o mercado ainda estando “confuso”.

Do outro lado, o fato de o republicano, por exemplo, defender maiores tarifas para a importação de produtos nos Estados Unidos é visto como um possível impulsionador do dólar. 

Continua depois da publicidade

“Se colocar mais tarifas para a China, por exemplo, provavelmente resultará em um menor crescimento global. E quando você tem um menor crescimento global, é algo que, geralmente, fortalece o dólar”, contextualiza o especialista. Nesse cenário, de economia mundial mais fraca, investidores tendem a buscar a segurança do dólar e dos títulos do tesouro americano.

Fora isso, Dib também relembra que Trump vem prometendo um fiscal mais frouxo e menos impostos — o que também tende a impulsionar a moeda norte-americana. Se as contas públicas dos EUA piorarem, o provável é que os juros, por lá, fiquem mais altos, o que tende a levar fluxo de capital para os EUA e a fortalecer sua divisa. 

“De qualquer forma, muito provavelmente a gente vai em breve entrar em um período de juros um pouco menores nos Estados Unidos. Mas com Trump poderíamos ter uma volta desse movimento de alta”, explica o gestor da Galapagos. “Uma coisa é falar que quer um dólar mais fraco, mas, do outro lado, colocar tarifas e fazer uma política expansionista mais forte, que provavelmente vai precisar de um juros mais alto”.

Continua depois da publicidade

Rodrigo Cabraitz, gestor de portfólio da Principal Clarita, vai na mesma linha, mencionando que o aumento das tarifas de importação foram “marcantes” no primeiro mandato do republicano.

“Pensando pelo contexto global, o real deveria sofrer menos que os pares. Mas o Brasil pode sofrer um efeito de segunda derivada, em que o enfraquecimento da China e os potenciais aumentos de tarifa nos EUA para a China prejudiquem a economia do país asiático e, decorrentemente, a balança comercial brasileira”, fala Rodrigo, lembrando que, hoje, a China é o principal parceiro comercial brasileiro.