Com “tempestade perfeita” do minério, Vale perde espaço e analistas apontam mais oportunidades em ações de siderúrgicas

Bradesco BBI ressalta que Usiminas é a sua preferida no setor, enquanto analista da Encore destaca que Gerdau está menos exposta a cenário para minério

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Uma verdadeira tempestade perfeita tem atingido o minério de ferro após o boom registrado até maio desse ano, quando a commodity chegou a superar os US$ 200 a tonelada.

O movimento de derrocada foi sentido principalmente nas últimas semanas. Os preços do minério de ferro foram corrigidos de aproximadamente US$ 180 no início de agosto para abaixo de US$ 100 a tonelada.

Nos últimos dias, o sentimento foi ainda mais impactado por incertezas quanto ao resultado da situação de Evergrande na China, em meio às medidas do próprio governo do gigante asiático para desacelerar o setor imobiliário do país, o que também impacta ainda mais as perspectivas para o setor.

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Desse modo, as ações de Vale (VALE3), CSN (CSNA3), Gerdau (GGBR4) e Usiminas (USIM5) tiveram recuos da ordem de 10% na semana passada, que se somaram aos recuos de até 3% para os ativos na véspera. Em setembro, as ações da Usiminas acumulam perdas de cerca de 24%, CSN tem perdas de 20%, Gerdau cai 17% e Vale tem perdas de cerca de 16%. Fora do índice, a CSN Mineração acumula queda de 19% no mês.

Na sessão desta terça, de recuperação para o Ibovespa, as ações VALE3 registram apenas leves ganhos, enquanto CSN, Gerdau e Usiminas registram baixa de cerca de 2%.

O cenário que se desenha deve seguir de volatilidade para as ações das companhias do setor, principalmente monitorando o impacto da Evergrande nos preços, mas analistas já veem “assimetrias” importantes entre as mineradoras e as siderúrgicas.

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Para os analistas do Bradesco BBI, os preços do minério de ferro devem permanecer sob pressão no curto prazo, visto que as perspectivas para a demanda estão cada vez mais incertas. A combinação de dados de atividade econômica mais fracos vindos da China entre julho e agosto, relatos de que a demanda não se recuperou tanto quanto de costume em setembro e a falta de visibilidade sobre os cortes na produção de aço no quarto trimestre e no início de 2022 antes das Olimpíadas de Inverno de Pequim já estava assustando os participantes do mercado.

Agora, com a situação de Evergrande em rápida evolução, mais incertezas turvaram as perspectivas da demanda, dados os
potenciais efeitos colaterais no mercado imobiliário e no sistema financeiro chinês (o mercado imobiliário é responsável por
cerca de 35% do consumo de aço da China).

Por enquanto, os analistas não esperam uma queda relevante na demanda por aço – o governo chinês deve intervir, especialmente considerando que 2022 é um ano importante para o presidente Xi Jinping consolidar o poder durante o 20º Congresso Nacional do Partido no final de 2022.

Assim, mantém o caso base de queda de 1% na produção de aço na China em 2022, o que ainda implicaria em fundamentos do mercado de minério de ferro saudáveis, com preços oscilando em torno de US$ 100 a US$ 120  a tonelada.

De qualquer forma, destacam que o momentum de curto prazo continua desafiador. Assim, os analistas do banco executaram análises de sensibilidade para ações com exposição a minério de ferro em nossa cobertura em diferentes cenários de preços de minério de ferro.

Levando em consideração uma queda mais severa nos preços, com os preços do minério de ferro chegando a US$ 75 em 2022, apontam verem as avaliações da Usiminas e da CSN como mais “assimétricas” versus CSN Mineração e Vale, com as primeiras podendo assim oferecer mais oportunidades.

“CSN e Usiminas, como siderúrgicas integradas, estão relativamente melhor equipadas para enfrentar uma deterioração nos preços do minério de ferro em comparação com os players de minério de ferro puro, enquanto o recente desempenho inferior das ações implica em maior assimetria”, avaliam.

Além disso, eles mantêm a premissa de que as margens das siderúrgicas devem permanecer sustentadas em níveis saudáveis e acima da média globalmente em 2022, devido a: (i) restrições de produção na China; (ii) menores exportações da China e (iii) melhoria do crescimento da demanda por aço em todo o mundo, à medida que as economias saem da pandemia.

A Usiminas permanece a escolha principal do BBI, já que os riscos de baixa parecem estar totalmente precificados, na visão dos analistas. “Mantivemos nossa recomendação de compra para Usiminas e preço-alvo de R$ 34, pois acreditamos que a avaliação já embute um cenário muito negativo em 2022”. O potencial de alta em relação ao patamar de fechamento da ação na véspera é de 148%.

Sobre Vale em específico, João Lorenzi, analista de commodities na Encore Asset, destacou em entrevista para o Radar InfoMoney na sexta-feira (veja a entrevista completa no vídeo abaixo ) que a queda recente do minério foi surpreendente, e muito decorrente da desaceleração do mercado imobiliário na China, mas que ainda está cauteloso com relação à commodity.

“Não estou positivo para o minério de ferro, com a commodity podendo ficar em algum momento até abaixo do preço considerado de equilíbrio por conta do momentum ruim”, avalia.

Para o analista, para quem estiver de olho em investir no papel em meio a essa recente queda, pode valer esperar para entrar na ação, uma vez que o minério deve cair um pouco mais e ainda impactar o papel para baixo. Assim, pode haver um ponto de entrada melhor mais à frente.

Por outro lado, ele destaca que pode haver outras oportunidades, como em empresas não tão relacionadas ao minério, que é o caso da Gerdau (GGBR4) e que caíram forte em meio à queda das ações de siderúrgicas e mineradoras.

Cabe destacar que, no final de agosto, quando o minério de ferro já estava bastante pressionado, Caio Ribeiro, analista do Credit Suisse, destacou em relatório ainda ver uma falta de apetite para investir no setor de mineração. Mas destacou que  que outros nomes poderiam ser mais atrativos.

Na ocasião, o analista se manteve “seletivamente construtivo” no setor de materiais básicos (que compreende mineradoras, siderúrgicas, papel e celulose), preferindo ações de siderúrgicas como CSN (CSNA3) e Usiminas (USIM5) aos papéis de mineradoras. Veja mais clicando aqui. 

Vale: questão controversa

O UBS BB reduziu na sexta-feira semana passada a recomendação para os ADRs (American Depositary Receipts ou, na prática, as ações das companhias negociadas na Bolsa de Nova York) da Vale de compra para venda, estimando que um excedente de minério de ferro de cerca de 150 milhões de toneladas está crescendo rapidamente em 2022. O preço-alvo do banco para o ADR passou de US$ 22 para US$ 15.

Os analistas citam que esse excedente está aumentando, entre outros fatores, conforme as restrições à produção de aço da China pesam sobre a demanda de minério de ferro e a oferta global da commodity continua aumentando.

Nesse cenário, eles reduziram suas projeções para os preços do minério de ferro em 10% para 2021, para US$ 163 por tonelada, em 12% para 2022, para US$ 89 por tonelada, e em 6% para 2023, para US$ 80 por tonelada, considerando que a produção de aço chinesa se estabilize em torno de 1,07 bilhão e o fornecimento de minério de ferro continua aumentando.

Para Andreas Bokkenheuser e equipe, a história dos dividendos da Vale se torna muito menos atraente com o minério de ferro abaixo de US$ 100 por tonelada.

Já a Levante Ideias de Investimentos, ao questionar se é hora de comprar Vale em meio à forte queda, levantou alguns pontos.

Em primeiro lugar, a equipe de análise aponta que a companhia está em uma fase diferente do passado, com todos os investimentos pesados e necessários já tendo sido realizados em grande parte. Isso reduz muito os investimentos a serem aportados na operação.

O segundo ponto é que, com o aumento de produção contratado e projetado, a companhia será capaz de produzir minério de ferro com custo caixa marginalmente abaixo do atual, que já é a menor do mundo na produção por tonelada de minério.

“A combinação desses dois fatores, aliada a um volume de produção/vendas maior, fará com que a companhia continue sendo uma excelente geradora de caixa livre de maneira estrutural”, avalia.

Assim, na avaliação dos analistas da casa, investir ou não em Vale dependerá da estratégia de cada investidor. Neste ano de 2021, a companhia vai distribuir em proventos diretos e indiretos, um retorno médio de quase 20%, um montante recorde e de longe o melhor dividend yield (dividendo em relação ao valor da ação) da Bolsa.

“Para os próximos anos, a companhia continuará a gerar um caixa em ritmo forte e distribuindo bons dividendos para seus acionistas. Por outro lado, para uma estratégia de ganho de capital, o cenário pode ser de pessimismo total com a tese da Vale, dada a sensibilidade muito grande do preço de suas ações com as cotações do minério de ferro, com as quedas recentes em linha e bastante condizentes com o derretimento do minério de ferro, como consequência dos problemas na China”, avaliam.

A XP, por sua vez, destaca em relatório que o preço da commodity deve seguir volátil, assim como o preço das ações do setor de mineração, tanto aqui no Brasil quanto lá fora, mas segue otimista com Vale. “A nossa equipe que cobre mineração e siderurgia mantém a premissa de que a commodity deve terminar o ano em US$ 120 a tonelada. Além disso, as grandes empresas mineradoras globais, como a BHP (BHPG34), Rio Tinto (RIOT34) e a brasileira Vale seguem descontadas em relação ao setor e continuam com recomendação de compra pelos analistas”, avaliam.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.