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SAN FRANCISCO — Pouco antes do Dia de Ação de Graças, o Google alardeou que seu novo e aprimorado modelo de inteligência artificial, o Gemini 3, havia superado a tecnologia de sua jovem rival, a OpenAI, e agora era o melhor do mundo.
Menos de um mês depois, a OpenAI lançou um novo modelo próprio, o GPT-5.2, e afirmou que ele é “o melhor modelo até agora para uso profissional no mundo real”. Em um post de um blog, a empresa disse que a tecnologia obteve os melhores resultados em diversos benchmarks padrão da indústria envolvendo programação de computadores, matemática e ciência.
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Mas, para muitos especialistas da indústria, a verdadeira história foi que a diferença técnica entre o chamado modelo fundamental de IA da OpenAI e os demais praticamente deixou de existir.
E esse aperto na corrida da IA chega em um momento delicado para a OpenAI, enquanto a empresa tenta fechar um enorme descompasso entre quanto dinheiro sai do caixa e quanto entra.
Até o fim de 2025, a OpenAI espera alcançar receitas mensais que se traduzem em US$ 20 bilhões por ano, segundo Sam Altman, diretor-presidente da empresa. Mas a OpenAI ainda está longe de ser lucrativa.
Nos próximos anos, a companhia afirma estar comprometida a gastar US$ 1,4 trilhão no poder computacional de que precisa para construir e implantar suas diversas tecnologias de IA.
Quando a OpenAI deu início ao boom da IA com o lançamento do chatbot ChatGPT no fim de 2022, a startup de San Francisco tinha uma liderança clara sobre os rivais. Ela manteve essa vantagem por mais de dois anos.
Mas, nos últimos 12 meses, empresas dos Estados Unidos e da China construíram tecnologias que igualam ou até superam o que os principais modelos da OpenAI conseguem fazer.
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“O formato geral do que é necessário para construir modelos fundamentais é bem compreendido — e está acontecendo de maneira praticamente igual dentro de todos os grandes laboratórios de IA”, disse Rayan Krishnan, CEO da Vals AI, empresa que acompanha o desempenho das tecnologias de IA mais recentes.
Uma semana após a chegada do novo modelo de IA do Google, a startup de San Francisco Anthropic também lançou um novo modelo, o Claude Opus 4.5, que estava no mesmo nível da tecnologia da OpenAI.
Mais cedo, na quinta-feira, 11, a startup nova-iorquina Runway apresentou um modelo que superou o desempenho da tecnologia de geração de vídeo da OpenAI, o Sora, segundo benchmarks do setor.
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Mas, assim como suas rivais, a OpenAI continua a avançar sua tecnologia. O novo modelo GPT-5.2 mostrou melhorias específicas na geração de código de computador e na execução de tarefas em outras áreas, incluindo saúde e finanças.
A empresa afirmou que cobrará dos clientes cerca de 40% a mais para usar o novo modelo em comparação com tecnologias anteriores. O modelo chegou apenas algumas horas depois de a Disney anunciar um investimento na OpenAI e informar que concordou em licenciar seus personagens para uso pelo Sora.
Depois que o Google revelou seu chatbot aprimorado em meados de novembro, Altman enviou um memorando de “código vermelho” aos funcionários da OpenAI, pedindo que se concentrassem em melhorias no ChatGPT e colocassem projetos mais novos em segundo plano, segundo uma pessoa familiarizada com o memorando, que falou sob condição de anonimato porque os detalhes não haviam sido tornados públicos.
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Ele estava decidido a proteger uma parte-chave do negócio da empresa. Mais de 800 milhões de pessoas usam o ChatGPT a cada semana, o que se traduz em uma participação de mercado de 76%, segundo a empresa de pesquisa Similarweb.
“IA para o consumidor é OpenAI”, disse Krishnan. “Se isso desaparecer para eles, a empresa não seria nem de perto tão valiosa.”
Com o memorando, Altman pressionou os funcionários da OpenAI a melhorar a velocidade do ChatGPT, reduzir o número de perguntas que ele se recusava a responder e dar às pessoas mais formas de personalizar o chatbot para suas necessidades específicas.
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Essas mudanças, disse ele, deveriam ter prioridade sobre os esforços mais novos da empresa envolvendo publicidade, compras e saúde.
Ele afirmou que a empresa deslocaria alguns funcionários, ao menos temporariamente, de outras equipes para esse esforço de várias semanas voltado a melhorar o ChatGPT.
Aspectos do memorando de Altman já haviam sido noticiados pelo The Information e pelo The Wall Street Journal.
O ChatGPT é a principal fonte de receita da OpenAI, já que cerca de 6% dessas 800 milhões de pessoas desembolsam US$ 20 por mês para usar versões mais avançadas do chatbot.
E, como Altman sugeriu em seu memorando, a empresa também pretende ganhar dinheiro com a versão gratuita do ChatGPT.
O plano é priorizar o desenvolvimento do ChatGPT nas próximas semanas. Após o lançamento de seu novo modelo GPT-5.2, a empresa trabalha rumo a um lançamento maior no início do próximo ano.
(O The New York Times processou a OpenAI e a Microsoft, alegando violação de direitos autorais de conteúdo jornalístico relacionado a sistemas de IA. As duas empresas negaram as acusações.)
Altman costuma enviar memorandos de mobilização à sua empresa. O mais recente foi semelhante a um que ele enviou depois que a startup chinesa DeepSeek impressionou o mundo com sua tecnologia de chatbot em janeiro.
Após a ameaça da DeepSeek, a OpenAI se concentrou em melhorar seu próprio chatbot por várias semanas e, depois, voltou a atenção para esforços mais novos.
Alguns dos primeiros funcionários da OpenAI se orgulhavam da ideia de que a startup era diferente de concorrentes movidos a publicidade, como Google e Meta.
Mas, à medida que a OpenAI trabalha para compensar seu enorme consumo de caixa, tem explorado a possibilidade de veicular anúncios no ChatGPT.
Embora o memorando de Altman tenha sublinhado a importância do ChatGPT para o futuro da empresa, o chatbot voltado ao consumidor é apenas uma parte do que a companhia vem desenvolvendo.
Usando a mesma tecnologia de IA que sustenta o ChatGPT, a OpenAI está avançando no mercado de software corporativo.
Dentro da OpenAI, executivos descrevem a startup como duas empresas — uma que ganha dinheiro com consumidores e outra que ganha dinheiro com empresas.
Eles argumentam que a tecnologia de IA vai remodelar praticamente todas as categorias de software empresarial.
Tecnologias projetadas especificamente para gerar código de computador tornaram-se outra importante fonte de receita para a empresa.
Alguns desenvolvedores de software e pesquisadores pagam US$ 200 por mês para usar as tecnologias de codificação mais avançadas da OpenAI.
O modelo mais recente da empresa é, em parte, um esforço para melhorar seu desempenho nesse campo específico.
Agora, a OpenAI está usando técnicas semelhantes para treinar seus modelos para uso em áreas como saúde e finanças, de modo que possa vender produtos também para empresas desses mercados.
“As tecnologias de codificação estão realmente mudando a forma como as pessoas no Vale do Silício fazem as coisas”, disse Wei-Lin Chiang, fundador e diretor de tecnologia da LMArena, empresa que testa o desempenho de sistemas de IA. “Isso também vai acontecer em outras indústrias.”
Os modelos da OpenAI superam outros sistemas líderes em tarefas que envolvem tanto trabalho jurídico quanto finanças, segundo os testes de benchmark mais recentes da Vals AI, mostrando que a OpenAI concentrou esforços nesses campos.
A OpenAI também trabalhou para construir uma divisão de software corporativo, semelhante às de gigantes da tecnologia como o Google, que vende esses produtos para empresas.
c.2025 The New York Times Company