Com expectativa de chuvas, elétricas podem ter alívio em 2016 – e preços subirão menos

Institutos de climatologia preveem que a intensidade do fenômeno El Niño permanecerá elevada até o início do outono, e com isso o volume de chuvas na região Centro-Sul do País tende a atingir patamares mais altos durante o verão

Estadão Conteúdo

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A expectativa de que o volume de chuvas das últimas semanas se mantenha durante o período úmido, até abril, pode trazer alívio ao setor elétrico em 2016. Se no início de 2015 a discussão setorial tinha como assunto principal o risco de racionamento, o começo do novo ano traz o El Niño como foco de atenções. Por isso, a percepção, neste momento, é de que a pressão de custos sobre o setor será menor do que aquela registrada em 2014 e 2015. Como consequência, o preço da energia deve ter alta mais controlada.

Institutos de climatologia preveem que a intensidade do fenômeno El Niño permanecerá elevada até o início do outono. Com isso, o volume de chuvas na região Centro-Sul do País tende a atingir patamares mais altos durante o verão. Historicamente, os meses de dezembro a fevereiro correspondem a 50% da chuva que atinge a região Sudeste/Centro-Oeste no ano.

“Não será um período úmido excepcional, mas também não será ruim. Será um período úmido dentro da média e dessa forma sairemos dele com reservatórios mais elevados do que ocorreu em 2014 e 2015”, destaca a diretora de Produtos e Conteúdo da Climatempo, Patricia Madeira.

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Confirmadas as expectativas de chuva para os próximos meses, o nível de água armazenada nos reservatórios do submercado Sudeste/Centro-Oeste poderá terminar o período úmido com patamares superiores a 50%. Desde o mês passado o indicador se mantém próximo de 30%.

Os dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) revelam que a situação dos reservatórios na região Sudeste/Centro-Oeste, responsável por 70% da capacidade de armazenamento do País, apresentou melhoria desde junho de 2015. A partir de julho, os dados de fechamento de cada mês já eram mais positivos do que os números de 2014, uma situação explicada basicamente pela afluência mais favorável e pela estratégia do ONS de preservar os reservatórios, a partir do acionamento das térmicas.

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Outro ponto que justifica a melhoria no nível de água dos reservatórios, e que continuará a ter peso importante no balanço do setor elétrico em 2016, é a redução da demanda. “Saímos de um consumo realizado de 63.000 MW médios em 2013 e chegamos a 65.000 MW médios em 2014. O projetado para 2015, em janeiro, era de 67.000 MW médios, mas o número realizado em 2015 ficará próximo de 64.000 MW médios. Perderemos algo como 3.000 MW médios, ou dois anos de crescimento de demanda”, explica o diretor da consultoria PSR, Luiz Augusto Barroso.

Os números da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) até novembro apontam queda de 2,1% na demanda de 2015 em relação ao mesmo intervalo do ano anterior. O resultado é influenciado principalmente pela retração na cadeia industrial, de -5,1%, e pela região Sudeste/Centro-Oeste, com queda de 2,7%. As duas categorias são, nas respectivas divisões por classe de consumo e geográfica, as mais importantes do País em termos de demanda.

El Niño
Ainda que o cenário atual indique um ambiente mais favorável ao setor elétrico em 2016, os especialistas em climatologia salientam que a região Sudeste, onde estão alguns dos mais importantes reservatórios e nascentes do País, é considerada um local de menor índice de previsibilidade. Por isso, é difícil determinar se o El Niño trará de fato mais chuvas à região, ao contrário do que acontece nas regiões Sul e Nordeste/Norte, onde as previsões de fortes chuvas e período mais seco, respectivamente, são mais evidentes.

“O El Niño atingiu pico (de intensidade) em novembro e está, hoje, entre os mais intensos que já tivemos. O pico foi semelhante ao visto no último período de El Niño intenso, de 1997 e 1998. Mas ele pode ter declínio a partir de janeiro ou fevereiro”, destaca a meteorologista do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), Anna Bárbara Coutinho de Melo.

Com o declínio do El Niño, situação que deve se configurar na chegada do outono, há inclusive a possibilidade de uma migração para o La Niña, fenômeno cuja particularidade é o aumento da incidência de chuvas no Nordeste, bem como períodos de seca na região Sul do País. “É possível que o Norte e o Nordeste comecem a ter mais chuvas em 2017”, afirma Patricia, da Climatempo.

Como a situação de afluências é considerada determinante para o nível de segurança de abastecimento do sistema elétrico nacional, a esperada recuperação dos reservatórios no período úmido de 2015-2016 é vista com cautela. “Hoje, é um cenário mais factível chegarmos ao final do período chuvoso com armazenamento de 50% a 60% no Sudeste, mas não podemos considerar que 60% seja uma recuperação plena”, afirma o consultor sênior da consultoria Thymos Energia, Renato Mendes.

A preocupação é alimentada principalmente pelo fato de a representatividade dos grandes reservatórios no sistema nacional ter diminuído. Com um parque gerador cada vez mais dependente de térmicas, de fontes interruptíveis como as eólicas e de hidrelétricas a fio d´água, a segurança advinda dos reservatórios é menor hoje do que era no passado.

Além disso, a falta de chuvas nas regiões Nordeste e Norte é outro fator de preocupação. No caso da região Norte, chama atenção a capacidade nova de usinas como Jirau e Belo Monte. No caso do Nordeste, a situação é ainda mais adversa e até mesmo o próprio abastecimento de água para consumo enfrenta problemas. Além disso, o início do ano tende a se configurar como um período de maior consumo de energia.

“O Nordeste contará com a importação de energia das regiões vizinhas (Norte e Sudeste), mas há uma limitação pelas linhas de transmissão, e também terá geração eólica e térmica. Por isso a grande preocupação está menos associada a riscos de racionamento, mas sim a riscos de blecaute”, alerta Barroso, da PSR.