Com dólar perto de R$ 6, quais são as ações mais beneficiadas? Um setor da bolsa se destaca

Exportadoras de commodities entram no radar dos investidores com a disparada da moeda dos EUA

Ricardo Bomfim

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SÃO PAULO – Um dos ativos financeiros que mais tem se valorizado recentemente no mercado brasileiro é o dólar.

A moeda estrangeira não parou de subir desde o início da crise do coronavírus, mas se isso é motivo para preocupação do lado dos importadores, é uma notícia muito boa para algumas ações da Bolsa, em especial as de empresas que possuem suas receitas em dólar.

Em relatório, os analistas Thiago Lofiego, Isabella Vasconcelos e Luca Brendim, do Bradesco BBI, destacam que o setor de papel e celulose é um dos melhores para o investidor que quiser capturar indiretamente o movimento do câmbio.

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“Cada dez centavos de depreciação do real implicam R$ 455 milhões a mais de Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) para a Suzano (SUZB3) e R$ 110 milhões para a Klabin (KLBN11)”, escrevem os analistas.

Apesar de as duas companhias também possuírem dívidas em dólar, o incremento de Ebitda e fluxo de caixa mais do que se sobrepõem ao endividamento.

A analista Betina Roxo, da XP Investimentos, lembra ainda que o preço da celulose está em alta nas últimas semanas, chegando a US$ 473 por tonelada. “Nossa estimativa segue inalterada, com o preço da celulose de fibra curta na China chegando a US$ 530 por tonelada ao final de 2020. Adicionalmente, acreditamos que o mercado deva revisar suas estimativas para o setor nesse cenário de câmbio mais elevado”, avalia.

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Contudo, vale ponderar: no primeiro trimestre de 2020, a Suzano, que divulgou seu balanço na véspera, beneficiou-se com o dólar alto em suas operações. Porém, com relação à estratégia de hedge da empresa, registrou uma perda de cerca de R$ 9 bilhões na marcação a mercado de seus derivativos, como resultado do dólar acima de seus limites (strikes).  Assim, o passivo circulante da Suzano aumentou para R$ 15,3 bilhões, após a perda mencionada em derivativos (R$ 4,6 bilhões na parcela corrente).

Por outro lado, durante teleconferência, o CFO da Suzano, Marcelo Bacci, destacou: embora o resultado financeiro líquido da companhia no primeiro trimestre tenha sido uma perda de R$ 22,4 bilhões, o desembolso de caixa atingiu R$ 200 milhões. Em um cenário de dólar a R$ 6,00, a geração de caixa compensaria as despesas financeiras, resultando em ganho líquido de caixa de R$ 1,9 bilhão até o quarto trimestre.

Outra exportadora que se sai bem neste cenário é a Vale (VALE3). A equipe de análise do Bradesco calcula que a mineradora ganhe US$ 125 milhões em Ebitda para cada 10 centavos de depreciação do real.

Isso fora que os pagamentos de indenizações e multa por conta da tragédia de Brumadinho no ano passado, que estão entre os motivos por que muitos investidores têm o pé atrás em relação à empresa, estão denominados em real, conforme explicam os analistas do banco.

Betina Roxo também vê a companhia com bons olhos, apontando que os preços do minério de ferro seguem sustentados em patamares elevados, em US$ 90 por tonelada. Ela acredita que os embarques de minério vindos de Carajás (PA) se fortaleçam no segundo semestre.

Ainda entre as recomendações do Bradesco BBI, os analistas defendem que o cenário é positivo para as siderúrgicas Gerdau (GGBR4), CSN (CSNA3) e Usiminas (USIM5).

Entre elas, é a Gerdau quem mais se beneficia, graças aos negócios offshore da empresa, que possui fortes operações nos Estados Unidos.

O relatório do Bradesco lembra que as siderúrgicas brasileiras historicamente conseguem repassar os custos mais altos relacionados ao dólar para seus clientes locais exceto em momentos de muita fraqueza na economia.

Ainda que o momento atual seja justamente o da exceção, o cenário dos analistas ainda é otimista, pois mesmo sem repasse do aumento dos custos por conta do dólar mais alto, a Gerdau deve ter um incremento de R$ 50 milhões no Ebitda e de R$ 10 milhões no fluxo de caixa por conta do efeito positivo da apreciação da moeda americana no faturamento.

Já a CSN se beneficia do real depreciado graças à divisão de minério de ferro da companhia, algo que compensaria as margens mais comprimidas na venda de aço. Vale lembrar que em torno de 50% dos custos envolvidos na produção de aço são denominados em dólar.

No entanto, a alavancagem da empresa preocupa os analistas do Bradesco, afinal 65% da dívida da CSN é em dólar e o múltiplo dívida líquida sobre o Ebitda da companhia pode subir das 4,1 vezes registradas no final de 2019 para 5,2 vezes ao final de 2020.

A última siderúrgica analisada, Usiminas, é outra que ganha em sua operação de minério de ferro por causa do dólar mais alto, mas sofre mais que as concorrentes devido à importância da produção do aço dentro do seu negócio.

Por fim, um setor que já tem colhido na Bolsa os efeitos positivos do dólar apreciado em suas operações é o de frigoríficos. A XP ressalta que a demanda por carne é resiliente, as margens do setor são sólidas e as exportações de proteína serão muito beneficiadas pelo atual patamar do câmbio.

“Em abril, as receitas de exportações aumentaram ano contra ano principalmente para bovinos e suínos (19% e 34% em dólares, respectivamente), com preços, em dólares,mais altos e impacto positivo do câmbio, além de maiores volumes para suínos (crescimento de 17% na base anual)”, escreve Betina.

Boa notícia para JBS (JBSS3), BRF (BRFS3), Marfrig (MRFG3) e Minerva (BEEF3).

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.