Colunista InfoMoney: Wired magazine, the Long Tail e os fundos de investimento

<div class="select">Por José Brazuna</div> Congresso organizado pela "Anbid americana" debate a influência do "mundo online" na segmentação de produtos no setor de fundos

José Eduardo Brazuna

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Todo ano acontece o GMM (General Membership Meeting), congresso do setor de mutual funds americano organizado pelo ICI (Investment Company Institute), a “Anbid americana”. Como estamos falando de um mercado de US$ 12 trilhões, o evento indica as tendências do setor.

Como está “na moda” em seminários introduzir entre os mais técnicos, palestras “alternativas” para quebrar a monotonia, desta vez houve palestra de um técnico vencedor da NBA. Este tipo de ousadia às vezes resulta em fracasso já que não tem relação direta com o business, com risco de ser apenas “interessante”.

“O investidor terá de conviver com uma linha de produtos cada vez mais diversificada”

Porém uma destas apresentações “ousadas” me impressionou, e ajudou a entender como a segmentação de produtos vem ocorrendo no setor de fundos. O palestrante era o editor da revista Wired Magazine, Chris Anderson.

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Achei que seria interessante para aprender sobre tendências de tecnologia e ouvir a previsões futuristas de que os investidores vão usar celulares e blackberrys para comprar fundos e que talvez um dia até Steve Jobs distribua fundos em seu poderoso i-tunes.

A surpresa foi imensa: nada sobre convergência tecnológica, mas sim a visão sobre a influência do “mundo online” na segmentação dos mercados. E o comportamento do consumidor era assustadoramente coerente. Para Anderson, a dinâmica do mercado de fundos é igual à do setor de TV a cabo ou cerveja.

Sua teoria é simples: os mercados buscam a The Long Tail (“a cauda longa”). Para ele, o impacto econômico e a cultura do mundo online construíram um “new marketplace”, onde a curva de demanda tem o seguinte comportamento:

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Descricao do grafico

Qualquer mercado que se divide na região vermelha (head) tem características de commodity – alta similaridade e margem pequena. Os long tail (região laranja) são de nichos – baixa similaridade e margem alta.

Focar em produtos de nicho sempre encontrou limites na barreira de custo de estocagem e distribuição. Porém, com a tecnologia da informação estes custos passam a ser ínfimos. Afinal, loja online não tem prateleira.

A tecnologia trouxe também uma mudança cultural: o ser humano quer fugir do mainstream, quer produtos alinhados ao seu grupo de relacionamento e, no limite, ao seu gosto individual. Isso fica claro em alguns mercados, por exemplo, no segmento de café expresso onde há um café para cada paladar.

Fundos de investimento têm seguido a mesma dinâmica e a segmentação tomou uma velocidade extrema. O investidor procura produtos alinhados às suas necessidades individuais e as instituições oferecem um leque cada vez maior de opções, buscando atingir um conjunto maior de grupos pequenos de indivíduos com interesse semelhantes.

Há 10 anos, fundos de ação basicamente tinham como objetivo seguir o Ibovespa. Atualmente, a segmentação é enorme, só para citar alguns: small cap, mid cap, large cap, governança corporativa, responsabilidade social, growth, value, sustentabilidade, setoriais, dividend yield, etc.

Nos hedge funds, o ciclo é semelhante, há alguns anos, todos eram macro strategy e hoje a diversidade é imensa: equity hedge, convertible arbitrage, event driven, ETFs, merger arbitrage, distressed.

Outro indicador interessante: o número de fundos vem crescendo a velocidade desproporcional ao PL (Patrimônio Líquido) total da indústria, ou seja, o tamanho médio dos fundos vem diminuindo. Isso significa que estamos perdendo a eficiência trazida pelo ganho de escala? As margens estão caindo?

Não. Neste ponto, vale um exemplo do autor: nos anos 50, o seriado I Love Lucy atingia 70% das TV´s ligadas nos EUA. O episódio final da série do comediante Jerry Seinfeld, atingiu apenas 33%. Porém, um comercial de 30 segundos custou US$ 2 milhões. Ou seja, há espaço nos nichos para ampliação de margens.

O mercado de fundos também parece seguir a tendência de long tail, em movimentos que aparentemente vieram para ficar. Como é comum ouvir que “o mundo está ficando muito complicado”, o investidor terá de conviver com uma linha de produtos cada vez mais diversificada. Daí, cresce a importância da educação financeira e planejamento dos investimentos.

José Brazuna é gerente de Fundos de Investimento da Anbid e escreve mensalmente na InfoMoney, às quartas-feiras.