Colunista InfoMoney: Uniao Europeia e Zona do Euro

A crise atual é de extrema gravidade por envolver alianças, tratados de confiança mútua, união de povos etc.

Decio Pecequilo

Exatamente em 9 de maio de 1950, cinco anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, o ministro das Relações Exteriores da França, Robert Schuman, impôs um gerenciamento binacional às indústrias de aço e carvão (Declaração Schuman) da França e Alemanha para dificultar a fabricação de novas armas e evitar o envolvimento das duas potências em uma nova guerra. Essa declaração foi assinada também pela Holanda, Bélgica e Luxemburgo, dando assim força à paz na Europa.

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Mais tarde, em 1992, tivemos o Tratado de Maastricht, que originou a União Européia e, em seguida, o Euro, a moeda única adotada por 16 dos 27 países desse grupo.

É fácil concluir então que, 60 anos após a Declaração Schuman, a crise atual é de extrema gravidade por envolver alianças, tratados de confiança mútua, união de povos etc.

O que torna muito difícil um equacionamento pleno são os US$ 3,8 trilhões de dólares de exposição dos grandes bancos internacionais nos países da zona do euro que apresentam os maiores déficits, bem como as maiores dívidas soberanas.

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Vejamos algumas destas dívidas, segundo o BIS (Banco de Compensações Internacionais):

• Itália deve US$ 1,4 trilhões a bancos americanos, franceses, alemães e do Reino Unido;

• Espanha deve US$ 1,1 trilhões a bancos alemães, franceses e holandeses;

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• Irlanda deve US$ 867 bilhões a bancos ingleses, alemães, franceses e americanos;

• Portugal deve US$ 285 bilhões a bancos espanhóis, alemães e franceses;

• Grécia deve US$ 236 bilhões a bancos franceses, alemães, americanos e ingleses.

“Resultados recentes
das empresas confirmam
na prática a solidez
econômica do Brasil “

Enfim, todo mundo deve para todo mundo, daí a necessidade de um equacionamento desse emaranhado de relacionamentos.

Além desses números, segundo a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), temos outro agravante, que é a dívida que os países ricos carregam, atualmente de US$ 43 trilhões – um aumento de quase sete vezes desde 2007.

Esse valor, ainda segundo a OCDE, é o maior já contabilizado por qualquer entidade internacional em qualquer momento da história.

Para se ter uma idéia desse número, basta dizer que, em 2009, o FMI calculava o PIB mundial em U$ 57,9 trilhões. Na hipótese de que a economia mundial terá um crescimento pífio em 2010, a divida desses países ricos representará nada menos que 75% da riqueza total de nosso planeta.

São esses números que estão por trás da grande preocupação dos governos atualmente.

Agora, apenas em uma brincadeira, considerando que a população mundial é hoje de 6,825 bilhões de pessoas (International Programs Center US Census Bureau), se cada um de nós fosse chamado para cooperar na liquidação da dívida de U$ 43 trilhões dos países ricos, teríamos que desembolsar U$ 6.300.

E é ai que entra um dito de Albert Einstein: “a definição de insanidade consiste em fazer as mesmas coisas do mesmo jeito e esperar que os resultados sejam diferentes”.

Nenhum país é uma ilha

É claro que se qualquer uma das incógnitas dessa equação global, atualmente em um equilíbrio instável, der errado, o Brasil novamente sofrerá as conseqüências, mas de menor monta, em relação à fase aguda da crise do subprime.

Nossos fundamentos macroeconômicos atravessam uma fase brilhante, ancorados em:

• reservas externas de um quarto de trilhão de dólares;

• o triângulo imutável do câmbio flutuante, metas inflacionárias e superávit primário seguido do quadrilátero emprego, renda, crédito e consumo;

• temos alimentos e energia;

• somos dos BRICs;

• temos justiça livre e independente com uma democracia madura;

• temos empresas que investem “lá fora” com apetite

• só nos primeiros cinco meses desse anos já investimos US$ 8,36 bilhões na compra de ativos externos e, em uma projeção até o final do ano corrente, podemos chegar a US$ 28,5 bilhões, batendo o recorde de US$ 28,2 bilhões atingido em 2006.

• na nossa Bolsa de Valores, as vendas de maio derrubaram a relação preço lucro (P/L) para 10,1 para os próximos 12 meses, em linha com a média dos últimos seis anos, mas muito abaixo dos níveis pré-crise (BTG Pactual).

Além disso, os resultados recentes das empresas confirmam na prática a solidez econômica do Brasil, e, se as estimativas de crescimento dos lucros para o próximo ano estiverem corretas, a relação preço lucro (P/L) cairá para 9,3. Portanto, nossa bolsa está inserida no conceito de “barata” e “cada baixa deve ser encarada como uma oportunidade de compra” (Ron Baron, presidente da Baron Capital Group, administrando US$ 17 bilhões, a maior parte de recursos próprios).

E, assim como ele, pensam e agem vários outros administradores de recursos globais.

É por isso que a qualquer momento, em um futuro próximo, as cotações de nossas ações irão refletir o bom momento que o nosso país vive, podendo ainda, segundo Delfim Neto, crescer pelo menos de 5% a 6% nos próximos cinco anos.

Decio Pecequilo é operador sênior da corretora TOV e escreve mensalmente na InfoMoney.
decio.pecequilo@infomoney.com.br