Colunista InfoMoney: Um exército de Brancaleone

Crescente participação dos investidores de varejo os põe em pé de igualdade com institucionais; BC e Tesouro deveriam elevar liquidez do mercado

Waldir Kiel

Os números divulgados pelo BDI (Boletim Diário de Informações da BM&F/Bovespa) do último dia 19 mostram números sobre a participação dos investidores no período de 04 a 13/01/2010, que confirmam meu comentário na última coluna de que, hoje em dia no Brasil, a Bovespa representava o verdadeiro mercado.

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Investidores de varejo representam no mercado 15,86% nas compras e 16,27% nas vendas, superando o investidor institucional, com 14,78% e 14,09%, além do investidor estrangeiro, com 14,86% e 14,05%, respectivamente.

Estes números me fizeram lembrar um famoso filme de aventura (ou comédia) de 1966, chamado “O Incrível Exército de Brancaleone”.

O filme se passa em plena Itália do Século XI, onde o cavaleiro Brancaleone (Vittorio Gassman), uma espécie de Don Quixote maltrapilho, forma um exército de quatro miseráveis mortos de fome e parte em direção a um feudo a que julga ter direito. Durante o longo percurso pela Europa da Idade Média, no lombo de um pangar chamado ”Aquilante” (uma referência ao ”Rocinante” de Don Quixote), ele se defronta com a peste negra, bruxas e bárbaros de todas as espécies, numa sátira demolidora dos conceitos de honra e coragem sobre os heróis medievais.

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De certo ponto de vista, este excelente filme dá uma idéia de correlação engraçada da luta do investidor pessoa física brasileiro para chegar e participar de um mercado onde, em um passado recente, somente alguns poucos “tubarões” comandavam, tinham acesso e ditavam o andamento dos negócios no dia a dia.

“O investidor de
varejo está tão bem
preparado quanto
o institucional”

Alguns fatores, como a globalização, o crescimento e inserção da economia brasileira no mercado internacional nos últimos anos, a distribuição da renda, o avanço das comunicações (internet), a criação de instrumentos de acesso aos pregões e, principalmente, a valorização dos ativos em bolsa de valores, despertaram a atenção de muitos brasileiros para a possibilidade de participarem mais ativamente da disputa de rendimentos em um ambiente de negociações mais transparente e democrático.

Aposentados, estudantes, ex-operadores de pregão e mesa de operações, profissionais liberais e gente de toda ordem e de todo lugar do Brasil foram em busca de conhecimento e especialização para poderem competir em um mercado de alto risco, como o mercado de renda variável.

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Corretores, principalmente os independentes, não ligados a grandes grupos financeiros, e a própria Bovespa, se apressaram em busca desta nova massa de investidores, criando ferramentas com serviços melhores e mais baratos para atender esta demanda crescente.

Por estas razões, os números divulgados não surpreendem a quem está acompanhando a evolução e o crescimento deste mercado de pessoas físicas.

Os nossos “Brancaleones”, no bom sentido claro, hoje enfrentam no pregão eletrônico os maiores players do mercado quase em pé de igualdade. Muitos já realizam suas operações de alta freqüência com seus robozinhos desenvolvidos por profissionais que não trabalham em grandes tesourarias ou na administração das maiores carteiras. O melhor robozinho que conheço de tantos que já observei vem de um projeto ousado de dois ex-estudantes de engenharia, outro de geografia e um profissional expert do mercado.

Assim, este exército de bravos investidores foi impulsionando o crescimento rápido do mercado bursátil no Brasil e hoje está tão o mais bem preparado em ermos de conhecimentos, que os grandes investidores institucionais.

Espero que este novo contexto sirva de exemplo a ser seguido pelo Banco Central do Brasil e Tesouro Nacional, na liquidez e transparência do mercado monetário no Brasil, beneficiando assim, não só o custo da dívida pública federal, como também o custo de tomar empréstimos e um melhor rendimento para a grande massa de investidores.

Com um mercado maior e com mais liquidez poderemos ter o retorno de uma política monetária ativa, na qual a taxa de juros não sirva apenas de parâmetro para os administradores de carteira e fundos de investimentos balizarem os custos de captação e aplicação, propiciando de fato, uma função econômica mais efetiva todas as vezes que ela é alterada.

Não é possível que uma economia que tem a pretensão justa de se tornar em breve uma das cinco principais no mundo tenha uma taxa de juros tão alta e com perspectivas de aumentos futuros.

“A diferença entre o possível e o impossível está na vontade humana”, disse Louis Pasteur.

Avante Brancaleones do meu Brasil!

Há 35 anos no mercado financeiro, Waldir Kiel Junior é economista e escreve mensalmente na InfoMoney.
waldir.kiel@infomoney.com.br