Colunista InfoMoney: Sinais de aquecimento

Indicadores recentemente divulgados confirmam uma melhora da economia mundial; contudo, recuperação não veio tão rápida como se esperava

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Boas notícias confirmam a retomada da economia norte-americana. Os dados do mercado de trabalho, divulgados na última sexta-feira (2), atestam neste sentido. Indicadores econômicos de outras partes do globo, principalmente da China, corroboram para os prognósticos mais positivos para a economia mundial.

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Todavia, embora os ânimos tenham melhorado, as apostas não podem ser superiores a realidade que nos será imposta nos próximos anos. A ressaca da crise se manifestará sobre endurecimento das políticas monetária e fiscal ao redor do globo.

Nos EUA, já se discute como serão retirados os estímulos fiscais e monetários que possibilitaram diminuir os estragos provocados pela crise de 2008. A recuperação não veio tão rápida como se esperava.

Contudo, nas últimas semanas, os sinais advindos das estatísticas econômicas (de postos de trabalho) apontam para consistente retomada da principal economia mundial. Assim, os mercados financeiros iniciaram a semana animados, diante dos sinais de que o mundo desenvolvido parece engatar de fato na recuperação.

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Nos países emergentes, a retirada dos estímulos já está em andamento, pois os sinais já são de um aquecimento maior do que o desejável. Um fato que atesta neste sentido é o reajuste de 90% no preço do minério de ferro anunciado pela Vale. A negociação do valor ficou, como nos anos anteriores, decidido entre a empresa e os principais demandantes globais, os chineses. 

Preços das
commodities
já mostram uma
boa recuperação”

A despeito dos reclames provenientes dos demandantes europeus, a interação entre a fome chinesa e a capacidade de oferta brasileira é que gera a decisão final sobre o preço. Além do minério de ferro, outras commodities já apresentaram forte recuperação em suas cotações, sobretudo as metálicas.

Algumas já fecharam esse primeiro trimestre de 2010 com cotações muito próximas às médias observadas em 2008. Há casos em que as cotações já caminham para patamares médios de 2007, como o cobre, por exemplo.

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A recuperação no preço das commodities, que vem se tornando mais intensa e generalizada, ajuda-nos a levantar a seguinte constatação: as medidas de estímulo econômico (seja monetária ou fiscal) devem ser retiradas o quanto antes nos países que já se recuperaram, principalmente em emergentes como o Brasil e a China.

Se com o atual vigor das economias emergentes, os preços das commodities já mostram uma boa recuperação, imagine com a consolidação de um crescimento mais robusto para a economia americana, ainda que aquém do período pré-crise.

O encarecimento dos preços das matérias-primas já mostra sinais de repasse para a inflação, seguido de aumento nas expectativas inflacionárias. O minério de ferro com 90% de aumento de preço, por exemplo, tem poder de propagação sobre o preço de diversos produtos ao redor do globo, dado que é uma matéria-prima importante em diversos setores da economia no mundo.  

Obviamente não tem o mesmo poder de fogo de um aumento no preço do petróleo, o qual já se encontra em um nível superior a media de 2007. Mas o potencial de aumento do preço do óleo bruto e de outras commodities, dada a circunstância econômica atual (ainda aquém do potencial, pois EUA e Europa ainda estão em processo de recuperação) não é desprezível.

Deve-se pensar que a retirada de estímulos, sobretudo os de natureza fiscal, tem certo peso político, que muitos governos em vários países não querem bancar, pelo menos por agora (com taxas de desemprego elevadas).

Porém, a manutenção destes estímulos em lugares do globo onde a recuperação econômica já se mostra consolidada tornará mais fácil o repasse do encarecimento das matérias-primas até o consumidor final. Sobrará para as autoridades monetárias elevar suas respectivas taxas de juros para tentar estancar as pressões inflacionárias que ameaçam a aparecer no horizonte.

E com os EUA mantendo, ainda que por pouco tempo, suas taxas de juros em um nível muito baixo; é provável que observemos apreciação do câmbio das economias emergentes já recuperadas. O que de certa forma, corrobora para controlar a inflação.

Raphael Castro é economista e escreve mensalmente na InfoMoney.
raphael.castro@infomoney.com.br