Colunista InfoMoney: Santo Estado gastador, aumentai os investimentos

Precisamos, mais do que nunca, que o Governo priorize iniciativas que estimulem o consumo e o gasto

Cid Oliveira

Em tempos de crise, as questões relacionadas ao crescimento e ao desenvolvimento das nações deixam de ser o foco principal das políticas macroeconômicas. As preocupações centrais voltam-se para a redução dos prejuízos e para o salvamento de instituições que possam garantir, minimamente, o funcionamento do sistema.

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Vive-se um momento em que o não crescimento torna-se a condição “desejada”, tendo em vista o colapso que acomete empresas e países. As famílias tornam-se mais cautelosas na realização dos seus gastos e os trabalhadores lutam pela manutenção dos seus empregos.
Deixa-se de lado a idéia de que o livre funcionamento do mercado conduzirá a economia a uma situação ótima e evoca-se um Estado ativo e fortemente interventor. Ressuscitam-se teorias e pensadores há tempos esquecidos e tidos como inadequados para explicar a dinâmica econômica contemporânea.

“O Estado não pode esperar, como faz a iniciativa privada”

O que muitos esquecem é que a necessidade de o Estado participar ativamente da vida econômica de uma sociedade não está relacionada às especificidades de certo período histórico ou a alguma falha do sistema capitalista que deverá ser corrigida.
A intervenção estatal, através das ações planejadas das políticas fiscal, monetária e cambial, é condição fundamental para qualquer país que busca melhores condições de vida para a sua população.
Não é demais lembrar que as ações da iniciativa privada tendem a agravar situações de crise, pois são pró-cíclicas: a demanda cai, as empresas investem menos; a demanda cai mais ainda e o processo se realimenta. Somente o Estado é capaz de fazer intervenções anticíclicas na economia, visando combater momentos de crise e promover o desenvolvimento socioeconômico dos países.
Em artigo recentei, Paul Krugman (quem diria!) defendeu que, no momento, aumentar os gastos públicos é a decisão acertada a ser tomada pelo governo dos Estados Unidos e que as preocupações com os déficits deveriam ser deixadas de lado.
O governo chinês anunciou esta semana um pacote de investimentos de 4 trilhões de yuans, o equivalente a US$ 586 bilhões, com o propósito de estimular a economia, diante da redução da demanda interna e da crise internacional.
O mesmo receituário vale para a economia brasileira. O Governo não pode ouvir qualquer “vento soprado do norte” e reduzir gastos de investimento, sobretudo do PAC, com o argumento de a conjuntura não é favorável.
Precisamos, mais do que nunca, que o Governo priorize iniciativas que estimulem o consumo e o gasto, pois gastos de investimento são gastos em atividades-fim que conduzem o país ao caminho do desenvolvimento. Conclamemos o Estado keynesiano, interventor e gastador.
Como medidas complementares, constantes reduções nas taxas de juros, visando diminuir o custo de carregamento de reservas por parte do Banco Central e a administração de uma taxa de câmbio desvalorizada são as melhores políticas que o governo pode empreender.
Não obstante situações de crise possam permanecer por tempos indefinidos, o Estado não pode esperar, como faz a iniciativa privada, por condições favoráveis para a realização de gastos, pois o custo social do tempo de espera é alto demais.

iKRUGMAN, Paul. Não é hora de pensar no déficit. Trad. MIGLIACCI, Paulo. Folha de S.Paulo. Caderno Dinheiro. São Paulo, 18 de outubro de 2008.

Doutorando em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp, Cid Olival Feitosa escreve mensalmente na InfoMoney, às quintas-feiras.
cid.olival@infomoney.com.br

Cid Oliveira

Cid Maciel Monteiro de Oliveira CEO e sócio-fundador da startup invest.pro, Cid tem 18 anos de experiência, tendo atuado em instituições financeiras e gestoras no Brasil e no exterior. Graduou-se em Engenharia Civil pela UFRJ e concluiu mestrado em Finanças pela Manchester University na Inglaterra