Colunista InfoMoney: Retrospectiva 2009, um ano em que muito se aprendeu

Brasil passa por maior teste de sua história econômica; sistema financeiro doméstico foi o menos afetado pela crise mundial

Alex Agostini

Era verão de 2008 e a população brasileira desfrutava dos bons resultados conquistados ao longo de 2007, ano em que a economia nacional registrou a fartura de um crescimento de 6,1% do PIB – o maior desde 1986 (7,5%) – e geração de mais de 2,4 milhões de empregos. Era um oásis!

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A economia brasileira estava em franco crescimento e o cenário era animador, com projeções de expansão do PIB da ordem de 5,2% para 2008 e de 4,% para 2009. O ano de 2008 encerrou com crescimento do PIB de 5,1%, praticamente dentro das expectativas. O revés no cenário internacional, com a deflagração da crise no setor imobiliário dos Estados Unidos já em meados de 2008, não comprometeu muito o desempenho daquele ano, porém, frustrou qualquer expectativa de bons resultados para 2009. Mas o pior ainda estava por vir. No dia 19 de setembro de 2008, a crise eclodiu e teve como marco a falência do banco de investimentos norte-americano Lehman Brothers (1850-2008) – uma empresa centenária ruía!

Diante desse contexto, o ano de 2009 inicia sob os olhares apreensivos de analistas, investidores, empresários e consumidores, que estavam preocupados com o desfecho da crise mundial. A confiança do consumidor e de empresários despencou já no final de 2008 (-20%), pois a dúvida de perder o emprego (principal fonte de sustento da família) aumentava ainda mais com as notícias sobre as falências de mega-conglomerados ou mesmo com o anúncio, quase diariamente, de redução do quadro funcional.

Com a dúvida quanto ao futuro da economia brasileira e mundial, a taxa de câmbio (que é considerado um termômetro da confiança dos investidores estrangeiros na economia nacional) disparou e passou de R$ 1,56/US$ em agosto de 2008 para R$ 2,50/US$ em dezembro daquele mesmo ano, incorrendo em efeitos colaterais negativos sobre o nível de investimentos no País, que anotou queda superior a 15% no primeiro semestre de 2009.

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Sob o caos instalado, o governo federal e o Banco Central não ficaram de braços cruzados. Trabalharam rapidamente para que aquele cenário nefasto que se formava pudesse ser dissipado, ou ao amenizado, e adotaram importantes medidas de estímulo à manutenção da produção e preservação do nível de emprego e da renda.

Entre outras medidas, o Banco Central iniciou o processo de afrouxamento da política monetária reduzindo a taxa de juros da economia de 13,75% ao ano em dezembro de 2008 para atuais 8,75% ao ano – que é o menor nível da história do País. Além disso, o CMN (Conselho Monetário Nacional) também reduziu a taxa da alíquota dos depósitos compulsórios para elevar o volume de recursos disponível nos bancos e permitiu a compra de carteiras de crédito entre as instituições públicas e privadas.

O governo federal, por sua vez, decidiu reduzir a alíquota do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para veículos e para eletrodomésticos (linha branca), além de desonerar alguns produtos do setor da construção civil, bem como ampliou linhas de financiamento para imóveis e veículos utilizando os bancos públicos e aumentou os limites de recursos para empréstimos realizados pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social e Econômico).

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Passado o período de maior turbulência, que foi entre o último trimestre de 2008 e o primeiro trimestre de 2009, os indicadores sobre o nível de atividade no Brasil já registravam algumas melhoras. O destaque foi a recuperação dos índices de confiança dos consumidores e empresários, que apesar de permanecerem abaixo do nível observado antes da crise, em 2008, já caminham para recuperar o terreno e o tempo perdido.

A cotação do dólar reduziu sua volatilidade e retornou para o processo de valorização, reforçando o cenário positivo de fluxo de capital externo (financeiro e comercial) que migra para o Brasil e mantém a cotação da moeda nacional entre as mais valorizadas no mundo. Vale destacar que tal situação proporcionou ao Brasil reduzir seus índices de vulnerabilidade externa, com destaque ao aumento das reservas internacionais (volume de moeda estrangeira em poder do Banco Central) que já atinge US$ 240 bilhões, bem como tornar-se credor do FMI (Fundo Monetário Internacional) pela primeira vez na história e, ainda, ser graduado ao bloco de países classificados como“Investment Grade”, que são países com risco menor (mas não nulo) de “dar o calote” de suas dívidas.

“Brasil nunca tinha 
passado por um teste
tão rígido”

Aliás, é importante destacar que a “choradeira” dos setores exportadores quanto à perda de competitividade via preço dos produtos nacionais no exterior decorrente da valorização do Real tem que ser aparada. Primeiro, é fato que a valorização da moeda nacional deixa os produtos brasileiros mais caros no exterior, mas o ganho de produtividade e o crescimento econômico em alguns países, que elevam a quantidade consumida de produtos brasileiros, são tão importantes quanto ter o Real desvalorizado.

Pior! Não podemos esquecer que o Real desvalorizado incorre em alguns efeitos negativos para o restante da economia, como, por exemplo, redução do nível de investimento e consumo de insumo e matérias primas importadas, além do próprio efeito positivo de combate à inflação. Pois os produtos importados concorrem com os nacionais e os preços permanecem relativamente comportados, preservando o poder de compra da sociedade.

Nesse contexto, a taxa de juros permanece em nível baixo permitindo tanto o consumo de bens de maior valor agregado que, em geral, necessitam de financiamento, e colabora para a manutenção dos investimentos das micro, pequenas e médias empresas que utilizam os canais de financiamentos domésticos para financiar a expansão produtiva.

Por fim, mesmo o Brasil (e boa parte do mundo) ter passado por tensões financeiras e econômicas nunca vividas no mundo moderno globalizado, e que vão proporcionar um resultado pífio do PIB em 2009 (ao redor de 0%), ainda é possível comemorar. Pois, o sistema financeiro brasileiro foi o menos afetado pela crise mundial em decorrência de seus baixos níveis de exposição e alavancagem.

Tal condição alçou a credibilidade do País junto à comunidade financeira internacional a um patamar ainda maior que o observado antes da crise, pois nunca havia passado por um teste tão rígido, resultando em maior volume de investimentos no País, seja no setor produtivo ou financeiro, conseqüências essas que certamente proporcionarão maior potencial de crescimento econômico do País no médio e longo prazo, proporcionando melhores condições de equacionar (ou ao menos equalizar) problemas de países subdesenvolvidos como apagões e enchentes.

E que venha 2010!

Alex Agostini é economista-chefe da Austin Rating e escreve mensalmente na InfoMoney, às segundas-feiras.
alex.agostini@infomoney.com.br