Colunista InfoMoney: Quando o investidor individual faz a diferença

O número de pessoas físicas que entraram na Bovespa saltou de 456 mil no final de 2007 para 536 mil no final de 2008

Arleu Anhalt

A consistência do aumento da participação de investidores individuais no volume de negócios do mercado de ações mesmo depois do agravamento da crise financeira internacional tem indicado de modo crescentemente persuasivo que também as companhias devem ser consistentes na construção do seu relacionamento com as pessoas físicas.

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Não obstante a instabilidade no cenário econômico mundial e o aumento das incertezas sobre a profundidade e a duração da crise, o número de pessoas físicas que entraram na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) saltou de 456 mil no final de 2007 para 536 mil no final de 2008. Enquanto elas ampliaram sua participação no volume total transacionado de 23,01% em 2007 para 26,67% em 2008, os investidores institucionais diminuíram a sua de 29,77% em 2007 para 27,15% no mesmo período; e as instituições financeiras retraíram-se de 10,38% para 7,81%.

É claro que contribuíram os programas especiais da BM&F Bovespa, como o “Mulheres em Ação”, o “Bovespa vai à Praia”, o “Bovespa vai ao Campo”. Mas chama a atenção que uma vez mais a antiga máxima do mercado se confirma: acionistas individuais são fiéis e tendem a permanecer ao lado das companhias em períodos mais longos e nas fases mais adversas. Quanto mais bem construídas as bases desse relacionamento, mais leais e longevos eles se tornam.

“O requisito essencial para atrair o investidor pessoa física é a confiança”

Uma demonstração disso é a evolução recente do quadro de investidores da Petrobras, premiada por seu programa específico para pessoas físicas. Foi graças em grande parte a esse trabalho que nos últimos nove anos a companhia registrou um aumento de 330 mil acionistas pessoas físicas. O número saltou da marca de 152,5 mil no ano 2000 para 482,5 mil em fevereiro de 2009. Entre junho de 2008 e fevereiro de 2009, justamente no período em que se deram as turbulências nos mercados globais, conquistou 92 mil novos investidores individuais, dos quais cerca de 10 mil entre setembro e dezembro, a fase mais aguda da crise financeira internacional.
Outro exemplo bem distinto que, no entanto, ilustra a relevância das pessoas físicas é o da Sadia. Um dos grandes destaques do anúncio dos seus resultados de 2008 foi a ampliação da sua base de acionistas: um aumento de 90% entre janeiro de 2008 e fevereiro de 2009, sendo que o número quase dobrou no período mais crítico da crise global e da própria história da companhia. Entre setembro de 2008 e fevereiro de 2009, a base saltou de 18,5 mil para 32,5 mil.
Isso não obstante a crise global e o desfecho de suas posições em operações com derivativos que resultaram em intensa exposição na mídia e no primeiro prejuízo de sua história de 64 anos. Claro que o preço das ações caiu e isso estimulou a compra de ações. Mas o fato de ter quase dobrado o número de acionistas pessoas físicas pôde ser associado à percepção sobre o seu passado e os seus fundamentos.
Assim como acontece com fundos e demais investidores institucionais, o requisito essencial para atrair o investidor pessoa física é a confiança. Todo aquele que compra participação em uma companhia, por menor que seja, quer assegurar-se de que os recursos serão bem geridos, terão um bom destino e darão retorno. Se na substância não há distinção entre pessoas físicas e jurídicas, na forma é tudo, ou quase tudo, diferente: os canais de acesso, as apresentações, o website, a linguagem e até o modo como os executivos da companhia se vestem nas reuniões individuais ou nas apresentações públicas.
Em relação aos Estados Unidos, onde mais de 90 milhões de pessoas investem no mercado acionário, o Brasil tem um longo caminho a percorrer. E as companhias têm um papel fundamental nesse processo. Apoiadas por programas públicos, cabe a elas implantar programas específicos para pessoas físicas e investir no relacionamento de longo prazo. Para isso existem ferramentas muito eficazes, já longamente testadas pelas companhias norte-americanas e também pelo pequeno grupo de empresas brasileiras que já avançou nessa direção.
Para assegurar posição de destaque nas carteiras de investidores, a receita da FIRB é integrar várias frentes de ação, a partir da definição dos objetivos, do planejamento de ações, identificação de recursos necessários, preparação da companhia e de materiais, definição de canais, participação de eventos, mapeamento das bases acionárias e de potenciais alvos para orientar ações.
Quanto mais as companhias conseguirem avançar na diversificação da base acionária, menos voláteis serão as cotações e mais líquidos serão os seus títulos.

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Arleu Anhalt é presidente da FIRB, ex-presidente executivo e atual membro do conselho de administração do IBRI e escreve bimestralmente na InfoMoney, às quintas-feiras.
arleu.anhalt@infomoney.com.br