Colunista Infomoney: Quando a euforia se torna um risco

Riscos se tornam maiores quando não são percebidos por olhos já habituados a testemunhar o sucesso; expectativa deve ser positiva, mas preparada e contida

Ingo Plöger

O presidente coloca seu discurso oficial de lado e inicia seu improviso. Aquilo que há anos atrás representava um risco, agora se torna um privilégio. Em outubro deste ano, à frente de uma platéia de centenas de empresários europeus, Lula finalizou sua palestra sendo ovacionado de pé. Não foi diferente em Hamburgo, no início deste mês, após a apresentação de seus ministros sobre a situação do Brasil: o presidente coloca seu discurso oficial de lado e fala aos presentes de maneira didática, entusiasmada, com números, dados e emoções; novamente é aplaudido de pé pelos seus ouvintes nórdicos.

Publicidade

O Brasil é a bola da vez; tem tido uma administração coerente e eficaz durante os últimos 16 anos e está colhendo seus frutos. É bom assim, e nós precisamos nos acostumar com o fato de que o sucesso também acontece no Brasil.

É natural que governos e administradores busquem para si os louros da vitória, mesmo sabendo que deveriam dividi-los com todos os integrantes da nação. Mas faz parte da democracia ser partidária, tendenciosa, buscando demonstrar na competição que se é melhor do que seu adversário. O povo sabe distinguir entre aquilo que é otimismo exagerado e pessimismo nato, pois vive a realidade e busca na circunstancia a sua melhor opção.

De fato o Brasil tem desenvolvido fundamentos econômicos sólidos e sua economia é comparativamente aberta e se expõe à competição internacional. O consumo interno foi a base de sustentação para sair mais rápido da crise e continua a alimentar os fundamentos para a evolução conjuntural futura sem necessariamente ser inflacionária.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Durante uma crise, a liderança tem que infundir mais otimismo aos liderados do que quando se está em período de bonança, a fim de evocar esforços e esperança de um amanhã melhor. Assim, os estímulos ao consumo difundidos em 2009 foram importantes para se sair mais rapidamente da recessão. Obtivemos bons indicadores nos setores de grande impacto na renda e no trabalho, como o setor automotivo, linha branca, construção civil e eletro eletrônicos, apenas para citar alguns. E a arrecadação de impostos, apesar de menor do que a do ano anterior, foi bem melhor do que a esperada para este ano de crise.

A sensação é de que o ano de 2010 será um ano maravilhoso e teremos, à parte a questão cambial e consequentemente a exportação, um ano de crescimento significativo no mercado interno. O que temos a temer? Felizes, sim, vamos às festas e comemoraremos os grandes momentos que virão…

Mas os riscos se tornam maiores quando não são percebidos por olhos já habituados a testemunhar o sucesso e que nos deixam despreparados para o revés… Ora, dirão os leitores, tem que ter sempre um pessimista de plantão para arruinar nossa expectativa de um bom desempenho e um futuro promissor?

Continua depois da publicidade

Os preços das commodities aumentaram nos últimos seis meses acima do racional, em termos econômicos. O barril de petróleo, que no início de 2009 era cotado em 40 US$/barril, elevou-se para mais de 78 US$/barril sem que a atividade mundial estivesse em crescimento, pelo contrário. O mesmo se dá com a tonelada de cobre, zinco, minério de ferro e também com algumas commodities alimentícias.

Essa escalada de preços repentina, acompanhada de um surto de alta mais prolongada nas bolsas de valores sem que houvesse balanços muito melhores, apontam que de novo o sistema financeiro está entrando em áreas de aplicação como em 2008, dando razão a estes aumentos. A captação a custo quase zero, busca por aplicações melhores são, neste momento, algumas commodities e alguns papéis na bolsa que representam aparentemente riscos menores do que oferecer às empresas recursos para sair da crise.

Não é por menos que o Banco Central Europeu já anunciou que não vê mais necessidade de ajuda de sustentação devido à crise; ainda não aumentou os juros, mas como aguçado observador de seu mercado, percebe onde esta onda pode levar e já levou…

Continua depois da publicidade

O Brasil é a bola da vez. Viva! Porém, aqui vem a outra notícia – isto não é mais conhecido apenas por poucos – o que leva muitos a buscarem aplicações de curto prazo rentáveis, para quem tem uma Selic de 4% acima da inflação. E, além disto, os ativos brasileiros na bolsa ainda parecem bem atrativos, porque com este consumo e estas perspectivas então, nada melhor do que buscar o que outros já descobriram.

O ano de eleição faz com que se carregue nas tintas. O risco é se o governante sabe que isto faz parte do jogo, ou se acredita que realmente estamos muito melhores e fora de qualquer risco. A euforia é uma péssima conselheira para um administrador, porque ela é cega e surda e dá margens a um exagero sem fim.

Estaremos em um ano de transição do poder democrático em nosso país; teremos que saber que durante esta transição riscos econômicos externos e internos poderão ocorrer. Nada melhor do que manter um tom de otimismo contido, sem exageros e sem ufanismo, para prepararmos o campo para as nossas tarefas ainda incompletas.

Publicidade

Sabemos que não devemos mais esperar por reformas como a política, tributária, trabalhista e previdenciária neste ano; temos que saber preparar os debates sobre essas reformas, para que o futuro governante possa realizá-las em seu primeiro ano de governo, caso contrário, teremos que esperar mais quatro anos e este é um risco institucional que o Brasil não merece.

Que tenhamos todos um Natal muito feliz e uma expectativa positiva – mas preparada e contida – para um bom Ano Novo!

Ingo Plöger é empresário, engenheiro economista, conselheiro de empresas nacionais e internacionais e presidente da IP Desenvolvimento Empresarial Institucional. Escreve mensalmente na InfoMoney, às sextas-feiras.
ingo.ploger@infomoney.com.br