Colunista InfoMoney: Os Muppets do IPEA

Os Muppets abandonaram a televisão e invadiram o IPEA. Resolveram fazer pesquisa econômica aplicada sem perderem o faro para a confusão

João Alberto Brando

Quem não se lembra do Muppet Show? O programa de TV com uns personagens de fantoche bizonhos que se assemelhavam a animais e viviam entrando em confusão. Aqui no Brasil, os personagens ficaram mais conhecidos com o desenho animado Muppet Babies que passava em canal aberto na década de 90.

Publicidade

Mais recentemente, os Muppets abandonaram a televisão e invadiram o IPEA. Resolveram fazer pesquisa econômica aplicada sem perderem o faro para a confusão. Assim como na TV, os Muppets do IPEA são liderados por Caco, ou Marcio Pochmann na versão do Instituto de Pesquisa. Caco é um sujeito de fala mansa que vive no mundo da lua fantasiando em conquistar sua paixão, a Miss Piggy.
O gigantismo estatal é a Miss Piggy de Pochmann. A Miss Piggy é uma charmosa e simpática porca loira de olhos azuis que sonha em virar estrela de TV, mas quando contrariada se torna violenta e agressiva. O Estado Miss Piggy é o idealizado por Pochmann.
Os Muppets do IPEA também são fantoches. São manipulados por ideias retrógadas de um desenvolvimento econômico a ser conquistado somente via intervenção direta de um Estado paternalista e onipresente na economia.

“Se há desigualdade nas jornadas, foi um ajuste natural da economia”

A última sugestão de intervenção estatal que o IPEA e Pochmann apresentaram foi o de redução da jornada de trabalho para 37 horas semanais em substituição das 44 horas atuais. Segundo um estudo do instituto de pesquisa, só assim haveria condições de o país atingir o pleno emprego. Ao lançarem a panaceia para a plateia de desempregados, no entanto, os pesquisadores esqueceram de avisar que isto estará associado à redução salarial do pessoal atualmente empregado. Sem contar os custos adicionais para o empregador que diminuiriam a competitividade da indústria e a perda de eficiência de se criar praticamente um quarto turno na jornada de trabalho.
Ao constatar que a distribuição do tempo de trabalho é desigual no país, com muitas pessoas trabalhando mais que 44 horas por semana e muitos com carga horária bastante reduzida, Pochmann comenta que “uma melhor redistribuição dessa jornada permitiria mais pessoas ocupadas do que a simples redução da jornada oficial”. O economista esquece de observar que esta redistribuição não pode ser imposta e o status atual tampouco foi fruto de uma decisão deliberada de algum ente do mercado.
Se há desigualdade nas jornadas, foi um ajuste natural da economia. Alterar esta distribuição requer intervenções nos mecanismos de incentivo do mercado de trabalho que invariavelmente tem como consequências o aumento nos custos de contratação e o crescimento de informalidade.
O estudo do IPEA complementa seu argumento dizendo que o fim do desemprego com a redução da jornada de trabalho só será possível assumindo a premissa de manutenção dos investimentos no aumento de capacidade produtiva e com uma evolução do PIB acima de 4% ao ano. Nada mais óbvio. Com soluções deste tipo, até mesmo Gonzo ou Animal poderiam sugerir políticas públicas. E pelo visto eles já estão fazendo isso.

João Alberto Peres Brando é economista e escreve mensalmente na InfoMoney, às sextas-feiras.
joao.brando@infomoney.com.br