Colunista InfoMoney: Os gatilhos de preços na economia

Alguns economistas não descartam uma pequena probabilidade de explosão nos preços caso a autoridade monetária perca o time das medidas necessárias

Ricardo André Jacomassi

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O que países com maiores problemas ocasionados pela crise mundial, como os EUA e a maioria dos países da União Europeia, não precisavam neste momento são os aumentos dos preços das commodities minerais, energéticas e agrícolas, ou seja, das matérias-primas.

Esta afirmação é justificada ao ser levado em conta um dos tipos de variação positiva de preços mais prejudiciais para as economias: a Inflação de Custo. De forma geral, este tipo de inflação é constituído pelo aumento dos preços das matérias-primas (commodities em geral) e dos demais componentes de fatores de produção. 

“Alguns economistas já não descartam
uma pequena probabilidade de ocorrer
uma explosão nos preços caso a
autoridade monetária [no Brasil]
perca o time das medidas necessárias”

Ao serem analisados em seu contexto mais amplo, os efeitos da inflação de custo na economia, além de conterem um viés totalmente negativo, repassam os preços para toda a cadeia de produção causando um efeito cascata em toda a economia.

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Por outro lado, a Inflação de Demanda que é determinada pelo aumento dos preços devido à expansão do consumo das pessoas (rotineiramente isso acontece quando os consumidores estão gastando mais devido ao aumento da sua renda e do emprego), é a inflação tão almejada pelas economias centrais, como a dos EUA.

Mas qual a razão para a busca da Inflação de Demanda? A resposta pode ser dada de forma simples: com a retomada do consumo os preços tendem a subir; significa, portanto, maior produção de bens, a qual promoverá crescimento da indústria e do setor de serviços. O resultado final será o aumento do número de empregos e dos salários.

O gigantesco volume de dólares injetado na economia norte-americana tem como objetivo principal estimular o consumo, e consequentemente a inflação de demanda. Os economistas costumam dizer que o aumento da moeda em circulação eleva os níveis de preços – no caso norte-americano este processo vem apresentando sinais insatisfatórios e muitos afirmam que deverá ocorrer somente no longo prazo.

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No gráfico, observam-se as trajetórias históricas das commodities através dos índices que representam a cesta geral. Neste sentido, as altas que vem ocorrendo nos últimos meses estão sendo motivadas pelo consumo chinês, pela especulação financeira, pelos ajustes de produção (no caso das mineradoras) e por expectativas de quedas de safras (no caso das agrícolas). Diante desse cenário, observa-se que os chamados gatilhos de preços dos insumos a qualquer momento vão provocar choques negativos nas economias.

Para o Brasil, o atual momento apresenta gatilhos para os dois tipos de inflação. No caso da inflação de custo o problema se concentra na cotação internacional das commodities, pois os preços são formados em outras regiões como a Bolsa de Chicago, no caso das agrícolas, e a LME – Londres, para os metais. Para que os preços dessas commodities não contaminem a economia, a única solução vem da valorização do real. Portanto, é válido afirmar que a valorização do real contribuiu para a acomodação dos preços ao longo dos meses de 2010.

Por outro lado, os gatilhos da inflação de demanda advêm das determinantes da renda e da pré-disposição de consumir do brasileiro. Os determinantes da renda são: o aumento dos salários e o aumento da criação de vagas formais de emprego, além da oferta de crédito. Para amortecer estes gatilhos é necessário que o Banco Central eleve as taxas de juros e diminua a oferta de crédito na economia. Além dessas medidas monetárias é fundamental a redução dos gastos correntes do Governo do ponto de vista da política fiscal.

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De forma geral, diante desse cenário doméstico e externo não restam dúvidas quanto aos riscos inflacionários na economia brasileira em 2011. Alguns economistas já não descartam uma pequena probabilidade de ocorrer uma explosão nos preços caso a autoridade monetária perca o “time” das medidas necessárias. E quais serão os remédios? Juros e redução da liquidez monetária.

Ricardo Jacomassi é economista, professor e estrategista de investimentos e escreve mensalmente na InfoMoney.
ricardo.jacomassi@infomoney.com.br