Colunista InfoMoney: o yuan nas intenções e na prática

A desvalorização do câmbio deverá ser lenta e gradual, no ritmo milenar chinês, não no ritmo da sua economia atual

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Em meados de junho, o Banco Popular da China anunciou e permitiu a flexibilização do yuan renminbi, a moeda chinesa. Leia-se que esta flexibilização na prática significa a valorização da moeda chinesa perante o dólar, movimento tão aguardado e alardeado pela comunidade internacional, principalmente por parte dos EUA. Leia-se também, nas entrelinhas, que na prática essa valorização será lenta, gradual e mais intencional do que efetiva.

A política de manter o yuan desvalorizado foi um dos vetores fundamentais para puxar o crescimento chinês nas últimas décadas. Entre os outros vetores, está o famigerado custo de mão-de-obra chinês, que é menor comparativamente ao resto do mundo, somado aos custos ambientais também relativamente reduzidos se comparados a outras partes do globo (é só observar como o nível de poluição da China cresce assustadoramente). Assim, além destas vantagens comparativas em termos de competitividade dos produtos chineses já conhecidos por todos, o câmbio desvalorizado serve como um anabolizante desta competitividade chinesa.

Câmbio desvalorizado
serve como anabolizante
da competitividade chinesa”

A prática não é nova e já foi adotada diversas vezes ao longo da história. Na própria Ásia, os chamados Tigres Asiáticos também assentaram seu padrão de desenvolvimento econômico sobre a plataforma exportadora. Isto é, criaram a sua indústria visando a atender, em um primeiro estágio, a demanda internacional por produtos produzidos nestes países. E para competir diante dos produtos já existentes no mercado mundial, de qualidade já reconhecida, o preço deveria apresentar um nível competitivo muito forte para que a demanda internacional deslocasse seu consumo na direção destes produtos de novas origens.

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Foi assim que a China acumulou ao longo dos anos elevados superávits comerciais, sobretudo com os EUA, fomentando seu parque industrial e criando postos de trabalho para uma população tremendamente grande. Com o passar do tempo, esses postos de trabalho foram permitindo também a criação de um mercado consumidor interno maior e mais consolidado que possibilitasse deslocar parte da orientação da produção chinesa voltada para o setor externo para atender o mercado interno.

Diante da crise internacional, a China viu-se obrigada a dar maior importância à sua demanda local, uma vez que a demanda internacional (sobretudo os EUA) secou. Essa foi justamente a estratégia usada pelo Brasil, contudo com maior eficácia, uma vez que nosso mercado interno já é maduro se comparado com o chinês.

Esse fato prático e compulsório colaborou e muito com a discussão em relação à moeda chinesa que já se arrasta durante anos. Mesmo antes da crise, especialistas e autoridades já vinham pressionando o governo chinês para a adoção de uma moeda mais flexível que possibilitasse a correção de desequilíbrios econômicos comerciais, principalmente com relação à economia americana, que possui um enorme déficit comercial.

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No contexto econômico atual, isto é, de fomento da recuperação econômica global, sobretudo dos EUA e da Europa, a valorização do yuan se faz necessária. Novamente a discussão ganhou enorme peso no debate econômico, uma vez que estes países precisam recuperar postos de trabalhos e corrigir os déficits acumulados ao longo dos últimos anos. A mola propulsora desse movimento para esses países seria o mercado externo, e não o mercado interno, que se encontra atualmente esmorecido.

Dessa forma, torna-se crucial recuperar a competitividade diante da China, que hoje detém o posto de importante fornecedor mundial de produtos industrializados e assusta qualquer industrial de qualquer país por conta das suas vantagens comparativas – que, recapitulando, são os custos ambientais e de mão-de-obra baixos e o câmbio desvalorizado. Mas é consenso geral que a redução de uma dessas vantagens, o câmbio, será lenta e gradual, no ritmo milenar chinês, e não no ritmo da sua economia atual.

Raphael Castro é economista e escreve mensalmente na InfoMoney.
raphael.castro@infomoney.com.br