Colunista InfoMoney: o futuro do agronegócio

O setor brasileiro sofreu profundas transformações que afetam, e continuarão afetando, a dinâmica de suas cadeias produtivas

Adriana C. P. Vieira

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Publicação recente do MAPA – A Cadeia Produtiva da Carne Bovina, Série Agronegócios, vol 9 – indica que o crescimento da população mundial é um dos principais determinantes da demanda por produtos agrícolas (responsável por 70% do crescimento do consumo), sendo que o aumento da renda e outros fatores respondem por 30%.

Para o período até 2015, estudo da OCDE estima uma taxa média de crescimento da população mundial de 1,1% ao ano (com fortes diferenças entre países), que associada ao crescimento da renda per capita deverá contribuir para aumentar a demanda por produtos de maior valor agregado, como carnes e laticínios.

Em conseqüência, o agronegócio brasileiro sofreu profundas transformações que afetam, e continuarão afetando, de forma substancial a dinâmica produtiva e tecnológica de todas as cadeias produtivas, afetando inclusive, o contexto institucional — regras e normas de comércio, exigências dos consumidores, tecnologia utilizada, políticas gerais e setoriais e traços culturais que condicionam a economia e a sociedade — no qual está inserido.

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A economia brasileira, no plano interno, relativamente fechada até os anos 90, foi submetida a um verdadeiro choque institucional com a abertura comercial, muito mais abrangente e profunda do que a praticada pela maioria dos países em desenvolvimento. As políticas agrícolas e comerciais que caracterizaram o período 1970-80, e que, independente de distorções e insuficiências, contribuíram de forma decisiva para a modernização tecnológica do setor agropecuário e para a formação/consolidação da agroindústria processadora e produtora de máquinas e insumos agropecuários, entraram em crise profunda e se tornaram, em grande medida, inoperantes e ou ineficazes.

No plano internacional, o processo de globalização alargou-se em termos geográficos e se aprofundou em conteúdo de maneira considerável. A integração da China ao mercado mundial, bem como sua adesão à OMC, são ao mesmo tempo os símbolos mais marcantes da globalização e os fatores de maior impacto no comportamento recente dos mercados mundiais. Além da China, é notável a presença de países como Índia, Rússia, África do Sul e das ex-repúblicas soviéticas como new players do mundo globalizado, ao qual o Brasil vem se integrando com posição de liderança no grupo conhecido como G-20.

“A demanda mundial
de alimentos busca
atributos de qualidade
e responsabilidade social”

A OMC consolidou-se como uma das instituições mais importantes da nova governança global, com certa capacidade para definir e impor regras de comércio e como lócus de arbitragem de conflitos de interesses relacionados à compatibilidade de políticas domésticas com as regras internacionais. Os acordos de integração subregional se tornaram realidade e hoje condicionam não apenas o comércio como as próprias políticas domésticas e o jogo político internacional.

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A segurança dos alimentos, até pouco quase ignorada pelos consumidores, é hoje um forte condicionante para o acesso a mercados mais dinâmicos e um fator determinante de vantagem competitiva nos mercados globais. As exigências relacionadas à segurança dos alimentos se traduzem em normas técnicas do comércio ou barreiras não tarifárias (BNT) que são hoje mais importantes do que as barreiras tarifárias. Ao mesmo tempo que funcionam de fato como barreiras, como pré-condições para participar do comércio mundial e de acesso aos mercados, também desempenham um papel relevante na determinação de vantagens competitivas entre firmas e países.

Cresce, em todo o mundo, a busca por produtos mais associados à natureza, em uma reação ao que muitos consideram uma excessiva industrialização do alimento. Neste contexto, atributos pouco valorizados no passado, como a produção orgânica ou agroecológica, ganham importância, e passam a ser fator de agregação de valor aos produtos: os consumidores buscam maior diversidade e intensidade de sabores, também reagindo à chamada “comida de isopor”. Os mercados reagem à sazonalidade que sempre marcou o comércio agropecuário e exigem um fluxo regular de abastecimento ao longo do ano.

Ao lado da qualidade (safety food), outro fator chave para o funcionamento das cadeias produtivas do agronegócio é a conscientização da população sobre a gravidade do problema ambiental, seja no plano local, seja no plano global.

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A demanda mundial de alimentos busca atributos de qualidade e responsabilidade social. Assim, o diferencial do produto agroalimentar deve, necessariamente, assegurar a comprovação e a confiança do consumidor, através de sistemas estruturados e formalizados que propiciem os procedimentos de avaliação da conformidade, identificação de origem e a rastreabilidade (identificados, especificados, formalmente descritos e homologados mediante protocolos de normas técnicas) de processos produtivos adotados.

Os controles sanitários realizados devem ser equilibrados recaindo não somente sobre os produtos industrializados, mas também sobre os produtores das matérias primas. É importante ter o conhecimento de todos os elos da cadeia alimentar, pois quando houver algum acidente sanitário, fica mais fácil identificar onde ocorreu o problema, mesmo que para isso haja o aumento de custos de transação. Assim, o governo deverá ter um controle eficiente de toda a cadeia, tendo em vista sua enorme responsabilidade na questão da segurança dos alimentos com a sociedade.

O Brasil tem começado a tomar mais consciência da importância da segurança dos alimentos, pois começou a quebrar alguns paradigmas, tendo em vista que os órgãos responsáveis por garantir a inocuidade dos alimentos estão realizando um trabalho integrado e programado não só para o consumidor brasileiro, mas para o de outros países, dada a importância do país como grande exportador desses produtos.

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Este artigo contou com a colaboração do Prof. Antônio Márcio Buainain, professor de Economia na Unicamp, além de pesquisador e professor do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT), Programa de Políticas Públicas, Estratégia e Desenvolvimento (PPED), liderado pela UFRJ

Adriana Vieira é mestre em Direito, doutora em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp, pós-doutoranda no Instituto de Geociências da Unicamp e bolsista do PNPD/CAPES, além de pesquisadora associada do GEOPI, Bioen/Fapesp e INCT/PPED/UFRJ.
adriana.vieira@infomoney.com.br