Colunista InfoMoney: O fantasma da inflação e a Selic

Com expectativas inflacionárias, aperto monetário deve vir à tona; taxa básica de juros acima de dois dígitos já em 2010

Tomás Fonseca Goulart

Se voltarmos no tempo até o final de 2007, poderemos ver um filme muito semelhante ao que estamos prestes a observar hoje. Naquela época, o ritmo de crescimento da atividade econômica doméstica ainda deixava dúvidas e o patamar de inflação ainda era contido.

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Mas o início de 2008 já nos trouxe uma confirmação do cenário que estava a ocorrer. A inflação começou a tomar uma trajetória preocupante e o ritmo de crescimento econômico forte se confirmou.

E agora, o que poderemos esperar para 2010? Não é mais surpresa para ninguém que a atividade econômica interna está numa rota muito forte, que deve nos levar a um crescimento acima de 5,5% em 2010.

Agora, a pergunta que não quer calar é a seguinte: E o que acontecerá com a inflação? A teoria econômica nos ensina que se o crescimento econômico está acima do nosso potencial, isso se refletirá na inflação.

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“Ainda nesse ano,
voltaremos a ver
a Selic na casa dos
dois dígitos”

O primeiro trimestre de 2010 traz um calendário bem carregado de inflação. O problema é que a percepção inicial de que essa alta seria limitada no tempo começa a perder o charme e instituições relevantes começam a supor que a trajetória de preços é preocupante. O risco é de que esse processo seja visto como permanente e comece a afetar fortemente as expectativas de inflação

Esses pontos são suficientes para justificar uma postura mais firme do Banco Central e para que ele comece o quanto antes a implementar um aperto na política monetária. Infelizmente, não foi dessa vez que entramos em uma trajetória de juros fortemente cadente.

O esforço do BC para mitigar os efeitos da crise foi muito auspicioso, mas, no momento em que está clara a recuperação da atividade econômica e que surgem primeiros problemas relacionados à inflação, a normalização (claramente o BC levou o juro real abaixo do que seria seu equilíbrio) monetária tem que ser iniciada. Ainda esse ano, veremos a Selic retornando ao patamar de dois dígitos.

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A convergência de longo prazo dos juros reais domésticos está mantida, mas, nesse caso, podemos ser prejudicados pela nova política fiscal do governo. Após a eclosão da crise econômica mundial, houve uma mudança radical na forma do governo de praticar sua política fiscal, adotando medidas muito mais expansionistas e mantendo-as mesmo quando a percepção de recuperação econômica é generalizada.

Isso atrapalha a convergência da economia brasileira rumo a taxas de juros reais mais baixas. Se o governo optar por voltar a fazer política fiscal mais apertada, a trajetória de juros reais futuros voltará a ser muito mais cadente.

Tomás Goulart é economista da Modal Asset Management e escreve mensalmente na InfoMoney.
tomas.goulart@infomoney.com.br