Colunista InfoMoney: O deslocamento das taxas de juros internacionais

A única solução para reduzir o estresse nos bancos centrais virá de um choque não gradualista nas expectativas de que os preços vão subir nas amplitudes indicadas atualmente

Ricardo André Jacomassi

Publicidade

A aceleração da inflação nos países emergentes e a estabilidade nos países ricos estão provocando uma mudança na distribuição mundial das taxas de juros. Na tentativa de elucidar este movimento e antecipar o cenário internacional de juros e inflação buscaram-se através deste artigo, escrito pelos economistas Ricardo Jacomassi e Wagner Dezembro, os vetores que estão deslocando os preços.

As expectativas de aumento nos preços nas economias emergentes estão causando estresses nos Bancos Centrais de países como Brasil, China e Rússia. Para entendermos como funciona esta dinâmica devemos, primeiramente, apontar os vetores que estão provocando esta mudança estrutural. No momento atual, o gatilho está sendo a alta das commodities e o aumento da renda nas economias supracitadas.

“É fundamental que as políticas monetárias
adotadas como as do Banco Central do
Brasil persigam as expectativas dos agentes e
deteriorem a rigidez imposta pelo mercado”

Ambas estão deslocando o ponto de equilíbrio entre a oferta e a demanda mundial por bens. Esses desalinhamentos tendem a permear as medidas de efeitos incertos que buscam forçar os preços para baixo. Porém, talvez este não seja o problema de fato, mas sim a resiliência das expectativas dos agentes financeiros e econômicos. Mesmo que os bancos centrais lancem medidas para conter os preços, o efeito pode ser nulo devido à consistência das expectativas futuras precificadas na conjuntura em destaque. 

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

O movimento da economia mundial está sendo direcionado em boa parte pelas expectativas de aumento de preços, sendo que estas são determinadas por um viés voltado para o campo especulativo. Portanto, a única solução para reduzir o estresse nos bancos centrais virá de um choque não gradualista nas expectativas de que os preços vão subir nas amplitudes indicadas atualmente.

No gráfico podemos observar a evolução da inflação mensal, através de número índice, desde o ano de 2001 do Brasil, região do Euro, Eua e Rússia. Os principais destaques a serem observados referem-se à evolução persistente dos índices de inflação do Brasil e da Rússia. Sem esmiuçar os detalhes do movimento de alta, vale ressaltar que ambas as economias possuem uma correlação muito forte com o mercado de commodities. Constata-se, portanto, que a inserção dos emergentes na economia mundial desde o ano de 2001 deslocou positivamente os seus preços internos e contribuiu para uma elasticidade das cotações das commodities no campo internacional.

Fonte: Banco Central do Brasil, Federal Reserve, Banco Central Europeu e Banco Central da Rússia.

Continua depois da publicidade

A hipótese do deslocamento da taxa de juros mundial está circundada na aceleração dos preços domésticos dos alimentos e dos imóveis nos mercados emergentes e do seu contágio na economia mundial via os canais transmissores existentes nos mercados financeiros. Outro elemento que ajuda a compreendermos a hipótese refere-se à posição arbitrária imposta pelos programas de recuperação das economias centrais, bem como a deterioração do setor fiscal, pois os objetivos dos programas fiscais estavam direcionados para o aumento do consumo interno e a teoria econômica explica que por trás do aumento da demanda os preços sobem, implicando na elevação dos juros e criando um arcabouço para as expectativas rígidas.

Portanto, é fundamental que as políticas monetárias adotadas como as do Banco Central do Brasil persigam as expectativas dos agentes e deteriorem a rigidez imposta pelo mercado. De fato, os esforços das grandes economias emergentes se concentrarão nos próximos trimestres através da implementação de medidas que visam deteriorar a expectativa do mercado quanto à inflação futura.

Estas medidas terão sucesso somente quando a liquidez internacional der indícios de arrefecimento e o consumo doméstico crescer a uma velocidade próxima as taxas de inflação, ou seja, entre os intervalos de 3% a 5% ao ano. Por outro lado, enquanto estas medidas demorarem a ser levadas à prática por meio de providências concretas, o deslocamento das taxas de juros internacionais persistirá.

Ricardo Jacomassi é economista, professor e estrategista de investimentos e escreve mensalmente na InfoMoney.
ricardo.jacomassi@infomoney.com.br

Este artigo contou com a contribuição de Wagner Dezembro.