Colunista InfoMoney: O câmbio não é a cura

De que adianta IOF e controle do Banco Central se governo gasta mal? repelir investimentos no Brasil, que não tem poupança interna, não faz qualquer sentido

raphaelcastro

Voltarei ao tema de comércio mundial, passando obviamente pelo assunto da moda que é a taxa de câmbio. Todavia, não cansarei o leitor discorrendo só sobre os vetores de apreciação do câmbio – conforme fiz no penúltimo texto do dia 02/09/09. Mesmo porque os fatos estão aí – o câmbio continua caindo. Pretendo me acercar mais do que vem se passando na imprensa, as discussões e as políticas adotadas pelo governo (em particular, taxar com IOF os investimentos financeiros estrangeiros). Mas pelo que tenho observado, tanto para o governo como para o setor exportador (grandes industriais na sua maioria), a solução se resume apenas ao câmbio – já até vi quem ecoasse, pelos jornais, o controle da taxa de câmbio.

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Parte significativa dos investimentos que entram no país, de caráter financeiro e não financeiro, levam em conta o sucesso do nosso regime de metas de inflação e todos os benefícios que ele gerou nos últimos anos. Neste regime, não se controla a taxa de câmbio. Além do que, a inflação baixa, significa menor corrosão de renda (sobretudo para os mais pobres) mais investimentos … e mais votos. Portanto, é muito difícil imaginar o seu fim.

O principal instrumento desse regime (para controlar as expectativas de inflação) é a taxa de juros. Sabe-se que a brasileira caiu muito por conta da crise, mas continua sendo uma das mais altas do mundo – o que atrai investimentos financeiros, corroborando para a apreciação do câmbio. Um dos condicionantes do nível dessa taxa de juros são os gastos do governo – política fiscal. A qual expandiu bastante nos últimos meses, em boa hora para conter os efeitos da crise. Contudo, boa parte dos gastos do governo são gastos correntes (pagamento do aparelho estatal) e não são investimentos. Dessa forma, só contribuem para incrementar a demanda, gerando pressão inflacionária – sem gerar incremento na capacidade produtiva do país.

“Repelir investimentos em um país que não tem poupança interna não faz sentido”

Se os gastos do governo não diminuírem no próximo ano, com a recuperação da demanda externa, somada à já observável recuperação do nível de atividade brasileiro, será uma pressão adicional de demanda. Para manter a inflação no lugar, o Banco Central não terá alternativa e deverá aumentar a taxa de juros no próximo ano – e é o que o mercado financeiro está precificando. Passando para a questão cambial, ainda que as economias desenvolvidas comecem a trazer suas taxas de juros para um patamar neutro, o diferencial entre as taxas de juros internacionais e a taxa de juros brasileira continuará grande. E não será o IOF de 2% que repelirá os investimentos. Alguns afirmam que o imposto deveria ser maior, para afugentar mesmo. Agora, repelir investimentos em um país que não tem poupança interna (o governo, por exemplo, só gasta e gasta mal, não investe)? Não faz sentido – talvez em um primeiro momento gere benefício só para quem falou. Ademais, entra a lógica oportunista de aumento de arrecadação para o governo, para se traduzir depois em mais consumo do governo.

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Esses são só alguns dos fatores que corroborarão para apreciar o câmbio nos próximos meses – há gente que diga que ele pode chegar abaixo de R$ 1,60. Mas como apontado no parágrafo anterior, o aumento dos gastos correntes do governo favorece o aumento do diferencial da taxa de juros. E toda a questão fiscal no Brasil faz parte do que chamamos de custo Brasil. Além, deste aspecto está também à falta de infra-estrutura ou precariedade da já existente, a reforma trabalhista, política…

Em suma, as famigeradas reformas, mas que tem ficado no esquecimento nos últimos anos, quando tudo ia bem; e mesmo com o câmbio apreciado, a rentabilidade do setor exportador era considerável.

Este conjunto de reformas tem um caráter mais duradouro do que a simples desvalorização da taxa de câmbio – cuja contra partida é aumentar a rentabilidade do setor exportador, mas com potencial de gerar inflação. Além do que a diminuição do custo Brasil tende a beneficiar não só o setor exportador por vários anos, mas também a sociedade como um todo – na mediada que corroboram para reduzir custos que o Estado nos empoe (é só observar o nível da carga tributária e a qualidade dos serviços públicos). Ou seja, nos deixaria crescer mais, melhor e como um todo.

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Raphael Castro é economista e escreve mensalmente na InfoMoney, às quartas-feiras.
raphael.castro@infomoney.com.br