Colunista InfoMoney: O Brasil vai “receber” o grau de investimento ou já recebeu?

Se olharmos para o Balanço de Pagamentos, percebemos que, na prática, o mercado tornou o Brasil "investment grade"

Emílio Garofalo Filho

Um dos temas capazes de excitar a mídia, analistas e até parte do mercado é a perspectiva de, em curto prazo (a partir de agora), o Brasil obter o reconhecimento como um mercado com grau de investimento (investment grade) o que, em tese, abriria de vez as portas do País para praticamente todos os investidores estrangeiros. Vale lembrar que essa mágica decorreria do fato que alguns tipos de fundos e investidores se guiam por esses critérios de rating bancados por agências especializadas, que detêm destaque e reconhecimento internacional – mesmo após inúmeros equívocos – e, mercê de critérios desse naipe, não investem, ou investem de forma mais modesta, em paises que estejam abaixo dessa classificação.

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Desde o ano passado o Brasil está um degrau abaixo desse nível e, após essa etapa, o País logrou acumular reservas suficientes para cobrir cambialmente, a vista, toda sua dívida externa de curto, médio e longo prazos, tornando-se – ainda do ponto de vista cambial – um credor líquido internacional.

“Parece claro que o reconhecimento “de fato” pelo mercado do Brasil como merecedor do selo é que elevou as reservas”

Uma das visões que mais encantam é a possibilidade de recebermos uma enxurrada adicional de moeda estrangeira, visto que do Alabama ao Cáucaso, em tese, fundos de pensão e similares acorreriam como loucos em busca do Brasil como a “terra prometida do investimento de alta rentabilidade e segurança”, mormente agora que os americanos, além de praticarem juros historicamente baixos, ainda ameaçam constantemente baixá-los mais, mesmo com a inflação corroendo a rentabilidade nominal.

Porém, se olharmos para o nosso Balanço de Pagamentos, nos damos conta que, na prática, o mercado, de forma soberana, tornou o Brasil um país “investment grade”. A “conta financeira”, medida pelo líquido, em apenas três anos passou de um saldo negativo de 10 bilhões de dólares, para um positivo de 87 bilhões. Esse surplus explica quase todo o crescimento das reservas internacionais em 2007 de US$ 85,8 bilhões no inicio, para US$ 180,3 bilhões ao final do ano. O restante veio, basicamente, do saldo das contas correntes e das transferências de capitais de brasileiros no exterior.

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Balanço de Pagamentos
Ano Conta financeira (líquido)
US$ milhões
2005 -10.127
2006 15.430
2007 87.042

Fonte: bcb.gov.br

Em suma, enquanto alguns acham que o aumento de reservas pode levar o País ao “grau de investimento”, o que parece claro nas próprias Reservas Internacionais, no Balanço de Pagamentos e até na taxa de câmbio é que, ao contrario, o reconhecimento “de fato” pelo mercado do Brasil como merecedor do investimento é que elevou as reservas. Esse futuro reconhecimento alardeado pela mídia não advém de algum exame técnico de uma instituição isenta, mas de empresas comerciais especializadas em classificação de riscos que, pelo jeito, perderam feio o bonde da história e permitiram que os mercados fossem mais sábios e mais contundentes.

Ex-diretor do Banco Central, comentarista diário no portal da Intra Corretora e consultor de empresas da EBS-Consult, Emílio Garofalo Filho escreve mensalmente na InfoMoney, às terças-feiras.
emilio.garofalo@infomoney.com.br