Colunista InfoMoney: Nuvens negras, prenúncio de tempestades

Dívidas públicas na Zona do Euro preocupam investidores; em contrapartida, cenário nunca esteve tão favorável para o País

Decio Pecequilo

Robert Mundell, prêmio Nobel de economia e especialista em assuntos monetários, garantiu que estavam atendidas na Europa as condições técnicas para a formação de uma “Optimum Currency Area”. Nascia assim o euro como divisa, sendo Mundell considerado o formulador intelectual da moeda única.

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Já Milton Friedman, grande especialista em assuntos monetários e clássico defensor da flutuação cambial, além de ser também prêmio Nobel de economia, era contra, chegando mesmo a prenunciar a morte da moeda que não iria resistir a sua primeira grande crise.

E é exatamente isso que estamos vivendo agora, quando cinco dos dezesseis países que adotaram a moeda comum acumularam nos últimos anos enormes déficits públicos, grotescas dividas liquidas e altíssimas taxas de desemprego, formando um triângulo macabro que ameaça inclusive a recuperação dos países ricos, segundo um alerta da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em seu último relatório.

“Brasil se tornou um
‘price maker’ e deve
mostrar forte alta
no PIB deste ano

Só para citarmos dentro da Zona do Euro os países de economia mais vulnerável, temos:

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· Portugal, com déficit público de 7,6% e dívida líquida de 62,6%, ambos em relação ao PIB, e taxa de desemprego de 9,6%,

· Itália, com déficit público de 5,4% e dívida líquida de 100,8%, ambos em relação ao PIB, e taxa de desemprego de 7,8%,

· Irlanda, com déficit público de 12,2% e dívida líquida de 38,0%, ambos em relação ao PIB, e taxa de desemprego de 11,8%,

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· Grécia, com déficit público de 9,8% e dívida líquida de 94, 6%, ambos em relação ao PIB, e taxa de desemprego de 9,3% e

· Espanha, com déficit público de 8,5% e dívida líquida de 41,6%, ambos em relação ao PIB, e taxa de desemprego de 18,1%.

Como se isso não fosse suficiente, fora do grupo europeu com maiores problemas, temos também, dentre os vinte e sete países da União Européia, alguns não tão fragilizados, mas que também atravessam situações não confortáveis, de tal forma que, em conjunto, segundo cálculo do banco Morgan Stanley, precisam captar agora, em 2010, € 1,6 trilhão no mercado financeiro, para rolarem suas dividas no próximo ano.

E, como os maiores bancos europeus têm 70% da dívida do grupo de países mais fragilizados (ainda segundo a OCDE), teremos uma situação de concorrência bastarda, uma vez que esses bancos terão de captar agora em 2010 € 560 bilhões frente a € 540 bilhões em 2011.

Se incluirmos também nessa montanha de dinheiro a dívida das sete economias mais industrializadas do mundo, que chega a US$ 30 trilhões – pouco maior do que o PIB global -, estamos diante de uma situação inusitada, consolidando de vez em nosso dia a dia o termo trilhões, que surgiu na crise do sub-prime nascida nos EUA e consolidado agora na União Europeia e na Zona do Euro.

Brasil mais do que nunca

Em média, na última década, (de 2000 a 2009), nosso PIB cresceu somente 3,3%. Mas, os economistas do Itaú Unibanco preveem para a próxima década (de 2010 a 2019) um crescimento médio de 5%.

Essa previsão, se consolidada, deve favorecer as empresas em geral e, por derivação, as cotadas na BM&F Bovespa.

Jim O”Neill, analista Chefe do Goldman Sachs e criador do termo BRICs (Brasil, Rússia, India e China), em seminário na semana passada no Rio de Janeiro, disse que o banco elevou a previsão de nosso crescimento em 2010, para 6,4%. Pessoalmente, ele acha que podemos chegar a 7%. Ainda na opinião dele, após o crash, há uma “nova ordem mundial”, onde o mercado global dividiu-se entre dois pilares: o dos Estados Unidos necessitados e o dos emergentes provedores, com os BRICs compensando a perda da capacidade americana de abastecer o planeta com altos índices de produção e consumo.

Delfim Neto, nosso ex-ministro por duas vezes, em artigo na Carta Capital de 3 de março de 2010, diz sentir-se hoje plenamente confiante que podemos sustentar um crescimento anual entre 6% a 7%, chegando em meados desse século como um dos cinco países mais desenvolvidos do mundo. Ele cita inclusive duas vantagens de suma importância daquilo que nós temos de sobra: autonomia alimentar e energia.

A FGV (Fundação Getulio Vargas) mostra que, hoje, nosso Brasil passa por sua melhor situação na América Latina e tem o melhor “Índice de Clima Econômico” diante dos BRICs, dos EUA e, mais do que nunca, da União Europeia. Estatisticamente, nós temos 7,8%, China 6,3%, EUA 5,1% e União Européia 5%. É dada também ênfase ao fato de termos sido o país que primeiro saiu da crise, sendo o último a entrar na mesma.

O Bradesco acha que a economia doméstica continuará sendo fundamental nesse ano, estimando um crescimento de 6%.

Em adição, cabe ressaltar que a Moody’s vê nosso setor bancário como forte e sinaliza que vai mudar para “estáveis” as perspectivas do mesmo, em reflexo direto de retorno à normalidade nas condições de crédito e resistência demonstrada durante a crise financeira global.

Mas pessoalmente, o que mais me agradou nos últimos anos é que o Brasil deixou de ser definitivamente um pais ”Price Taker” (aceitador de preços) para ser um “Price Maker” (fazedor de preços). E isso não é pouco na atual conjuntura das finanças globais.

Decio Pecequilo é operador sênior da corretora TOV e escreve mensalmente na InfoMoney.
decio.pecequilo@infomoney.com.br