Colunista InfoMoney: lucro das empresas tem pouco impacto sobre ações

Embora bem melhores que em 2009, resultados pouco motivam desempenho dos papéis frente às tensões externas

Alex Agostini

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A Austin compilou os desempenhos (lucro ou prejuízo) de 220 empresas de capital aberto de 27 diferentes setores da economia, que publicaram seus resultados financeiros referentes ao segundo trimestre de 2010 e ao consolidado do primeiro semestre. Dentre estas 220 empresas, ao menos 43 deverão compor a carteira teórica do Índice Bovespa no último quadrimestre do ano (Set. a Dez.).

Juntas, as 220 empresas lucraram R$ 22,2 bilhões no segundo trimestre de 2010, já descontando os prejuízos, registrando elevação de 53,9% sobre o valor apurado no mesmo período em 2009 (R$ 18,3 bilhões). No resultado acumulado no primeiro semestre de 2010, esse mesmo conjunto de empresas apurou um lucro de R$ 51,1 bilhões contra R$ 34,9 bilhões registrados no mesmo período de 2009, anotando alta de 46,5%.

“Os resultados das
empresas reforçam
a tese de um vigoroso
crescimento econômico
brasileiro em 2010″

Os resultados das empresas reforçam a tese de um vigoroso crescimento econômico brasileiro em 2010 que, em grande parte, está fomentado pela atividade doméstica, resultante das ações de estímulos do governo federal, como, por exemplo, redução do IPI para setores chave da economia, além do aumento de liquidez por parte do Tesouro Nacional e equilíbrio monetário por parte do Banco Central.

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Entre os resultados divulgados até o fechamento deste trabalho, o principal destaque ficou a cargo da Vale, com lucro de R$ 6,6 bilhões no trimestre e de R$ 9,5 bilhões no acumulado do semestre, anotando dessa forma expansões de 352,3% e 106%, respectivamente, na comparação com os mesmos períodos de 2009.

Outro fato que merece destaque é o número de empresas que conseguiram registrar lucro em 2010, após terem amargado prejuízos em 2009, além do valor dos prejuízos, que de forma geral diminuiu. No segundo trimestre de 2010, apenas 41 empresas reportaram perdas, contra 47 no segundo trimestre de 2009, queda  de 12,8%. Além disso, o valor dos prejuízos acumulados no segundo trimestre de 2009 foi de R$ 3,0 bilhões, contra apenas R$ 846 mil no mesmo período em 2010, queda de 71,9%.

No resultado semestral, o número de empresas que reportou prejuízo em 2009 foi de 51 contra apenas 44 no primeiro semestre deste ano, queda de 13,7%. Já o prejuízo acumulado caiu de R$ 3,6 bilhões  na primeira metade de 2009, para apenas R$ 1,3 bilhão no primeiro semestre de 2010, apresentando redução de 63,8%.

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Entre os resultados das 220 empresas, a Austin analisou o desempenho de 43 das 60 empresas (ou 66 ações) que deverão compor a carteira teórica do Índice Bovespa (Ibovespa) no terceiro quadrimestre deste ano (Set. a Dez.). O Patrimônio Líquido dessas 43 empresas totalizou R$ 508,76 bilhões no primeiro semestre de 2010.

As ações dessas 43 empresas, que até a conclusão desse trabalho foram as únicas que divulgaram seus balanços, representam 62,965%, sendo portanto uma amostra bastante representativa, considerando que a Petrobras ainda não publicou seu balanço e que sua participação no índice é de pouco mais de 10%.

O lucro acumulado dessas 43 empresas no segundo trimestre deste ano foi de R$ 23,7 bilhões contra R$ 14,4 bilhões anotados no mesmo período de 2009, crescimento de 64,3%. Na comparação semestral, o lucro acumulado foi de R$ 41,7 bilhões na primeira metade deste ano, contra R$ 26,9 bilhões registrados no mesmo período de 2009, anotando expansão de 55,0% (vide quadro a seguir).

Vale destacar que dentre as 43 empresas, apenas 3 delas apresentaram prejuízo no segundo trimestre em 2010: MMX Mineração (R$ -42,0 milhões), GOL (R$ -51,9 milhões) e a LLX Logística (R$ -5,4 milhões). Já no segundo trimestre de 2009, foram 5 empresas que amargaram prejuízo.

No resultado semestral a situação já se diferencia um pouco. Enquanto no primeiro semestre de 2009 foram 7 empresas que reportaram prejuízo, no primeiro semestre de 2010 foram apenas 4.

Como destacado nos parágrafos anteriores, o lucro acumulado das 43 empresas cresceu 64,3% e 55,0% na comparação trimestral e semestral, respectivamente. Porém, apesar dos lucros robustos, as ações dessas empresas não apresentaram a mesma performance, muito pelo contrário, foram registradas perdas de 6,4% e 8,6% na média no segundo trimestre e no primeiro semestre de 2010, respectivamente. O Ibovespa, por sua vez, registrou perdas de 12,9% e 11,2% no mesmo período.

A comparação entre o lucro das empresas e o desempenho das ações (tanto no trimestre, como no semestre) revela que há um descompasso entre o lado real da economia e o lado financeiro. Ou seja, em virtude da globalização financeira, que se aprofunda a cada dia no Brasil e da internacionalização das empresas nacionais, na maior parte das vezes os fatores externos se sobrepõem às condições domésticas. Nesse sentido, vale destacar que o segundo trimestre deste ano foi turbulento nos mercados, em função de notícias negativas advindas da Europa e dos Estados Unidos.

Porém, com a relativa estabilidade no cenário internacional nos últimos dias, os investidores internacionais e domésticos deverão analisar mais atentamente os acontecimentos domésticos, principalmente ponderando com maior relevância o desempenho financeiro das empresas. Com isso, a expectativa é que parte dos resultados positivos (lucros) das empresas seja repassada aos preços das ações, incorrendo na valorização desses ativos nessa segunda metade de 2010. Visto que esse conjunto de 43 empresas representa quase dois terços do Ibovespa, acredita-se que o índice deverá apresentar igual valorização, de ao menos 10%.

Tradicionalmente, a Austin Rating divulga seu estudo especial sobre a rentabilidade dos principais setores da economia em base anual. Porém, em caráter especial, estamos divulgando a rentabilidade setorial das 43 empresas analisadas nesse estudo. O relatório completo, com a rentabilidade anual de 2009 contemplando aproximadamente 6.000 empresas e 34 setores da economia, será divulgado no final deste mês.

A Austin avaliou o desempenho financeiro das 43 empresas e os agregou em 15 setores distintos, conforme dados disponíveis nos balanços das empresas, compilados pelos sistemas AustinCredit e AustinBank, os quais são administrados pela Austin Asis. O indicador de rentabilidade utilizado foi calculado a partir da relação Lucro Líquido (LL) sobre Patrimônio Líquido (PL), que é um indicador financeiro que mede o retorno do capital próprio investido.

Nesse contexto, o setor que apresentou o maior índice de rentabilidade anualizada sobre o PL, e ficou em primeiro lugar no ranking, foi o setor Financeiro (exclusive Bancos) com 171,0%, seguido pelos setores de Alimentos e Bebidas (29,8%), Varejo (24,5%), Energia (20%) e Mineração (17,7%).

Boa parte da rentabilidade do setor Financeiro é explicada pelo próprio crescimento e desenvolvimento da economia nacional, observados ao longo da última década e meia, que tem alterado a estrutura do mercado de trabalho (emprego e renda) no território nacional. Esse fato fez emergir uma parcela significativa da sociedade que estava à margem do mercado consumidor até meados da década de 1990, antes da adoção do Plano Real, que permitiu a estabilidade monetária, preservando o poder de compra da sociedade de menor renda.

Nesse contexto, o aumento da base de clientes resulta em um maior e mais frequente acionamento dos canais de crédito da economia. Em tempo, vale destacar as ações realizadas por parte do governo federal, Tesouro Nacional e Banco Central ao longo de 2009, com o intuito de revigorar a economia, tendo como principal pilar a irrigação via mercado de crédito.

É reconhecido que uma economia forte tem seu sistema financeiro igualmente fortalecido, principalmente com maior difusão do mercado de crédito, e o Brasil demonstrou a solidez de seu sistema financeiro ao superar a crise financeira internacional, sem ter demonstrado qualquer fragilidade. Dessa forma, o setor financeiro precisa não apenas acompanhar, mas antecipar os ciclos econômicos de expansão.

Alex Agostini é economista-chefe da Austin Rating e escreve mensalmente na InfoMoney.
alex.agostini@infomoney.com.br