Colunista InfoMoney: Felicidade comprada

Busca da felicidade através da riqueza gera desilusão, visto que a insatisfação é inerente ao ser humano; viver é melhor do que ganhar

Márcia Tolotti

Atualmente já estamos suficientemente convencidos da relação entre o dinheiro e as emoções, sobretudo, relacionada à felicidade. Não significa que realmente haja uma ligação direta, mas há uma mentalidade cultural e social que acredita nessa junção. Em decorrência desta crença, se estabelece uma quase obrigatoriedade entre ter dinheiro, para ser feliz.

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Acompanhando empresários e profissionais muito bem sucedidos, é comum ouvir: “vou trabalhar neste ritmo até conquistar XXX”. Invariavelmente o ritmo de trabalho é alucinante, são horas ininterruptas de negociações, almoços substituídos por lanches, lanches não feitos, exercícios físicos deixados de lado, maridos, mulheres e filhos relegados.

Porém, como um contraponto, podemos recorrer a Fernando Pessoa na tão conhecida expressão: ”tudo vale a pena se a alma não é pequena”. Mas também podemos trazer à lembrança Vinícius de Moraes e Toquinho quando nos brindam com música chamada, não coincidentemente, Testamento:

“Busca da felicidade
através da riqueza
gera desilusão”

“Você que só ganha pra juntar, o que é que há, diz pra mim o que é que há…você que não pára pra pensar, que o tempo é curto e não pára de passar…você vai ver um dia, em que fria você foi entrar, por cima uma laje, embaixo a escuridão, é fogo irmão, é fogo irmão…”

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Mas ainda que sejam evidentes os riscos, por que muitos se deixam levar pela tirania da busca por riqueza? Muitas são as explicações, mas vale refletir sobre as hipóteses levantadas por Pascal Bruckner quando diz que “a riqueza é antes de tudo um espetáculo a ser exibido, que regala os olhos, aguça os apetites, alimenta o rancor.”

E, se aos olhos daqueles que não possuem riqueza, o rancor se instala, é compreensível que tal sentimento seja confundido com infelicidade. Além disso, o grande e universal espetáculo que a mídia promove cotidianamente apresenta pessoas felizes ao terem isso ou aquilo e nessa engrenagem; a riqueza é a via que possibilita as compras, portanto, que viabiliza a felicidade.

E assim, grande parte da civilização busca a riqueza na tentativa de encontrar a felicidade. Melhor dizendo, busca no ato de comprar o encontro com a tão sonhada felicidade. Afinal, a felicidade pode ser comprada? Inúmeros seres humanos partilham a ideia de que as pessoas são condenadas à dissonância, à competição e à insatisfação.

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Desta forma, ainda que fosse possível, de nada adiantaria comprar a felicidade, porque logo ela seria consumida e a fome de alegrias se abateria novamente sobre os seus compradores, concomitantemente, a riqueza nunca parece bastar. Então, se estamos fadados a conviver com a falta, precisamos investir a maior parte do tempo das nossas vidas, na busca utópica da sensação de completude e preenchimento?

Márcia Tolotti é psicanalista, MBA em Marketing, sócia da MODDO Conhecimento Estratégico empresa especializada em Educação Financeira in Company, e escreve mensalmente na InfoMoney 
marcia.tolotti@infomoney.com.br