Colunista InfoMoney: Estratégias de ações e seu desempenho

Uma dúvida que paira sobre as mentes daqueles que estão iniciando no mercado é: qual estratégia é vencedora?

Ricardo Ratner Rochman

No mercado e na literatura existem muitas estratégias de investimentos em ações, algumas de grandes gurus que juntaram seus bilhõezinhos de dólares por meio delas, outras de “investidores” que ganham mais dinheiro vendendo livros do que investindo de fato no mercado acionário. Uma dúvida que paira sobre as mentes daqueles que estão iniciando no mercado é: qual estratégia é vencedora?

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A resposta a esta pergunta não é simples, pois o período de avaliação escolhido para o teste da estratégia, ou a profundidade da análise estatística realizada dirão qual é a robustez da estratégia.

Para tentar elucidar qual das principais estratégias de investimentos em ações é mais consistente e vencedora, foi feito um estudo por Alex Tanaka (orientado por este que vos escreve) que aplicou e analisou as estratégias de investimentos em ações mais difundidas no mundo ao mercado brasileiro, que são:

Em todas as estratégias, foi usada uma população de 1.148 títulos negociados na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) entre ações de empresas ONs, PNs, Units e recibos de subscrição no período de janeiro de 1996 a dezembro de 2007. Os preços das ações foram ajustados para os proventos (dividendos, juros de capital, bonificação e subscrição) no período estudado.

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Foram construídas carteiras de ações representando cada uma das estratégias acima, e a cada ano foi feito o rebalanceamento destas carteiras seguindo o critério de seleção de ações de cada estratégia. A alocação nas carteiras das ações selecionadas foi realizada pela capitalização de mercado de cada uma delas, pois empresas maiores costumam ter mais ações negociadas do que as menores, o que facilita a montagem da carteira.

Os resultados das aplicações das estratégias estão sumarizados no gráfico de desempenho das carteiras, que exibe a evolução dos ganhos de uma aplicação de R$ 100 no início de 1996 em cada uma das estratégias.

O gráfico do desempenho das carteiras mostra que a estratégia de Valor, que seleciona ações usando o múltiplo Preço/Lucro (VALUE PE), foi a de melhor desempenho (em termos de retorno absoluto) em todo período de dez anos de análise, superando não somente as outras estratégias mas também o índice BOVESPA. Pelo gráfico quem tivesse investido R$ 100 no início de 1996 obteria R$ 39.485,64 no final de 2007.

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Como em finanças retorno e risco devem ser analisados conjuntamente, o estudo calculou o índice Sharpe (IS), resultado do retorno da carteira da estratégia menos o retorno do IBOVESPA dividido pelo risco da carteira (desvio-padrão dos retornos da carteira). Os índices de Sharpe mostraram que a melhor estratégia foi a de dividendos (IS = 0,26), porque apesar de ter uma média de retorno inferior a algumas estratégias, o seu desvio padrão era baixo o que compensava este retorno. Já a estratégia de Valor (VALUE PE) obteve o segundo melhor índice de Sharpe (IS = 0,22), destacando a consistência da estratégia.

Alguns estudos nos Estados Unidos mostram que a estratégia de Valor usando o múltiplo Preço/Lucro Projetado, sendo que o Lucro Projetado normalmente é obtido pelo consenso dos analistas do mercado, obtém retorno ainda superiores aos da estratégia VALUE PE que foi usada no estudo, que empregou o lucro realizado.

Alguns avisos antes de começarem aplicando as estratégias: lembre-se que retorno passado não é garantia de retorno futuro; estas estratégias foram aplicadas no longo prazo; a seleção das ações é automatizada, ou seja, os critérios de seleção foram aplicados sem olhar o nome da empresa, quem são seus gestores, etc. (o que pode representar um maior potencial de ganhos, ou até de perdas); o ano de 2008 não fez parte ainda do estudo (vamos atualizá-lo brevemente), mas isto pode indicar maiores possibilidades de ganho devido à forte desvalorização que a BOVESPA sofreu.

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Doutor em Administração de Empresas pela FGV-EAESP, Ricardo Ratner Rochman é consultor e professor de Finanças da FGV-EAESP e escreve mensalmente na InfoMoney, às segundas-feiras.
ricardo.rochman@infomoney.com.br