Colunista Infomoney: Escolhas difíceis e a síndrome do “eu já sabia”

Ao se arrepender de uma decisão, investidor pode colocar em risco seu patrimônio, ao pensar que sempre sabe o que está por vir

Márcia Tolotti

Qualquer escolha envolve muitas habilidades pessoais: lembrar de informações técnicas, analisar experiências passadas, avaliar o cenário futuro, fazer trocas intertemporais e buscar o equilíbrio emocional.

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Gerenciar isso tudo, é uma verdadeira arte e arte é um savoir-faire, uma habilidade de obter êxito graças a um comportamento inteligente e maleável. Se a inteligência está ligada a cognição e é mais objetiva, a maleabilidade está ligada à parte subjetiva da mente e é motivada por elementos inconscientes.

Pesquisas revelam que, diante dos investimentos financeiros, muitos distorcem inconscientemente, o julgamento. Principalmente depois que uma situação já ocorreu, surge o fenômeno chamado hindsight bias – termo vulgarmente traduzido como “eu já sabia”.

Tal fenômeno pode ser observado em alguns investidores quando, por exemplo, precisam decidir entre a manutenção do portfólio ou a realização de lucros.

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“Crença de sempre
saber o que está por
vir pode colocar em
risco seu patrimônio”

Ainda que todas as precauções sejam dadas, a decisão é tomada com base na previsão, e não na certeza do que vai acontecer. Caso os investidores não tenham vendido um papel que caiu, passam a pensar: “eu já sabia”.

Eles transformam algo que somente poderia ser previsto em certeza, e, quando o conhecimento é atualizado com novas informações, ou seja, quando as notícias mostram que o papel caiu, tais investidores passam a acreditar que a expectativa original não foi “suficientemente ouvida”. Por quê?

Porque certamente eles também consideraram que o papel pudesse cair, mas decidiram não vender. Os estudos demonstram que este fenômeno pode se transformar em um grande risco para os investidores, limitando a capacidade de discernimento entre uma má informação e uma consequência negativa.

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Mesmo dispondo de todas as informações possíveis, utilizando as ferramentas adequadas e equilibrando as emoções, os investidores errarão. O fenômeno hindsight bias é perigoso, porque a pessoa acredita, de fato, que sabia o que iria acontecer, passando a se considerar muito melhor do que realmente é, e assim, começa a confiar cada vez mais em fatores como intuição e premonição, podendo colocar em risco seu patrimônio.

Mas não é tão complexo se proteger. Basta lembrar que seres humanos não saem da linha de produção completos, e a grande maioria não tem como item de série, por exemplo, uma assertividade elevada na tomada de decisão.

Contudo, ao longo da vida, todos podem adquirir alguns opcionais, dentre os quais se incluem o desenvolvimento da capacidade de avaliação, melhorar a inteligência financeira, reconhecer uma boa oportunidade, confiar em si mesmo, aceitar a limitação, tolerar o erro e suportar frustrações.

É muito melhor enfrentar o conflito de uma decisão e arcar com decorrências nem sempre positivas, do que ser acometido pela síndrome do “eu já sabia”.

Márcia Tolotti é psicanalista, psicóloga, MBA em Marketing e escreve mensalmente na InfoMoney, às quartas-feiras.
marcia.tolotti@infomoney.com.br