Colunista InfoMoney: Efeito manada

Maré dos investidores, seja de otimismo ou de pessimismo, revela como o mercado age de forma irracional, mesmo a luz da racionalidade dos fatos

Alex Agostini

Em meio ao cenário turbulento, com fortes ventos advindos da Europa, a temporada de publicação de balanços financeiros no Brasil, referente ao primeiro trimestre de 2010, está chegando ao fim, considerando o prazo legal até 31 de maio.

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Em uma compilação dos resultados financeiros (lucros ou prejuízos) de 39 empresas de capital aberto de 12 setores diferentes, constatei que houve crescimento médio no lucro líquido da ordem de 36,5% no primeiro trimestre de 2010 contra o mesmo período de 2009.

O resultado fica ainda mais expressivo quando confrontados os resultados acumulados dos dois períodos: alta de 60,1%. No primeiro trimestre de 2009, o valor acumulado dos resultados financeiros foi de R$ 6,369 bilhões (entre lucros e prejuízos), contra R$ 10,195 bilhões no primeiro trimestre deste ano.

Chamou atenção não apenas pelos resultados apresentados de crescimento do lucro das empresas, mas o fato de o Ibovespa valorizar-se apenas 2,6% no primeiro trimestre deste ano, contra 9% no primeiro trimestre de 2009.

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“Na maioria das
vezes, mercado
age de forma
irracional”

Ou seja, se considerarmos que o preço da ação é composto pelo valor presente de mercado da empresa e pela expectativa de crescimento desta em relação, por exemplo, as vendas, então se conclui que a expectativa dos investidores em relação ao desempenho das empresas no primeiro trimestre de 2009 era melhor que no primeiro trimestre deste ano.

Além disso, entre as 39 empresas pesquisadas, ao menos 8 delas apuraram prejuízo em 2009 no total de R$ 1,0 bilhão, e em 2010 foram apenas 5 empresas com prejuízo no valor acumulado de R$ 120 milhões (quase 8 vezes menor o tamanho do prejuízo). Em tempo, o PIB brasileiro anotou retração de 0,2% em 2009 e a estimativa para 2010 é de expansão (quase chinesa): 6%!

Nesse contexto, alguns investidores podem questionar por quais motivos então a bolsa de valores não deslanchou ainda este ano. Parte da resposta está condicionada ao fato de o Brasil hoje estar em um nível de globalização financeira maior que no passado, ou seja, há um número maior de investidores e de empresas com ações negociadas no mercado de renda variável no País, fato que acelera a velocidade de mobilidade do capital, bem como maior volatilidade nos ativos em momentos de incertezas como o atual.

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Outra parte da resposta cabe à irracionalidade dos investidores que, em momentos de incertezas, a emoção se sobressai à razão. Para tanto, tomemos como exemplo a ocorrência de um erro de um operador na bolsa nos Estados Unidos incorreu em queda de mais de 6% no Brasil, porém, sem qualquer constatação do real motivo da queda histórica da bolsa em Nova York (-10%), os operadores por aqui se desfizeram rapidamente de suas posições. Portanto, confirmaram a tese da velocidade da mobilidade de capital na era das finanças globalizadas. Isso sem falarmos dos problemas em Dubai, Grécia, entre tantos outros.

Por fim, tudo isso, para mim, apenas confirma que, na maioria das vezes, o mercado age de forma irracional, mesmo a luz da racionalidade dos fatos, e o resultado, invariavelmente, para cima ou para baixo, nada mais é que o chamado “efeito manada”.

Alex Agostini é economista-chefe da Austin Rating e escreve mensalmente na InfoMoney.
alex.agostini@infomoney.com.br