Colunista InfoMoney: Dinheirinho de mulher

Preconceito em relação a mulheres bem-sucedidas permanece, mesmo em pleno século XXI; fetichismo da mercadoria e do dinheiro não respeita gênero

Márcia Tolotti

“Deixei de ajudar nas despesas da casa, porque meu marido não conseguia dar valor para o meu dinheiro, tratava sempre, como se fosse dinheirinho”

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Certa vez, uma profissional liberal bem sucedida, solteira e muito bonita presenteou a si mesma com um belo carro importado, certamente, o sonho de consumo de muitos apaixonados por veículos. Enquanto ouvia elogios diretos, nos bastidores os comentários eram bem diferentes. Insinuavam que ela havia ganhado de “alguém”.

Em outra ocasião, uma profissional dedicada participou de um processo seletivo, disputando vagas com alguns homens. Apesar da inquestionável qualificação, empenho e resultados profissionais já demonstrados, não faltaram afirmações de que ela teria um “caso com o chefe”. Quem não ouviu histórias assim? Por que há tanto espaço para isso?

“Fetichismo de todos
com o dinheiro não
depende do gênero”

Apesar dos números provarem que a competência e o empenho são as grandes armas das mulheres, o preconceito travestido de piada, insinuação ou brincadeira comprova como o dinheiro gerado por elas ainda é visto com descrença. Obviamente, muitos homens e mulheres reconhecem genuinamente a importância e a legitimidade das finanças no universo feminino.

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Porém, há uma legião que defende estigmas tais como: “mulheres gastam mais que homens”, “não sabem lidar com dinheiro”, “são incapazes de resistir a uma liquidação”, “são apaixonadas por sapatos”, “adoram shopping” e muitos outros. Por que estigmas? Porque são marcas simbólicas, transmitidas pela tradição oral, ou seja, pela cultura popular e que faz com que seja incorporado como verdade. De fato, algumas mulheres têm compulsão por sapatos, são viciadas em shopping e não sabem lidar com dinheiro, mas inúmeros homens sentem o mesmo, porque o dinheiro não respeita gênero.

A relação com o dinheiro tem a ver com a estrutura de personalidade de cada sujeito, com as marcas que carrega inconscientemente desde a infância, com a quantidade de informações que dispõe e com todas as interferências emocionais e racionais. Portanto, é interessante que alguns conceitos sejam revistos, até porque os números falam por si.

No Brasil, existe uma média de 120 mil investidoras apenas no mercado de capitais – nos EUA são quase 50 milhões. Dois cargos importantes são ocupados por mulheres – Lucy Sousa, presidente da Apimec; e Maria Helena Santana, presidente da CVM. Diversas empresas e instituições dos mais variados segmentos estão sob o comando feminino, assim como, milhares de lares brasileiros.

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Se o preconceito prejudica de alguma forma as mulheres, os homens também saem perdendo, porque ao sentirem que sua contribuição financeira está sendo tratada como “dinheirinho”, muitas têm optado em não dividir mais as despesas com eles. Porém, nem todo preconceito parte dos homens, algumas mulheres condenam, desqualificam e desvalorizam as conquistas umas das outras.

Contudo, rivalidade feminina é apenas um mito, não é?

Márcia Tolotti é psicanalista, psicóloga, MBA em Marketing e escreve mensalmente na InfoMoney.
marcia.tolotti@infomoney.com.br