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A Esfinge é um ser mitológico que possui a cabeça de mulher, o corpo de um leão e as asas de uma águia. Conta a lenda grega que o monstro, enviado por Hades ou Hera, invadiu o território da cidade de Tebas, destruindo os campos e afugentando os moradores. A criatura, que havia aprendido um enigma com as Musas, propôs-se a se retirar do local se alguém conseguisse decifrar o seu significado.
Porém aqueles que não o conseguissem, seriam devorados. Sua adivinhação era: “O que possui quatro pernas pela manhã, duas pernas pela tarde e três pernas ao anoitecer?” Édipo, filho do rei de Tebas e assassino inconsciente do próprio pai, foi quem solucionou o mistério, respondendo “o homem, pois ele engatinha quando pequeno, anda com as duas pernas quando é adulto e usa bengala na velhice.” Depois de derrotada, a Esfinge suicidou-se, jogando-se num abismo, e Édipo, como prêmio, recebeu o Reino de Tebas e a mão da rainha enviuvada, sua própria mãe.
Este é o cenário em que vivenciamos hoje na economia americana. De um lado “A Esfinge” (FED – Federal Reserve) de outro “O Édipo” (mercado).
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A recente crise dos chamados “sub primes” nos mostra uma nova face na atuação e na condução da política monetária americana. Uma autoridade leniente com as alavancagens e riscos não mensurados nos mercados e com seguidas atuações no provimento de liquidez e na queda de taxas de juros. Por vezes nos passando a sensação de uma tentativa desesperada de evitar uma desaceleração brusca na economia, de tal modo que mais lembra um bombeiro em meio a um incêndio na floresta que apaga um foco de chamas e logo outros focos voltam a reacender.
Será um FED, como na lenda da Esfinge, adulto, ultrapassado e de bengala?
De certo vivemos um novo tempo nos estudos econômicos, onde a grande questão a ser debatida é a dicotomia entre a liquidez e o fundamento. Será a liquidez, abundância de recursos, nos mercados, capaz de alterar os fundamentos no lado real da economia tão rapidamente e evitar uma desaceleração mais brusca?
Acredito que não.
| “Para não ser devorado pela “Esfinge” e muito menos se jogar em um abismo, contenha a sua ambição e ganância em tempos de tempestade” |
O que essa breve análise tem a ver com a nossa Renda Fixa?
É óbvio que a economia mais importante do planeta sofrendo uma retração irá provocar conseqüências ruíns na economia brasileira, com diminuição no fluxo financeiro do chamado smart money para a renda fixa e variável.
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Essa provável retração de aplicações irá, sem dúvida, sensibilizar a chamada “curva de juros” no mercado futuro de DIs. Isso ocorre em função de o capital externo ser hoje o maior provedor de hedge aos fundos de investimentos que compram títulos pré-fixados do tesouro nacional e casam esse ativo com uma operação inversa, de mesmo prazo, no mercado futuro, principalmente em operações de prazo mais longo. Sem o provedor de recursos a tendência é de uma menor demanda por papéis pré-fixados e uma conseqüente inclinação, para cima da curva de juros.
Como deve então o investidor atuar?
Buscar equacionar seus fluxos de caixa e partir para a clássica operação de renda fixa, onde a taxa e prazo são previamente determinados no inicio das operações com títulos. Ficando assim imune a futuras variações positivas ou negativas de taxas que venham a ocorrer nos mercados no transcorrer dos prazos.
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Ou um título indexado que acompanhará a variação diária ou mensal do indexador, de acordo com a sua especificação, taxa de juros flutuantes ou índice de preços. Mas essas operações não trarão de certo o mesmo retorno que uma aplicação pré, que no bojo desta análise terá um incremento no prêmio de risco proporcional ao prazo. Quanto maior o prazo, maior será o retorno.
Se a aplicação pós-fixada fosse melhor que pré-fixada os bancos não tomariam recursos no pós e emprestariam ao público e ao governo em taxa pré, mesmo em um cenário de abertura de taxas.
Para não ser devorado pela “Esfinge” e muito menos se jogar em um abismo, não tente acertar o enigma e contenha a sua ambição e ganância em tempos de tempestade. Afinal um rendimento de 8% de juros reais ao ano é uma estupenda aplicação.
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Há 34 anos no mercado financeiro, Waldir Kiel Junior é economista e escreve mensalmente na InfoMoney, às quartas-feiras.
waldir.kiel@infomoney.com.br