Colunista InfoMoney: Crise impõe novo limite de tolerância a riscos

Há consenso de que ações estão baratas; quem poderá predizer quando os investidores voltarão a pagar o que elas valem?

Arleu Anhalt

O grande desafio das companhias após o pânico instaurado no setembro negro dos mercados globais resume-se a uma palavra: confiança. Não há nada que mereça mais foco neste momento do que a construção de bons fundamentos capazes de dar sustentação às expectativas, além da capacidade de transmitir ao mercado a consistência desses fundamentos e o preparo para enfrentar momentos de turbulência.

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A crise financeira global aprofundou-se com a multiplicação em ritmo muito acelerado de situações em que um banco não emprestava a outro por não ter certeza de que os ativos ou as garantias desse outro valiam alguma coisa. A palavra confiança passou a ter outra dimensão quando associada ao novo mapa de Wall Street, transformado pelo furacão que em poucos meses mudou a face de cinco dos maiores bancos de investimentos dos Estados Unidos: Bear Stearns, Lehman Brothers, Merrill Lynch, Morgan Stanley e Goldman Sachs.

A nova dimensão da palavra confiança nos Estados Unidos assim como no resto do mundo embute agora o consenso de que os atuais mecanismos regulatórios não são suficientes para manter os níveis de risco dos investimentos em padrões aceitáveis.

“A cota de surpresas está esgotada por um bom tempo”

Não se sabe quanto tempo levará para as autoridades reconstruírem o modelo regulatório ou as entidades que representam as instituições do mercado avançarem no caminho da auto-regulação. Por isso ninguém ousa prever a extensão e a profundidade da crise.

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Enquanto não for recomposto o marco regulatório, a começar pelo modelo de remuneração e de bônus que estimulou por tanto tempo foco em ações de curto prazo e a busca desenfreada por resultados a qualquer custo, a janela de oportunidades dos últimos anos passa a limitar-se a uma fresta muito estreita.

Mesmo com os bons fundamentos da economia brasileira, não é possível prever quanto tempo poderá levar até que os investidores recuperem a confiança e voltem a comprar ações das companhias abertas. Há consenso de que elas estão baratas. Mas quem poderá predizer quando os investidores voltarão a pagar o que elas valem?

Como nunca antes, as corporações precisarão instrumentalizar-se mais e melhor para assegurar os investidores de que não terão surpresas desagradáveis. A cota de surpresas está esgotada por um bom tempo.

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Até agora as empresas vinham sendo avaliadas primordialmente pelo Ebtida, a conta de lucros antes juros, impostos, depreciação e amortização que se converteu em uma espécie de ditadura, critério dominante da avaliação de empresas. Mas, neste ambiente mais exigente e que tende a ser crescentemente regulado, terão que transmitir mais segurança para os investidores.

Mais do que nunca, as companhias precisarão apriomorar os seus sistemas de governança corporativa. Não haverá investidor disposto a correr riscos que não sejam os do negócio em si. Entramos em um ambiente que tende a tolerância zero a riscos de gestão. A comunicação com o mercado terá que de suprir o vácuo de confiança no marco regulatório existente e de superar a ressaca de insegurança.

À medida que os governos caminhem na direção do restabelecimento da confiança, restará ainda a questão de como as economias irão reagir. Algumas poderão entrar em recessão, outras terão crescimento menor. O reconhecimento do valor das companhias também dependerá do impacto de tudo isso no desempenho futuro de cada setor, de cada empresa. Tudo tende a ser reprecificado.

Para atrair recursos neste ambiente de crédito escasso e caro será preciso não apenas ser ser melhor, mas parecer melhor. Se existe algo auspicioso nesse processo é o salto em qualidade de gestão que necessariamente marcará a vida corporativa.

Arleu Anhalt é presidente da FIRB, ex-presidente executivo e atual membro do conselho de administração do IBRI e escreve bimestralmente na InfoMoney, às quintas-feiras.
arleu.anhalt@infomoney.com.br