Colunista InfoMoney: Como será o novo tabuleiro mundial?

As evidências sinalizam para uma nova redefinição do papel dos territórios nacionais no contexto global

Cid Oliveira

Neste início de século, as evidências sinalizam para uma nova redefinição do papel dos territórios nacionais no contexto global. A possibilidade de ruir a hegemonia absoluta dos EUA, o crescimento da economia chinesa, originando a formação de um novo eixo articulador da economia mundial sino-americano, e as constantes ameaças de uma nova crise energética mundial são alguns elementos que corroboram tal assertiva.

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Como se sabe, depois da Segunda Guerra Mundial os EUA empreenderam o seu poder hegemônico sobre os demais países através da articulação econômica com Alemanha e Japão, que foram transformados em protetorados militares norte-americanos e em líderes regionais do processo de acumulação capitalista.

Somente a União Soviética era capaz de competir com os EUA, dado o seu poderio militar, e avançar na disputa por espaços e territórios que pudessem colocar em risco os interesses do hegemon.

“Ao Brasil, resta buscar assumir a liderança da América Latina”

Durante décadas verificamos a reafirmação do império norte-americano através da expansão do complexo militar-industrial e da conquista de novos mercados, ainda que em alguns momentos esse poder tenha sido contestado, como na crise do padrão dólar-ouro e na derrota da Guerra do Vietnã, na década de 1970.

O fato é que os EUA atravessaram todas as crises incólumes e atingiram o seu ápice na década de 1990, com a derrota da União Soviética e o fim da Guerra Fria. Sem inimigos à altura, os EUA puderam disseminar com mais agressividade o pensamento único neoliberal, a financeirização e desregulamentação dos mercados, com conseqüente fragilização dos Estados nacionais.

Contraditoriamente, nessa mesma década, observou-se o aumento da autonomia de grandes potências como Alemanha e Japão e o crescimento das economias chinesa, russa e indiana, que passaram a dedicar-se à reafirmação dos seus espaços tradicionais de influência e a construir alianças que poderão limitar a capacidade de intervenção unilateral dos EUA.

Nesse jogo de disputas por “hegemonias”, o petróleo tem lugar destacado.

Principal fonte energética mundial, o “ouro negro” foi elemento presente em quase todas as grandes crises internacionais e neste novo redesenho de poder torna-se, mais uma vez, elemento central. Não há dúvidas que a grande disputa geopolítica se dará em torno dos territórios e regiões que dispõem de excedentes energéticos para movimentar o crescimento econômico mundial.

Esses elementos nos fazem acreditar que o novo “tabuleiro” mundial terá como peças principais os EUA, com redução do seu poder hegemônico, mas ainda figurando como a grande potência mundial, a Alemanha, aprofundando suas relações econômico-financeiras com a Rússia e assumindo a luta pela hegemonia dentro da União Européia, e a China, numa disputa acirrada com Japão e Coréia para assumir a hegemonia regional.

Ao Brasil, resta buscar assumir a liderança da América Latina e estabelecer relações mais estratégicas com países-chaves, como Índia e China, objetivando galgar uma inserção diferenciada no jogo global de disputa de poder.

Doutorando em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp, Cid Olival Feitosa escreve mensalmente na InfoMoney, às quintas-feiras.
cid.olival@infomoney.com.br

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Cid Oliveira

Cid Maciel Monteiro de Oliveira CEO e sócio-fundador da startup invest.pro, Cid tem 18 anos de experiência, tendo atuado em instituições financeiras e gestoras no Brasil e no exterior. Graduou-se em Engenharia Civil pela UFRJ e concluiu mestrado em Finanças pela Manchester University na Inglaterra