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Passamos a vida toda ouvindo que o Brasil era um país que precisava se modernizar em termos de mercado financeiro. Tivemos calote da dívida externa, Plano Cruzado, Plano Bresser, Plano Verão, Plano Collor I, Plano Collor II e Plano Real. Além de vários percalços provocados por crises externas que afetaram de forma maléfica nossa economia e fragilidade financeira.
Graças ao empenho e dedicação dos agentes financeiros conseguimos criar mecanismos, que nos coloca hoje numa posição privilegiada no cenário dos mercados globais. A ponto de podermos afirmar sem modéstia que hoje o Brasil tem o sistema bancário e o mercado financeiro mais avançado do mundo.
Sem entrar no mérito político e econômico criamos sistemas de análise de crédito e de custódia que nem mesmo o poderoso mercado financeiro americano possui. Em se tratando de sistemas, nosso serviço de custódia de títulos públicos (Selic) e de títulos privados (Cetip) não encontra paralelo em qualquer lugar do planeta.
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Tivessem os mercados americano e europeu sistemas semelhantes, de certo não aconteceria a multiplicação de financiamentos em cima de uma única duplicata imobiliária e consequentemente crise como a que está ocorrendo no chamado mercado dos sub-primes.
| “Nosso aprendizado com crises nos levou a sermos hoje em dia já ‘Investment Grade’ de fato e de direito” |
Quando um título privado é registrado na Cetip, só é permitido tomar um único empréstimo financeiro vinculado a esse papel.
A crise de confiança que acontece em EUA e Europa é quase semelhante a crise que tivemos em um passado recente, chamada de “crise da marcação a mercado”. Para entender rapidamente, uma brusca mudança nas taxas de juros no ano de 2002 fez com que a carteira de títulos detida pelos agentes financeiros brasileiros descolasse dos preços da curva de juros do mercado. Esse descolamento gerou uma desconfiança tão grande que, quem possuía recursos excedentes, se recusava a financiar aqueles que detinham esses títulos, fornecendo os recursos somente ao Banco Central. E aqueles que precisavam se financiar tinham que buscar junto a autoridade monetária o mesmo recurso.
Resumindo, o clima de desconfiança era de tal forma que ninguém operava diretamente com ninguém a não ser com o Banco Central. Como o que está ocorrendo hoje em dia no mercado financeiro americano e no mercado financeiro europeu. Obrigando o Fed e BCE a atuar constantemente provendo recursos aos agentes financeiros.
Enquanto não se depurar e expurgar o tamanho do prejuízo e da situação real financeira e mostrar quem realmente está quebrado e quem está inteiro, de nada adiantará o Fed reduzir os juros ou o governo Bush lançar plano de recuperação econômica. O problema vai continuar, a crise é de confiança.
Por aqui seguiremos com essa volatilidade importada e sujeitos a solavancos, já que estamos totalmente inseridos no mercado global. Até que a situação se resolva lá fora, a melhor aplicação financeira continua sendo a Renda Fixa.
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Por aqui o ritmo do crescimento industrial tem sido surpreendente, e o mais saudável é que se tem espalhado por outros setores, o que pode ser observado no crescimento das despesas de investimento nas estatísticas do IBGE do segundo semestre.
Os excessos de entusiasmo podem ser revelados, por outro lado, pela disposição renovada das autoridades em responder às pressões por maior crédito, dirigidas aos setores cuja expansão está se mostrando capaz de remover obstáculos visíveis ao crescimento da oferta interna.
Os bons cenários que se afiguram com essa recuperação, vigorosa e constante, da economia brasileira, nos leva a conclusão de que não buscamos mais o chamado “grau de investimento” dado pelas agências de risco. Nosso aprendizado com crises nos levou a sermos hoje em dia já “Investment Grade” de fato e de direito.
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Passado o vendaval externo, que venha a enxurrada de recursos estrangeiros.
Pois,
… o Tio Sam vai querer conhecer a nossa batucada…
Há 34 anos no mercado financeiro, Waldir Kiel Junior é economista e escreve mensalmente na InfoMoney, às quartas-feiras.
waldir.kiel@infomoney.com.br