Colunista InfoMoney: cautela otimista, a melhor postura

Entre tensões externas sobre piora no cenário econômico e boas perspectivas domésticas, ideal é manter um meio termo

Gil Deschatre

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Apesar da recuperação das bolsas na semana passada e dos bons resultados corporativos divulgados, os analistas voltaram a ficar cautelosos diante de indicadores econômicos mais fracos e do pronunciamento de um importante dirigente do Fed. A economia americana, que há alguns meses liderava a recuperação econômica junto à China, voltou a dar sinais de fraqueza, prejudicando o desempenho dos mercados de outros países. Na economia real, os indicadores divulgados, como encomendas de bens duráveis, mercado de trabalho, de crédito e do setor imobiliário estão vindo cada vez mais fracos, colocando em xeque a recuperação econômica.

E não são apenas analistas que vêm incorporando agora a possibilidade de uma piora no cenário econômico, mas também alguns diretores do FED – James Bullard entre eles, diretor do órgão. Comunicado recentemente divulgado por ele revelou que a instituição pode reativar o programa de compra de títulos do governo caso surjam indícios de deflação. Apesar de enfatizar que a probabilidade é ainda pequena, lembrou que o enfraquecimento da economia contribui para aumentar o risco, assim como a queda generalizada e prolongada nos preços que ocorre no país.

“Não são apenas analistas
que vêm incorporando a
possibilidade de uma piora
no cenário econômico”

Não obstante, os dados do PIB do segundo trimestre, apesar de em linha com as expectativas, e do número do primeiro trimestre, revisados para cima, apontam para uma deterioração significativa no consumo das famílias, importante componente para uma recuperação sustentável da economia. Outro fator que também voltou a se tornar centro das preocupações dos analistas é a questão fiscal dos Estados. Em alguns deles, como a Califórnia, o déficit alcançou níveis que preocupam e a melhor solução é o corte de gastos, que implicaria em mais desemprego e conseqüente redução no consumo da população.

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Nada ainda que possa permitir exageros pessimistas, já que na semana passada, o Livro Bege do Federal Reserve – relatório elaborado pelos doze escritórios regionais da entidade monetária – apontou para um aumento moderado na atividade econômica dos Estados Unidos. Segundo o levantamento, o nível continuou a se expandir em ritmo menor que o esperado, mas as regiões de Cleveland e Kansas tiveram desempenho estável, enquanto Atlanta e Chicago apresentaram desaceleração. Com relação à atividade manufatureira, houve expansão na maioria dos distritos, apesar de vários outros apontarem abrandamento neste quesito, mas estabilização no setor de serviços. Os analistas, no entanto, continuam acreditando numa perda de força no desenvolvimento à frente.

Por aqui, continuamos com notícias boas. A agência de classificação de risco Fitch elevou recentemente sua expectativa de expansão do PIB do Brasil neste ano para 7%. No relatório anterior, a Fitch havia estimado um crescimento de 5,5% da economia brasileira. A agência afirmou que as “expectativas macroeconômicas nos mercados emergentes permanecem favoráveis para emissores corporativos” e que “expectativas favoráveis para corporações de mercados emergentes poderão ser temperadas pela evolução dos preços das commodities, bem como pelas taxas de crescimento nos mercados em desenvolvimento”. Além disso, o controle sobre a nossa inflação parece estar bem equacionado, já sugerindo o estancamento de novas altas na taxa Selic, o que permitirá uma retomada moderada de nossa atividade econômica, sem solavancos nem sustos.

Para nos ajudar, o superintendente de renda variável da SulAmérica Investimentos, Ricardo Maeji, acrescenta que, no campo dos fundamentos, a inflação menos pressionada sugere que o aperto monetário na China chegou ao fim. Maeji conta que o estrategista global do ING, sócio holandês do grupo no Brasil, está aumentando a exposição à China. Ele cita que esse movimento começa a ser percebido inclusive entre os investidores locais. A expectativa é de que essa alta na China continue, o que abre espaço para as commodities andarem, acredita Maeji. Para o Brasil, ele espera uma mudança do carro-chefe do mercado, passando de ações ligadas à economia doméstica para commodities. Outro sinal de que as commodities podem voltar a andar, diz o executivo, é a volta do bom fluxo estrangeiro para a bolsa. “Em geral, quando compram Brasil, esses investidores entram em papéis ligados a commodities”, afirma.

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É óbvio então que o otimismo moderado continua por aqui. Analistas gráficos continuam a perceber uma força altista no sistema, que poderá nos levar aos topos prévios (73.000 pontos) ainda no ano em curso, mas nada que faça perceber grandes ganhos ainda em 2010. A sugestão de redirecionamento das carteiras para embasá-las em ativos que atuem em commodities passou a ser dominante e recebe amplo coro para ampliar as chances de maior rentabilidade.

Gil Ari Deschatre é professor da FGV e do Ibmec e escreve mensalmente na InfoMoney.
gil.deschatre@infomoney.com.br