Colunista InfoMoney: Brasil é o fornecedor mundial de carne bovina

Brasil possui grande potencial para possuir não somente o maior rebanho, mas também a maior produção mundial

Chau Kuo Hue

O maior rebanho bovino mundial não está nos Estados Unidos, China ou Brasil. Está na Índia. O país representa 28,8% do rebanho global, mas já foi maior. Quem está ganhando representatividade é o Brasil, cuja participação passou de 16,7% em 2000 para 17,5% em 2008. E o número somente não é maior porque de 2006 a 2008 muitos produtores descartaram bois e vacas para impedir que os preços pagos ao produtor ficassem muito baixos logo após a descoberta da febre aftosa.

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O Brasil possui grande potencial para possuir não somente o maior rebanho, mas também a maior produção mundial – posição hoje ocupada pelos Estados Unidos.

A população na Índia nos próximos irá superar o da China, segundo estimativas da ONU. A densidade demográfica na Índia é de 351 hab/km2, enquanto na China é de 139 hab/km2. Ou seja, se o rebanho bovino seguir uma tendência de alta, então em um determinado momento os bois estarão competindo por espaço com as pessoas. E olha que as vacas podem levar vantagem, já que são consideradas sagradas, e a sociedade é dividida em castas. Brincadeiras à parte, a conclusão é de que não há mais tanta terra no país para suportar uma elevação do número de bois.

Por outro lado, o Brasil é um dos raros casos em que existem áreas de pastagem disponíveis tanto para a atividade agrícola quanto para a pecuária. Além disso, a taxa de abate no Brasil é de somente 23% (2008) contra 37% nos Estados Unidos. Ou seja, a produção no Brasil tem um grande espaço para avançar, rumo à liderança.

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maior rebanho e
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Obviamente, assim como no esporte, em que ser o número um implica treinos diários e disciplina, o mesmo vale para o Brasil. Os produtores, junto com a indústria e o governo, devem se unir na criação de condições para que a atividade seja um negócio sustentável. O que quero dizer com isso? Que se deve trabalhar para impedir que a cada ano novas medidas protecionistas atinjam o setor.

Vejo com bons olhos algumas ações do governo e das indústrias. O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) anunciou recentemente que somente irá realizar empréstimos para as indústrias que aderirem ao sistema de rastreabilidade da cadeia produtiva, apresentar planos de desenvolvimento ambiental e adquirir matéria-prima de pecuaristas em conformidade com as regras de sustentabilidade vigentes no país.

Pelo lado da indústria, vimos em 2009 que a JBS-Friboi, Berting, Marfrig e Minerta assinaram com a Greenpeace um compromisso de rejeitar gado oriundo de produtores que estejam desmatando a floresta amazônica para expandir seu negócio. Mas o beneficiado não seria somente o cliente no exterior. Também seria o consumidor brasileiro, que ainda pouco exige da indústria, mas é preciso de tempo para que se conscientize de que ele também deve estar constantemente cobrando.

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A elasticidade renda-demanda da carne bovina é maior em comparação à suína e de frango. Com o crescimento dos países emergentes, cuja renda per capita varia entre US$ 3.000 e US$ 10.000, enquanto a dos países desenvolvidos é maior do que US$ 25.000, conclui-se que a demanda por carne bovina tende a se elevar, e o Brasil possui capacidade para suprir a esta demanda.

Nos Estados Unidos, o sistema é de confinamento, mas também não há tanto espaço para expandir a atividade. Na Europa, os custos de produção são muito elevados. Na Austrália, não se espera grandes taxas de crescimento por conta dos problemas ligados à água que possuem, e são poucos os espaços para ocupar com pecuária.

Enfim, as oportunidades estão abertas, e talvez a coordenação produtor-frigorífico-governo seja um modelo para impedir que as portas se fechem no futuro. O agronegócio possui papel relevante no Brasil, e o setor de carnes contribui para esta posição. O setor não pode se acomodar e deixar que isso ocorra.

Chau Kuo Hue é economista e escreve mensalmente na InfoMoney.
chau.hue@infomoney.com.br