Colunista InfoMoney: BaCen precisa rever gradualismo para cumprir meta

É sumariamente necessário que o Copom reveja sua postura gradualista na execução da política monetária ao combate à alta da inflação, e cumpra com mérito seu dever de proteger o valor da moeda

Alex Agostini

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O BaCen, por meio de seu Comitê de Política Monetária (o Copom), tem aplicado uma postura gradualista no combate à alta da taxa de inflação, ao elevar a taxa básica de juro da economia (Selic) em apenas 0,50 ponto percentual nos dois encontros realizados em 2011, já sob o comando de Alexandre Antonio Tombini.

A taxa de inflação medida pelo IPCA ficou em 0,79% em março, contra expectativa média de 0,7% do mercado, e atingiu o maior nível dos últimos 8 anos para este mês, conforme divulgou o IBGE. A taxa acumulada no ano ficou em 2,44% e em 12 meses em 6,30%, aproximando-se do limite superior da meta de inflação para 2011 que é 6,50%.

A média mensal do IPCA no primeiro trimestre de 2011 foi de 0,81%, também o maior nível desde 2003 (1,68%). Porém, vale destacar que no início de 2003 a economia ainda sofria os efeitos deletérios causados pela forte desvalorização da moeda nacional frente ao dólar. Hoje, a condição é totalmente inversa, pois o real tem se fortalecido devido ao enfraquecimento do dólar e colaborado para que os preços domésticos não sofram pressão adicional, mas é importante destacar que mesmo nessa condição favorável ao controle dos preços, o IPCA acumulado no trimestre (2,44%) já representa 54,2% da meta central (4,5%) ou 37,5% do limite superior da meta (6,5%).

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Em alguns exercícios de simulação sobre o comportamento do IPCA no restante de 2011 (abril a dezembro), constatamos que o indicador deverá apresentar uma taxa média mensal de, no máximo, 0,43% para que no acumulado do ano o índice total fique em 6,5%, e essa não é uma condição impossível, porém, com grau de dificuldade não desprezível.

Para que o IPCA entre em uma trajetória cadente e convirja rapidamente para o centro da meta (4,5%), visto que o sistema de metas foca no ano/calendário, será necessário que a taxa média mensal nos 9 meses restantes seja de, no máximo, 0,22%, portanto, praticamente uma “missão impossível”, salvo a ocorrência de uma nova crise mundial, mas essa hipótese está praticamente enterrada, ao menos para 2011.


“Para que o IPCA convirja rapidamente
para o centro da meta será necessário
que a taxa média nos 9 meses restantes
seja de, no máximo, 0,22%,
praticamente uma “missão impossível” “

Nos principais canais de comunicação que a instituição utiliza para orientar as expectativas monetárias junto aos agentes de mercado, que são a Ata da Reunião do Copom e o Relatório Trimestral de Inflação, a autoridade monetária tem reiterado que a taxa de inflação irá arrefecer a partir da segunda metade deste ano, em virtude, principalmente, de a economia já sentir em maior escala os efeitos das medidas macroprudenciais adotadas no início de dezembro de 2010, bem como a elevação da taxa de juros ocorrida em janeiro e março.

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Em tempo, vale lembrar que os itens de bens de consumo duráveis que, em geral, precisam de crédito para seu consumo, representam apenas 6,13% na composição do IPCA, mas claro que a intenção com as medidas macroprudenciais e elevação do IOF é atingir toda a cadeia produtiva e relações intersetoriais para reduzir a demanda doméstica e, por tabela, os demais itens que respondem por 93,87% do índice.

Mesmo havendo defasagem entre a decisão de política monetária e seu efeito total na economia, o que deve contribuir para amenizar o ímpeto da inflação, é importante destacar que boa parte da pressão inflacionária está ocorrendo desde o início de 2010 (vale lembrar que o IPCA ficou apenas 0,6 p.p. abaixo do limite superior em 2010) e não é por fatores de curto prazo e conjunturais como, por exemplo, entressafra da carne ou da cana-de-açúcar. Ademais, os IGPs (M e DI), que são indexadores dos reajustes das tarifas de telefonia fixa e de energia elétrica (reajuste em julho em SP), deverão estar próximos a 9,5% no acumulado em 12 meses, nos meses de reajuste dessas tarifas: Telefonia o reajuste é em junho; e Energia Elétrica o reajuste ocorre em julho em SP, que representa um terço do IPCA.

O problema da alta dos preços é mundial e sua origem está tanto nos preços das commodities agrícolas, como as metálicas e minerais, sendo essa última fomentada pelo forte aumento do preço do barril de petróleo, mesmo em um momento de baixa na demanda. Logo, qualquer execução de política monetária gradualista não será suficiente para vencer a alta da inflação e, tampouco, preservar a credibilidade do sistema de metas de inflação e da própria autoridade monetária. Nesse sentido, o Banco Central Europeu, mesmo diante da situação fiscal delicada em alguns países do bloco, como Portugal, Irlanda, Grécia, Espanha e Itália, decidiu agir de forma enérgica e elevou a taxa básica de juros dos atuais 0,25% ao ano para 1,25%.

Os analistas e especialistas que semanalmente abastecem o sistema de captação de estimativas do Banco Central demonstram certo ceticismo quanto à postura e êxito da autoridade monetária no combate à inflação em alta, pois, as estimativas para o PIB de 2011 e 2012 sofrem redução do ritmo de crescimento há algumas semanas, a taxa de juros permanece inalterada em 12,25% para o final de 2011 e de 11,25% para o final de 2012, porém, as estimativas para o IPCA deste ano e de 2012 não param de se deteriorar.

Para complicar ainda mais a situação, são adicionados alguns ingredientes que reiteram a necessidade de mudança do gradualismo do BC/Copom, sendo o principal deles o combate ao “fogo amigo”, pois a Petrobras já cogita reajuste de combustíveis e o BC/Copom trabalha com a hipótese de 0% em seus modelos econométricos e, enquanto o BC/Copom tenta restringir o consumo para arrefecer os preços, o Ministério da Fazenda segue com suas benevolências fiscais ao injetar R$ 50 bilhões no BNDES e anunciar que irá cortar R$ 50,7 bilhões em gastos públicos, quando, na verdade, apenas deixará de gastar R$ 50,7 bilhões em relação ao valor inicialmente orçado, portanto, continuará com a expansão do gasto, quando comparado com o ano anterior.

Por fim, muito provavelmente o BC/Copom irá cumprir a meta de inflação em 2011, mesmo que raspando no limite superior, e conseguir convergir a taxa de inflação para o centro da meta ao longo de 2012, mas julgamos desnecessário o colegiado assumir um risco dessa magnitude. Portanto, é sumariamente necessário que o BC/Copom reveja sua postura gradualista, na execução da política monetária ao combate à alta da inflação, e cumpra com mérito seu dever de proteger o valor da moeda, ou a comemoração do 12º aniversário do sistema de metas e o primeiro ano do Governo Dilma terão um gosto amargo.

Este artigo foi escrito por Alex Agostini, economista-chefe e responsável pela área de rating de entes públicos da Austin Rating, e por Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Rating.
 

Alex Agostini escreve mensalmente na InfoMoney.

alex.agostini@infomoney.com.br