Colunista InfoMoney: As melhores oportunidades estão nas crises

Comportamento histórico do Ibovespa confirma tradução livre chinesa do vocábulo crise: junção entre "perigo" e "oportunidade"

Marcelo Smarrito

A essa altura do campeonato, todo mundo (ou quase todo mundo) sabe que a palavra “crise” em chinês é formada por dois ideogramas: “perigo” e “oportunidade”. Traduzindo: “é nos momentos de crise que surgem as melhores oportunidades”. Essa sabedoria milenar, sem dúvida nenhuma, pode e deve ser aplicada à realidade vivida pelos investidores na bolsa de valores.

Se analisarmos a evolução do Ibovespa desde a estabilização da moeda brasileira em 1993, veremos que o seu desempenho foi afetado por quatro grandes crises. O mais interessante a ser observado, entretanto, é que todas as crises tiveram comportamentos muito semelhantes e que basta o investidor fazer algumas inferências para obter benefícios concretos.

A primeira dessas crises ocorreu no final de 1994 e ficou mais conhecida como Crise do México. Um pouco antes do estopim dela, em setembro de 1994, o Ibovespa havia alcançado o pico: o índice bateu a marca recorde de 5.484 pontos. O Brasil estava com a moeda estabilizada, a Bolsa encontrava-se no auge, tudo parecia que iria dar certo.

Exatamente naquele momento, porém, o Ibovespa iniciou um movimento brusco de queda que só terminou em março de 1995, quando o índice bateu em 2.138 pontos – uma desvalorização de 61%! Quem havia comprado na máxima, só recuperou seu investimento após 15 meses, em maio de 1996. Mas o investidor que resolveu comprar ações na baixa, em março de 1995, e as vendeu 12 meses depois, acumulou um ganho de 132%. Se ele tivesse mantido as posições até o novo topo, em julho de 1997, seu ganho seria de 537%!

“Crises passadas
revelam que, após
perdas no tombo,
valorização se faz
presente

A segunda grande queda da Bolsa teve início em meados de 1997, com a Crise da Ásia. Mais uma vez, um pouco antes da crise eclodir, o Ibovespa alcançou um novo pico: em julho de 1997, o índice bateu a marca recorde de 13.617 pontos. Dali em diante, a bolsa brasileira entrou em um canal de baixa e vimos as ações despencarem, empurrada pela já citada Crise da Ásia, mas também pelo decreto da moratória russa, em agosto de 1998, e pela desvalorização cambial em janeiro de 1999.

Em meio a esse caos, o Ibovespa caiu 65%, da máxima de julho de 1997 a setembro de 1998. Quem havia comprado nessa máxima, recuperou seu investimento após 29 meses, em novembro de 1999. Mas o investidor que resolveu comprar ações na baixa, em setembro de 1998, e as vendeu 12 meses depois, acumulou um ganho de 133%. Se ele tivesse segurado até o novo topo, em março de 2000, seu ganho seria de 298%!

A terceira grande queda da Bolsa teve início em meados de 2000, com a Bolha da Internet. Um pouco antes da eclosão, em março de 2000, o Ibovespa alcançou um novo pico: o índice bateu a marca recorde de 18.951 pontos. Mais uma vez, porém, a Bolsa brasileira entrou em um canal de baixa e viu suas ações despencarem. No caso, além da Bolha da Internet, tivemos os Atentados de 11 de Setembro em 2001 e as Eleições de 2002.

Em outubro de 2002, o Ibovespa havia recuado 56% quando comparado com a máxima de março de 2000. Quem havia comprado nessa máxima, recuperou seu investimento após 14 meses, em novembro de 2003. Mas o investidor que resolveu comprar ações na baixa, em outubro de 2002, e as vendeu 12 meses depois, acumulou um ganho de 115%. Se ele tivesse segurado até o novo topo, em maio de 2008, seu ganho seria de 778%!

Por fim, a mais recente das crises, a Crise do Subprime.  Seu auge foi em setembro de 2008. Mas antes dela eclodir, em maio de 2008, o Ibovespa alcançou o maior pico até agora: o índice bateu a marca recorde de 73.516 pontos. Dali em diante, o Ibovespa iniciou um movimento brusco de queda que só terminou em outubro de 2008, quando o índice chegou a 29.435 pontos – uma desvalorização de 60%!

O investidor que resolveu comprar ações na baixa, em outubro de 2008, e as vendeu 12 meses depois, acumulou um ganho de 109%. Se ele segurar até o novo topo, quanto irá ganhar? Tudo indica que será pelo menos o dobro disso. A meu ver, é uma questão de acreditar que bolsa é para longo prazo.

Bons Investimentos e um bom Brasil para todos.

Marcelo Smarrito é diretor de Varejo da corretora Gradual, autor do livro “Desmistificando A Bolsa de Valores” e escreve mensalmente na InfoMoney.
marcelo.smarrito@infomoney.com.br