Colunista InfoMoney: Algumas dúvidas começam, mas…

Correção recente deve continuar, porém prospectos de longo prazo são animadores; oportunidades de compra em voga

Gil Deschatre

Para Bob Doll, diretor-executivo de investimentos da gestora Blackrock, a queda recente dos mercados acionários pode continuar. O executivo acredita que a retração dos principais índices da bolsa de valores norte-americana é um movimento normal, dado o alto crescimento no último ano (valorização de 60% de março a dezembro).

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Doll, um dos mais importantes investidores do mundo, comentou em sua coluna diária que a diminuição da confiança do investidor norte-americano e o estreitamento da política chinesa são alguns dos fatores que estão impactando o mercado de ações.

“Nós continuamos acreditando que o pano de fundo para o mercado de ações permanece positivo, mas a correção que temos visto nas últimas duas semanas não deve ter acabado”, falou.

Para comprovar tal assertiva, o valor de mercado de 320 empresas listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) caiu US$ 126,6 bilhões durante o mês de janeiro, de US$ 1,266 trilhão no final de 2009 para US$ 1,139 trilhão no fechamento do último mês, segundo levantamento da consultoria Economatica.

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A queda representa cerca de 10% do valor de mercado das empresas brasileiras e foi puxada pelo setor de petróleo e gás e pelos bancos, que registraram no período perda de US$ 31 bilhões (13,4%) e US$ 30 bilhões (11,7%), respectivamente.

O setor que apresentou o maior recuo percentual, de acordo com a Economatica, foi o de construção, que tinha valor de mercado de US$ 32,18 bilhões no final de 2009 e acabou janeiro com US$ 27,17 bilhões – uma variação negativa de 15,6%. A queda de ontem deve certamente piorar ainda mais tais números…

“Vá às compras nas
reações adversas,
pois
oportunidades
serão efetivas”

Temos outro senão. A nossa balança comercial vem mostrando comportamento pouco animador e o governo começa a se preparar para ajudar os exportadores. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou recentemente que “em breve” serão anunciadas medidas para estimular as exportações brasileiras. As iniciativas virão das áreas financeira, tributária e de tecnologia. Entre elas, está o financiamento para os compradores de bens de capital e máquinas fabricados no Brasil, com o objetivo de facilitar as vendas para a América do Sul.

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O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) já atua nessa área, mas ainda de forma limitada, na visão de Mantega. “Vamos ampliar, de modo que o BNDES faça isso em grande escala”, revelou em Davos, na Suíça. Técnicos dos MDIC (Ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) estão fechando as medidas do pacote, que poderão sair logo após o carnaval

E, para piorar ainda mais as coisas, o Copom já acena subida da Selic em breve. É bom lembrar que o País voltou à condição de campeão mundial dos juros reais (descontada a inflação), segundo a consultoria Up Trend. De acordo com a companhia, as taxas reais no Brasil estão em 4% ao ano, as mais altas do mundo.

O FMI (Fundo Monetário Internacional) começou a fazer advertências para os riscos da formação de bolhas especulativas, depois de observar nos seus acompanhamentos de atualização, um movimento que não constava nas suas previsões de crescimento para a economia global no relatório sobre as condições financeiras mundiais. A preocupação tem por base na grande afluência de capitais registrada por alguns países emergentes, as quais começam a suscitar inquietações em torno das pressões colocadas nos preços dos ativos e nas taxas de câmbio.

Os principais focos do FMI são as economias de países (como a China e o Brasil) em que a retomada do crescimento ocorreu mais cedo do que o previsto, dado o surgimento de oportunidades de negócio, que resultou em valorizações expressivas nas respectivas bolsas. Dessa forma, para reduzir possíveis pressões inflacionarias e diminuir o apetite dos especuladores gananciosos, o organismo internacional recomenda que os respectivos governos e bancos centrais comecem a acelerar a retirada dos estímulos na economia.

Para os economistas do Fundo, os circuitos de créditos foram restabelecidos, mas a estabilidade financeira continua fragilizada em muitas das economias desenvolvidas e mercados emergentes, que foram duramente castigados pela crise. Assim, a transferência dos riscos financeiros dos bancos para os balanços dos fundos soberanos e o aumento dos níveis de dívida pública acentuam os riscos para a estabilidade financeira e, no futuro, deverão colaborar para o desmantelamento das medidas de apoio ao setor. A encrenca observada na Europa é a ponta do fio dessa meada que pode ainda dar boas dores de cabeça…

Como alento, as instituições de análise acham quase em tom unânime que o movimento atual de pessimismo será efêmero. Como exemplo, em seu relatório de estratégia para o mercado latino-americano divulgado na última segunda-feira (25), a equipe do Citigroup manteve a recomendação “overweight” (exposição acima da média do portfólio) para as ações do mercado brasileiro e chileno, sustentando também a recomendação “neutra” para o México.

Apesar do otimismo com o desempenho da economia global para este ano, em particular com os mercados emergentes, os analistas pedem muita atenção para o investidor em relação ao movimento dos bancos centrais na questão da retirada dos estímulos monetários. Segundo a equipe, o pullback de 9% verificado recentemente nos mercados latino-americanos, em função das restrições de crédito na China, será recorrente ao longo deste ano, diante da expectativa do aumento da taxa básica de juro por parte dos bancos centrais mundiais, com especial atenção ao Federal Reserve.

Em suma, aproveitem para comprar nas reações adversas, pois que as oportunidades serão realmente efetivas. Vale lembrar que os targets de 80.000 pontos para o Ibovespa no ano corrente ainda continuam ativos.


Gil Ari Deschatre é professor da FGV e do Ibmec e escreve mensalmente na InfoMoney.
gil.deschatre@infomoney.com.br