Colunista InfoMoney: Abalado, porém bem ativo…

EUA sofreram diversas baixas, vide déficit crescente e aumento do desemprego; cotnudo, não se apostar contra recuperação da maior economia do mundo

Ingo Plöger

Os EUA apresentaram seus resultados econômicos de 2009 e, depois de muitas décadas, foram muito aquém do comportamento da primeira economia mundial: seu PIB em 2009 decresceu 2,3%, seu endividamento cresceu em 3,1 trilhões de dólares, sua balança comercial apresentou um déficit de 36,4 bilhões de dólares.

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A produção de automóveis foi declinante, o mercado imobiliário, que entrou em colapso, mantém baixo nível de atividade. Ainda que os primeiros sinais de uma estabilização, a um baixo nível, se fazem notar, o desemprego continua aumentando.

A primeira economia mundial está abalada e seu sistema financeiro ainda não está estruturado para uma evolução estável. Embora apresente resultados bem melhores do que o esperado, os métodos e os produtos são similares aos anteriormente utilizados, mesmo que sem a agressividade anterior.

A administração Obama, que iniciou com grande prestígio, conseguiu reformular, no primeiro ano, o sistema de saúde dos americanos e estancar o dreno maior de sustentação de bancos e de setores estratégicos como o automotivo, o aeronáutico e o naval, entre outros.

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O custo do endividamento foi grande e os primeiros sinais de recuperação demonstram que alguns anos se passarão antes de o governo recuperar uma boa parte desses empréstimos. O dólar fraco reduz o prestígio americano e, no longo prazo, induz outras economias a saírem em busca de outras opções.

Este quadro evidencia uma potencia econômica e política abalada. No entanto, observamos que os agentes da economia e da política americana não esmoreceram, mas se mostram com vigor de recuperação e de posicionamentos estratégicos relevantes.

“Fazer uma aposta
contra os EUA é
certamente um
erro fundamental

Na economia, há sinais de recuperação no setor automotivo, no qual os esforços, tanto da Ford como da GM, renderam mais frutos do que o prognosticado. Vemos uma tendência maior para veículos menos potentes e mais econômicos; o endividamento particular parece ter recebido um recado forte de que existem limites; e a recuperação da renda e emprego, mesmo com juros muito baixos, pode significar a inadimplência familiar.

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Para uma sociedade de consumo sofisticada como a americana adquirir novos hábitos de consumo, só mesmo com uma crise mais prolongada e com medidas gerais de conscientização nacional. Assim, o alto consumo energético, as implicações ambientais, os limites de ganhos excessivos (como os bônus bancários) versus as questões sociais mal resolvidas, implicam em novas atitudes.

O desestimulo à poupança e o consumo indiscriminado de produtos vindos da Ásia, de valor cada vez mais atrativo, levam ao desemprego estrutural. Aumenta o sentimento (que nos EUA pode ser muito forte) do “buy American”, o que pode culminar em barreiras de preferência. Mesmo ponderando estas macrotendencias difíceis de mudar em curto espaço de tempo, a sociedade americana debate as essencialidades.

O sistema de saúde, por exemplo, contradiz o princípio americano de dar oportunidades a cada um, sendo ele próprio o responsável por sua segurança econômica, saúde e previdência. Entra em questão a participação do Estado no bem estar mínimo do cidadão, por um contrato social.

Os americanos recompõem os limites de seus valores, impondo limites à liberdade, à questão das mínimas garantias e ao bem comum; é Wall Street versus Common Street; é a ganância versus a solidariedade social. Este debate é muito saudável para uma sociedade que por muitos anos tem vivido além dos limites da normalidade, com uso desenfreado de sua energia, com geração indiscriminada de riqueza financeira sobre a riqueza produzida pela economia de trabalho e produção, pelo uso indiscriminado de sua moeda como referência mundial, podendo se endividar sabedora de que os credores não são apenas o povo americano, mas muitas economias mundiais que mantém o dólar como referência.

Em tudo isso se vê mudanças ocorrendo. A administração Obama mantém em curso o pragmatismo político de realização do possível. A questão política de primeiro valor para esta administração era realizar a reforma do sistema de saúde do país. Em segundo lugar, agora, é recuperar o sistema econômico realizando as reformas necessárias. Em terceiro lugar, é mudar a mentalidade americana da energia do petróleo para as energias alternativas.

O primeiro objetivo foi razoavelmente alcançado. O segundo, como comentado, está em curso, principalmente depois de ter recebido o apoio de Paul Volker para iniciar novamente um processo de redução do sistema financeiro, quem sabe por uma retomada da antiga divisão de bancos de investimentos e bancos comerciais, com regulamentações e controles específicos.

Já na terceira, foi decepcionante a atuação dos EUA em Copenhagen, mas não me surpreenderia se os EUA saíssem liderando este processo no México. Obama não queria realizar o mesmo ato de Clinton, que assinou o Protocolo de Kyoto e não conseguiu ratificá-lo no Congresso; preferiu sair chamuscado em Copenhagen, para dividir o ônus desta imagem com a sociedade americana e conseguir, em 2010 no Congresso, a terceira aprovação relevante de seu governo.

Pragmatismo na política, a volta à Realpolitik, de Helmut Schmidt, Valéry Giscard d’Estaing, Gerald Ford, parece ser uma tônica na política de Obama. Sua atuação junto à Rússia, no difícil tema do desarmamento, conseguiu postergar o tema para alguns meses à frente, deixando espaço para realizar significativos avanços na redução do armamento nuclear.

Sua atuação na América Latina, tão criticada pela não política, acaba de obter duas relevantes conquistas: a de Honduras, que se não foi uma solução ideal foi pragmática e com resultado de pacificação através de eleições, e a do Haiti, pela sua vigorosa atuação, não deixando dúvidas em relação à sua ajuda e sua influencia no processo, autorizada pelo próprio presidente do Haiti.

A grande potencia econômica e política pode estar abalada, mas, longe de estar imobilizada ou sem poder de atuar, parece sim que está bem ativa em suas essencialidades.

Fazer uma aposta contra os EUA é certamente um erro fundamental; o povo americano sempre demonstrou enorme vigor de reação. Subestimá-lo é como apostar que, em um filme de John Wayne, esse acabaria sendo vencido…

Ingo Plöger é empresário, engenheiro economista, conselheiro de empresas nacionais e internacionais e presidente da IP Desenvolvimento Empresarial Institucional. Escreve mensalmente na InfoMoney.
ingo.ploger@infomoney.com.br