Colunista InfoMoney: A inovação tecnológica no Brasil em cana-de-açúcar

Com a crescente importância da produção do etanol, País elevou produtividade do cultivo, porém ainda está longe do ponto ótimo

Adriana C. P. Vieira

Nos últimos anos, cresce a importância da produção do etanol (hidratado e anidro) no Brasil. Conseqüentemente, o país consolidou a sua posição de liderança na produção global de açúcar e etanol, tornando-se um ator chave no mercado internacional. A experiência brasileira com etanol de cana-de-açúcar é o mais bem sucedido programa de combustível alternativo desenvolvido.

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Os avanços da cultura da cana-de-açúcar no Brasil são motivados por uma série de fatores conjunturais e estruturais. Entre os fatores conjunturais, destacam-se a entrada dos carros flex fuel no mercado interno brasileiro, elevando a demanda pelo etanol, e os preços favoráveis no mercado internacional do açúcar.

Estes dois fatores incentivaram os investimentos no setor sucroalcooleiro no Brasil em diversas regiões brasileiras, inclusive em regiões consideradas de fronteira agrícola, como o Centro-Oeste. O fator estrutural que favoreceu o avanço desta cultura no Brasil foi a mudança no paradigma ambiental quanto a composição da matriz energética no mundo em direção a uma matriz mais limpa com a utilização de combustíveis renováveis.

Segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar – UNICA, o cultivo ocupa cerca de 7 milhões de hectares, ou cerca de 2% de toda a terra arável do País, que é o maior produtor mundial, seguido por Índia, Tailândia e Austrália. As regiões de cultivo são Sudeste, Centro-Oeste, Sul e Nordeste, produzindo açúcar e etanol para os mercados interno e externo.

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A diversidade do mercado consumidor para os produtos industrializados da cana-de-açúcar favorece o interesse em elevar a produtividade desta cultura no Brasil. Um das principais linhas de pesquisa desenvolvidas pelos agentes do setor sucroalcooleiro é a criação de variedades mais resistentes e produtivas tanto nas regiões consolidadas, quanto para as regiões não tradicionais no cultivo da cana-de-açúcar. 

Nos últimos anos, o cenário agrícola brasileiro tem mudado, com o aumento da produção de cana-de-açúcar para a produção de etanol e álcool, principalmente em razão da crise do petróleo e a emergência de novas fontes de energia.

Dadas as possibilidades reais do etanol no mercado de energias renováveis, foram intensificados os Programas de Pesquisa no Brasil, possuindo atualmente uma área ocupada que corresponde 11% da área total produzida no País (veja figura ). Em 2005, esta cultura representava 9,4% da área de lavouras temporárias. Já em 2007, esta participação é de 11,9%. 

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Fonte: elaboração própria com dados IBGE/SIDRA, 2009

A produção mundial de álcool aproxima-se dos 40 bilhões de litros, dos quais se presume que até 25 bilhões de litros sejam utilizados para fins energéticos. O Brasil responde por 15 bilhões de litros deste total. Com as políticas internacionais de adição de álcool anidro à gasolina, o álcool é utilizado em mistura com gasolina no Brasil, EUA, UE, México, Índia, Argentina, Colômbia e, mais recentemente, no Japão.

Entretanto, o uso exclusivo de álcool como combustível está concentrado no Brasil. Na safra 2008-2009, o Brasil exportou 4,721 bilhões de litros de etanol, de 27,506 bilhões de litros produzidos, por um valor US$ de 2,233 bilhões, segundo dados da ÚNICA.

A crescente demanda por energia renovável aumenta, significativamente, a importância das ações do setor. Conseqüentemente, cresce a importância de P&D, através de pesquisas integradas e do trabalho de uma equipe interdisciplinar de pesquisadores e profissionais para melhorar a produtividade da cultura, e inserir o país na liderança no desenvolvimento de tecnologia. E a proteção da inovação de produtos e processos tornou-se um instrumento imprescindível para as ações estratégicas de empresas de pesquisa públicas e privadas, nacionais ou multinacionais.

“Brasil precisa elevar
a produtividade das
lavouras cultivadas

No SNPC (Serviço Nacional de Proteção de Cultivares), constata-se que há 86 cultivares de cana-de-açúcar protegidas, em março de 2010, lideradas por empresas Coopersucar/CTC, com 47 cultivares protegidas, seguida pela Ridesa, com 26 cultivares protegidas, Instituto Agronômico de Campinas (IAC) com 6 cultivares protegidas, CanaVialis com 5 cultivares protegidas e, Agropav Agropecuária Ltda e Usina da Barra S/A com 1 cultivar protegida.

De acordo a CTNBio, CTC, Allelyx, Basf e Bayer CropScience enviaram, entre 1999 e 2009, 73 pedidos de autorização para a realização de pesquisas com cana transgênica no País, tanto em laboratório como em lavouras. Esses dados comprovam a crescente importância que a cadeia da cana-de-açúcar tem para o desenvolvimento econômico brasileiro.

A pressão pela utilização de terras agricultáveis no Brasil demonstrou que há uma crescente necessidade de elevar a produtividade das principais lavouras cultivadas no país. Esta seria a alternativa mais viável para diminuir as pressões sobre a ocupação de áreas consideradas de reserva ambiental ou de proteção.

Para isso, a tecnologia poderá contribuir amplamente, principalmente com novas cultivares de cana-de-açúcar. A cana-de-açúcar tem uma utilização intensa do fator terra e no Brasil pelas características da atividade industrial geralmente é desenvolvida em grandes áreas contínuas de produção. A elevação da produtividade da cana-de-açúcar é um das estratégias que tem sido defendida pelos diversos setores produtivos do País.

Esta nova realidade do setor sucroalcooleiro alicerçada nos avanços tecnológicos em direção a novas variedades e cultivares motivou que empresas multinacionais iniciassem um processo de aquisição de empresas brasileiras que já detinham algum tipo de tecnologia para o setor na área agrícola.  Esta entrada de empresas multinacionais deve-se a regulamentação dos direitos de propriedade intelectual no Brasil.

A criação do marco regulatório do setor de cultivares no Brasil criou um ambiente propício para os investimentos privados no setor sucroalcooleiro. Com a diminuição dos riscos inerentes ao processo de comercialização destas cultivares e pela institucionalização das formas de pagamento pela utilização das tecnologias, as empresas aumentaram seus investimentos nesta área.

Entende-se que este fator será essencial para que o setor sucroalcooleiro mantenha sua competitividade num cenário internacional de maior ofertante de etanol. 

Este artigo contou com a colaboração de Divina Aparecida Leonel Lunas Lima.

Adriana Vieira é mestre em Direito, doutora em Economia pela Unicamp, pós-doutoranda no Instituto de Geociências da Unicamp e escreve mensalmente na InfoMoney.
adriana.vieira@infomoney.com.br