Colunista InfoMoney: a inflação no terceiro trimestre de 2010

Apesar de projeções contrárias, preços mantiveram-se estáveis, muito em função do câmbio e do resquício de crise lá fora

Ricardo André Jacomassi

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Os dados divulgados em setembro pelos institutos de pesquisa confirmaram a expectativa da volta do aumento da inflação. Entretanto, dúvidas restam para compreender o que aconteceu com os preços no terceiro trimestre de 2010.

A coluna de setembro buscou explicações para demonstrar que o arrefecimento da inflação foi orquestrado por uma conjunção de fatores internos e externos conjunturais de curto prazo que envolveu a dinâmica da economia brasileira.

Após a antecipação da produção e do consumo no primeiro trimestre de 2010, os demais meses foram levados a dissipar o efeito como pode se observar através da PMC (Pesquisa Mensal do Comércio) divulgada pelo IBGE, ao realizar o alisamento via média móvel trimestral.

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Atrasado em dois meses em relação à PMC, o alisamento da MMT da produção, medido pela PIM-PF (Pesquisa Industrial Mensal Produção Física) divulgada pelo IBGE, deverá sofrer reversão em outubro de acordo à previsão elaborada, ou seja, a linha da PIM deverá corta a linha da sua MMT.

Justificado os comportamentos da oferta e da demanda, os argumentos para uma provável aceleração dos preços ganharam notoriedade ao longo do segundo trimestre entre os economistas. Porém, no decorrer dos meses observou-se uma estabilidade constante, contrariando a maioria dos agentes. Para o IPCA, principal indicador observado pelo Banco Central, os resultados foram: 0,0% em junho; alta de 0,01% em julho; e alta de 0,04% em agosto.

“A miopia econômica
não deve ser seletiva
apenas aos efeitos
da economia monetária”

Diante deste contexto, as expectativas para os preços em 2010 e 2011 foram amplamente revisadas e o principal argumento foi direcionado para o efeito das altas nas taxas de juros realizadas pelo BC nas reuniões passadas e os efeitos do fim dos incentivos fiscais. Erro generalizado para este argumento.

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Mesmo com as determinantes da demanda em crescimento sustentável, como a ampla criação de emprego formal, aumento da renda e elevação do crédito, e a utilização da capacidade instalada da indústria em nível pré-crise, os preços mantiveram-se blindados.

De acordo com a análise feita em todas as variáveis macroeconômicas, observei que três fatores internos e um externo foram os principais responsáveis para o arrefecimento dos preços.

Os três fatores internos foram: câmbio apreciado, alta das importações e aumento da produção agrícola. O fator externo é resquício da crise econômica internacional e diz respeito ao excesso de oferta mundial de bens industrializados.

A valorização do Real perante as demais moedas foi intensificada ao longo dos últimos nove meses e contribuiu para o aumento das importações brasileiras. Além da força do Real, o excesso de oferta global de bens industrializados, que jogou os preços internacionais para baixo, também ampliou a entrada de importados. No acumulado dos oito primeiros meses de 2010, as importações elevaram-se em 46,6%, enquanto as exportações cresceram apenas 28,8%. Dessa forma, é válido afirmar que as importações supriram sensivelmente a demanda do mercado interno e favoreceram a estabilidade dos preços da economia doméstica.

Além disso, a oferta de alimentos foi amparada por uma estimativa em torno de 10% de crescimento da produção agrícola. Com a maior oferta da produção da agricultura brasileira, as pressões nos preços dos alimentos foram em quase sua totalidade de caráter de queda.

Estas condicionantes foram essenciais para a manutenção dos preços. A miopia econômica, portanto, não deve ser seletiva apenas aos efeitos fiscais e particulares da economia monetária, como a política de juros.

De fato, tem que ser levada em consideração o efeito do câmbio apreciado e suas influências na oferta interna de bens e serviços. Além disso, os preços internacionais não apresentaram com certa confiança a trajetória de alta, salvo algumas commodities, devido o baixo crescimento da economia mundial.

Os vetores indicados acima deverão “presentear” a estabilidade dos preços no curto e médio prazo. Seria este o momento ideal para as principais autoridades da construção da política econômica desenvolverem uma nova roupagem para a economia? Talvez, pois o pleito eleitoral não deverá oferecer a eficiência e o desenvolvimento de que a economia brasileira carece.

Ricardo Jacomassi é economista, professor e estrategista de investimentos e escreve mensalmente na InfoMoney.
ricardo.jacomassi@infomoney.com.br