Colunista InfoMoney: a difícil tarefa de fazer previsões

Vez ou outra acertamos na mosca, mas esta não é a regra; com tantas variáveis, o importante é atentar para as tendências

Chau Kuo Hue

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Muitas pessoas que fazem parte do mundo corporativo devem, a cada ano, realizar projeções sobre vendas futuras e demanda quantitativa através de dados de mercado como os da Nielsen, IBGE, FGV, dentre muitos outros. Aqueles cuja tarefa é a de olhar para a bola de cristal e prever – dentro de um intervalo de confiança – o futuro das variáveis em foco, sabem o quão difícil é executar a tarefa.

Vamos pegar um exemplo. Digamos que você seja um grande produtor de carne bovina, e queira prever o preço futuro do boi gordo ou magro. Como o boi gordo é a principal matéria-prima da sua companhia, nada mais organizado e planejado do que tentar observar o que irá acontecer com o valor da arroba nos próximos 3 ou 12 meses, de modo a decidir se efetua uma operação de hedge ou não.

Uma das primeiras variáveis a se olhar é o tamanho do rebanho bovino brasileiro. E aqui já começa a dor de cabeça. Por quê? Porque há duas instituições que divulgam a estimativa para o rebanho brasileiro, a AgraFNP e o IBGE. A diferença entre os números dos dois órgãos é significativa, então, vem à cabeça a seguinte questão: qual deles utilizar? Obviamente, cada instituto defende a sua metodologia e resultado, logo, é necessário parcimônia na hora da escolha. Mas, e se nenhuma das duas pesquisas estiver divulgando dados próximos da realidade?

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 “Um erro em uma variável
 inevitavelmente acarreta
mudança em outra, formando
 uma bola de neve que, no 
acumulado, leva a um
grande desvio”

A dúvida procede, já que ao estimar o tamanho do rebanho, a taxa de desfrute e a produção de carne futura, você ainda deveria realizar projeções de duas outras variáveis: as exportações e a demanda doméstica.

Porém, as vendas externas de carne bovina brasileira dependem da oferta internacional, devendo-se acompanhar de perto a evolução da produção da Austrália, Argentina e Estados Unidos. Assim, seria necessário mais esforço ainda para acompanhar os mercados nesses países. E quando digo mercados, não me refiro simplesmente à oferta, mas também à demanda, à taxa de câmbio, às ingerências governamentais e ao boi no campo.

Além da oferta internacional, deve-se prever o que acontece nos países importadores. Será que a demanda por carne bovina na Rússia subirá em 2011? Será que algum país deve abrir seu mercado para a carne bovina brasileira? A China está aumentando o consumo per capita de carne bovina à medida que a renda cresce?

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Uma vez respondidas todas as perguntas acima, sobre oferta e demanda tanto doméstica quanto internacional, você se depara com outro problema: o percentual de elevação/queda do preço do boi (gordo ou magro). Dúvida cruel: seriam 15% ou 5%?

No final das contas, os desvios dos preços observados acabam sendo maiores do que as suas projeções, já que um inesperado clima frio e seco acabou prejudicando os pastos, ou então uma nova doença foi descoberta, acabando por prejudicar as exportações, aumentando a oferta interna e derrubando os preços.

Quando realizamos projeções de médio prazo, muitas variáveis são dinâmicas e correlacionadas. Isso quer dizer que o erro em uma variável inevitavelmente acarreta mudança em outra, formando uma bola de neve que, no acumulado, leva a um grande desvio do comportamento do preço em relação à sua projeção anteriormente feita.

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Não há como acertar de forma precisa um valor. Entretanto, as tendências são passíveis de acerto, e considero que sejam mais importantes. Uma vez ou outra podemos acertar na mosca, mas não se iluda de que esta será a regra. Todo o trabalho de se traçar projeções deve ser um prazer em si, além de estar ciente de que foram observadas todas as variáveis possíveis, e não tanto o número final, pois, em muitas das vezes, é de fato uma tarefa semelhante a olhar para uma bola de cristal.

Chau Kuo Hue é economista e escreve mensalmente na InfoMoney.
chau.hue@infomoney.com.br