Coluna InfoMoney: Aumento do Estado na economia e âncora do comércio mundial

Maior intervenção proposta por candidata da situação ignora ineficiência da máquina pública; exportadores sofrem

raphaelcastro

Embora não oficialmente, já faz um tempo que se observam movimentações direcionadas às eleições de 2010. Como não poderia ser por menos, a economia – carro chefe deste governo que se encerra – tem peso expressivo na corrida eleitoral não declarada.

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 Nos discursos da candidata do governo ecoa a questão da presença forte do Estado na economia. Leia-se: aumentar ainda mais o seu tamanho, sob o subterfúgio de que ele desempenharia um papel estimulador, criador e financiador – mais do que o animal spirit keynesiano – para a economia brasileira.  E, principalmente, seria como uma catapulta à inserção da economia Brasileira no comercio mundial. Não creio que essa seja a melhor opção para o caso brasileiro. E todos pagam a conta.

 

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O Brasil já possui uma carga tributária próxima a 40% do PIB. Esse nível é próximo aos dos países escandinavos, onde o serviço público é notório por sua qualidade e presteza, sobretudo a educação. Já no Brasil, a nossa educação pública é uma lástima, para não dizer das questões ligadas à saúde. A classe média em geral gasta, além de pagar todos os impostos, uma quantia nada desprezível do seu orçamento em educação. Isso do ponto de vista das Famílias, do lado da demanda da economia. E vale ressaltar que a educação é unanimidade entre os economistas com um dos principais fatores de propulsão do crescimento econômico de longo prazo.

 

“Ampliar a presença
de um Estado sem
eficiência, como o
brasileiro, é um
equívoco”

Do lado produtivo, da indústria, por exemplo, tem se o famigerado custo Brasil. Já o explicitei em outras oportunidades. Mas em resumo: consiste no excesso de carga tributária, na péssima infraestrutura do país e na pesada estrutura burocrática (por vezes irracional e com fins duvidosos). Esse peso já vem há tempos, faz parte do nosso atraso e nos liga ao pior da nossa história: direcionar o bem público a interesses privados.

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Em outras palavras: não temos a consideração ao que é de todos; o que também pertence ou afeta ao próximo. Há anos suportando e se enganando com o custo Brasil, atualmente o setor industrial, sobretudo o exportador, sofre ainda mais com a valorização da taxa de câmbio e com uma demanda externa arrebentada pela crise. A atividade internacional tem mostrado sinais de uma recuperação lenta, ou pelo menos abaixo do ritmo que se pensou. Entretanto a valorização cambial provavelmente não deverá ser revertida no curto prazo.

 

Além disso, observa-se uma forte especialização das nossas importações, sobretudo em commodities. Pois essas são mais rentáveis (tem menor incidência de impostos do que um bem produzido aqui) e são mais competitivas mundialmente. Os países querem commodities com o intuito de fabricar um produto de maior valor agregado e depois exportá-lo ou comercializá-lo em seu próprio país. 

 

Não sou partidário da tese da desindustrialização, acho radical demais. Contudo, tenho que concordar que cada vez mais os bens básicos (de menor valor agregado) tem ganhado mais peso nas nossas exportações. Assim como os produtos manufaturados do Brasil tem perdido espaço na pauta de importações dos principais parceiros comerciais.

 

Utilizar a situação atual do setor industrial, sobretudo exportador, para servir de exemplo de como é necessária a maior presença do estado não passa de oportunismo retórico. Se o Estado vai aumentar sua participação na economia isso se traduzirá de duas uma: ou a arrecadação deve aumentar, ou sua dívida aumentará (com potencial inflacionário), compensada por eventual aumento da taxa de juros (que favorece a apreciação cambial). Não existe passe de mágica.

 

Todavia, podemos refletir sobre o Estado brasileiro nos últimos anos. Sem dúvida foi e continuará sendo importante. Mas seu tamanho não condiz com o que ele nos provém ou deixa de prover, muito menos para o caso do setor exportador. Se há deficiência competitiva não é o setor em si. E isso, me parece, que é senso comum.  O problema é a âncora do Estado, que já é muito grande e custosa. O nosso Estado é que é menos eficiente do que os Estados de outros países. Tenderia a pensar que deixá-lo ainda maior só pioraria a situação – ainda mais para o setor exportador.

 

Raphael Castro é economista e escreve mensalmente na InfoMoney, às quartas-feiras.
raphael.castro@infomoney.com.br