Cielo tem bom resultado no 2º trimestre, mas desafios de longo prazo permanecem, avaliam analistas

Aumento da concorrência, estrutura acionária da companhia e open banking devem seguir no radar e justificam cautela dos analistas para os papéis

Mariana Zonta d'Ávila

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SÃO PAULO – A Cielo (CIEL3) reportou seus resultados referentes ao segundo trimestre deste ano, revertendo prejuízo líquido de R$ 75,2 milhões, para lucro de R$ 180,4 milhões, na base de comparação anual.

Na avaliação de analistas do mercado financeiro, os números mostram uma continuidade no processo de retomada de crescimento da companhia, com dados sólidos. O ambiente de aumento da concorrência, contudo, segue pesando sobre a tese de investimento, levando a uma análise mais cautelosa dos papéis na Bolsa.

Para o Bradesco BBI, o principal destaque do balanço foi a recuperação dos volumes, com aumento de 3,3% em relação ao trimestre anterior (e de 29% ano sobre ano), com um melhor mix de crédito no período – ainda que abaixo de seu par Rede. A percepção é de que o mercado deve ter uma reação positiva dos resultados nesta terça.

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As ações CIEL3 abriram o pregão desta terça-feira (2) com alta de 2,9%, a R$ 3,57. Os papéis encerraram o pregão em leve queda de 0,58% na B3, negociados a R$ 3,45.

Os analistas do Bradesco BBI avaliam que as ações não estão caras, sendo negociadas a 11,1 vezes o preço sobre lucro para 2022. “Por outro lado, acreditamos que o mercado queira ver melhorias operacionais mais fortes antes de se tornar mais construtivo sobre o caso de investimento da companhia”, escreve o time.

O banco tem posição neutra nos papéis CIEL3, com preço-alvo de R$ 3,90.

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Em relatório, a XP também interpreta os números registrados pela companhia entre abril e junho deste ano como positivos, com lucro recorrente acima do esperado pelo mercado.

Entre os principais destaques positivos, os analistas citam os volumes – impulsionados pela retomada da atividade econômica –, bem como a queda de gastos, com a companhia seguindo com a agenda de ganho de eficiência operacional.

Devido ao cenário competitivo ainda desafiador para a companhia, contudo, os analistas mantiveram a recomendação neutra para os papéis da Cielo, com preço alvo de R$ 5,00 por ação.

O mesmo acontece com o Morgan Stanley, que reforça o melhor desempenho do lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) e do lucro líquido da empresa no período, mas que desafios ainda pesam sobre a Cielo.

O banco tem recomendação equal-weight (performance em linha com o mercado) para as ações CIEL3 e preço-alvo de R$ 4,00.

Ventos contrários

Apesar dos bons sinais no balanço, como volume transacionado, receita e lucro líquido acima do esperado, analistas seguem observando desafios significativos para a Cielo no longo prazo.

Na avaliação do Itaú BBA, a companhia enfrenta uma “batalha complexa”, que passa pela competição com players que têm mostrado um nível de dinamismo maior em seus negócios.

Além disso, os analistas do banco veem a atual estrutura acionária da companhia como um limitador de velocidade para as mudanças estratégicas necessárias.

Neste cenário, o Itaú BBA tem recomendação market perform (performance em linha com o mercado) para os papéis CIEL3, com preço-alvo de R$ 5,20 para 2021.

O Credit Suisse tem avaliação semelhante, destacando que a dinâmica provavelmente permanecerá desafiadora com o aumento da concorrência da Stone e Linx, além de uma potencial pressão competitiva proveniente das câmaras de contas a receber “que agora estão totalmente funcionais”.

O time de análise afirma, contudo, que os sólidos resultados do segundo trimestre, com sinalizações de melhoria nas tendências, devem promover um alívio para as ações na Bolsa – que têm apresentado queda nas últimas semanas –, principalmente devido ao valuation descontado de 13 vezes o preço sobre lucro.

Já a casa de análise Levante lembra que a Cielo vem perdendo consistentemente participação no mercado e que, para conseguir se manter competitiva, a companhia teve que ajustar seus preços para baixo nos últimos anos. Isso fez com que a receita extraída por volume transacionado (revenue yield), que chegou a 1,17% no primeiro trimestre de 2019, caísse para 0,71% nos últimos três meses.

“Mesmo com as perspectivas positivas quanto à retomada da economia, a Cielo ainda precisa superar diversos obstáculos para conseguir consolidar uma trajetória de crescimento novamente. O avanço no cronograma do open banking também deve se mostrar um grande desafio nos próximos trimestres, trazendo vantagens competitivas para empresas mais desenvolvidas do ponto de vista de tecnologia”, escrevem os analistas.

Isso porque o compartilhamento dos dados de recebíveis dos clientes com outras instituições financeiras possibilitará que o adiantamento dos recebíveis não seja mais de exclusividade da adquirente, colocando em risco uma das principais fontes de receita da companhia, aponta o time da Levante.

De acordo com compilação da Refinitiv, de quatorze casas que cobrem o papel, nove possuem recomendação de manutenção, três de venda e apenas duas de compra. O preço-alvo médio é de R$ 4,12, alta de 18,73% em relação ao fechamento da véspera.

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